Eu já aprendi que nada se repete da mesma forma. Um rio que corre à minha frente, a cada momento que eu olho são novas aguas que fluem, é um novo barco que vai, uma folha que flutua... enfim, sempre será um novo rio que estou olhando. Assim acontece com os livros que leio. Cada vez que o pego para ler novamente, novas interpretações surgem em minha mente, é como se um novo livro eu estivesse pegando. Acredito que tudo isso seja sabedoria para meu intelecto e amadurecimento para a minha alma.
Agora estou vendo no calendário: dia 29-11-15, primeiro domingo do advento. Certamente eu tenha visto essa informação muitas vezes, nos 63 anos de minha existência. Porém hoje me despertou um significado importantíssimo dentro do meu amadurecimento. Hoje é o primeiro domingo que a humanidade cristã dedica à espera do Mestre Jesus, aquele enviado por Deus para nos ensinar sobre a luz do Amor.
Recebe, pois, o nome de “advento”, as quatro semanas antes do Natal. Passei então a dar novo significado a este domingo, dentro dos conhecimentos adquiridos e que considero como Verdade. Passo então a evocar a dupla vinda do Mestre: a primeira quando Ele veio ao mundo de forma material em Belém, há 2015 anos, e a segunda, na forma espiritual, em 18-04-1857, com a primeira publicação de “O Livro dos Espíritos”.
Na primeira vinda do Mestre de forma material, ele foi gestado no útero de Maria, uma jovem de boa índole, educada dentro da vida religiosa, com pais tementes a Deus, e por isso foi a escolhida em tão importante missão para o plano espiritual, ajudada pelos Espíritos Perfeitos na forma de anjos.
Na segunda vinda, o Mestre veio de forma espiritual, sem uma identificação formal como Jesus, mas se identificando como o Espírito da Verdade ou Espírito de Verdade, na primeira obra da codificação da doutrina dos Espíritos, tudo orquestrado por Ele, com a participação de diversos Espíritos de escol, como uma forma de gestação.
Allan Kardec, pseudônimo de Hippolyte Léon Denizard Rivail, foi um influente educador, autor e tradutor francês, notabilizou-se como o codificador do Espiritismo, um neologismo criado por ele. Nessa época existia muita manifestação de Espíritos em várias partes do mundo e as pessoas encaravam os fenômenos como uma coisa fantástica, mais lúdica do que séria. Foi Allan Kardec quem observou que existia uma inteligência diferente por trás das respostas obtidas e resolveu usar dos seus conhecimentos como educador, e disciplina de um pesquisador para estudar a natureza desses fenômenos.
Ele conta no livro Obras Póstumas, como foi o seu primeiro encontro com o que chamava de Espírito Familiar e que perguntou educadamente:
- Consentirás em dizer-me quem és?
- Para ti, chamar-me-ei A Verdade.
E o diálogo continua e, como era da personalidade de Kardec, ele não se basta com as perguntas enquanto não se desse por satisfeito com as respostas. Ele volta a indagar:
- O nome Verdade, que adotaste, constitui uma alusão à verdade que eu procuro?
- Talvez; pelo menos é um guia que te protegerá e ajudará.
Kardec volta a questionar, buscando identificar o Espírito:
- Terás animado na Terra alguma personagem conhecida?
- Já te disse que, para ti, sou a Verdade; isto, para ti, quer dizer discrição; nada mais saberás a respeito.
O diálogo com o Espírito da Verdade termina com a pergunta de Allan Kardec sobre a proteção que teria:
- Disseste que serás para mim um guia, que me ajudará e protegerá. Compreendo essa proteção e o seu objetivo, dentro de certa ordem de coisas; mas, poderias dizer-me se essa proteção também alcança as coisas materiais da vida?
- Nesse mundo, a vida material é muito de ter-se em conta; não te ajudar a viver seria não te amar.
Nas belas e exatas respostas do Espírito da Verdade, Kardec informa em outro momento em nota que é transcrita na íntegra:
“A proteção desse Espírito, cuja superioridade eu estava longe de imaginar, jamais, de fato, me faltou. A sua solicitude e dos Espíritos que agiam sob suas ordens, se manifestou em todas as circunstâncias da minha vida, quer a me remover dificuldades materiais, quer a me facilitar a execução dos meus trabalhos, quer, enfim, a me preservar dos efeitos da malignidade dos meus antagonistas, que foram sempre reduzidos à impotência. Se as tribulações inerentes à missão que me cumpria desempenhar não me puderam ser evitadas, foram sempre suavizadas e largamente compensadas por muitas satisfações morais gratíssimas.”
Por esse comentário, entende-se que, no momento certo o Espírito da Verdade identificou-se para Kardec, que guardou a discrição que lhe foi solicitada, entretanto, deixou as pistas, identificando o Espírito da Verdade como Jesus Cristo, em vários momentos, nas obras da Codificação.
Na menor resposta que existe em O Livro dos Espíritos e a de maior grandeza, a de número 625, quando as Entidades Sublimadas responderam à pergunta de Kardec
- Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo?
- Jesus.
Kardec tece comentários – Para o homem, Jesus constitui o tipo da perfeição moral a que a humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-Lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei do Senhor, porque, sendo Ele o mais puro de quantos tem aparecido na Terra, o Espírito Divino o animava.
Posteriormente, no livro “Gênese”, Kardec escreve: “O Espiritismo realiza todas as promessas do Cristo a respeito do Consolador anunciado. Ora, como é o Espírito de Verdade que preside ao grande movimento de regeneração, a promessa da sua vinda se acha por essa forma cumprida, porque de fato, ele é o verdadeiro Consolador.
Portanto, hoje é o primeiro domingo que tenho essa compreensão tão ampla desta data, e das responsabilidades que cada vez mais vou percebendo com a carga de conhecimentos que vou adquirindo.
Esta reflexão que fiz agora não pode morrer comigo, pois a adquiri a custa de muita gente que também refletiu assim e deixou registrado de alguma forma para que chegasse até a minha consciência. Também sou professor, portanto devo preparar essa minha nova compreensão para ser divulgada amplamente, principalmente em eventos espíritas.