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28/12/2015 12h29
CIÊNCIA PÓS-MATERIALISTA

           Em março de 2015 mais de 70 cientista de diferentes áreas assinaram um manifesto para uma ciência pós-materialista, que foi publicada na revista “Explore”.

            Para Dave Pruett, ex-pesquisador da NASA, professor emérito de matemática da Universidade James Madison, este documento significa uma revolução conceitual e representa algo comparável na ciência ao que significaram para a religião cristã as 95 teses de Martinho Lutero.

            Os redatores do manifesto foram Mario Beauregard, Gary E. Schwartz e Lisa Miller, em colaboração com Larry Dossey, Alexander Moreira-Almeida, Marilyn Schlitz, Rupert Sheldrake e Charles Tart. Todos são considerados cientistas heterodoxos (e em alguns casos hereges) pelos setores dominantes da ciência, mas assim também o foram Copérnico, Galileu, Kepler ou Einstein, diz Pruett.

            O Manifesto pós materialista pós materialista foi a conclusão do encontro sobre Ciência, Espiritualidade e da Sociedade, realizado no Canyon Ranch, em fevereiro de 2014 e organizado por Schwartz e Beauregard, da Universidade do Arizona, e Lisa Miller, da Universidade de Colúmbia. Até agora, mais de 70 cientistas de todo o mundo juntaram-se ao manifesto com suas assinaturas.

            Eis o que diz o manifesto:

MANIFESTO PARA UMA CIÊNCIA PÓS-MATERIALISTA

01 – A visão de mundo da ciência moderna é essencialmente o resultado de pressupostos intimamente associados com a física clássica. O materialismo – a ideia de que a matéria é a única realidade – é um desses pressupostos. Outro pressuposto relacionado é o reducionismo, a noção de que as coisas complexas podem ser entendidas, reduzindo-as para interação entre suas partes ou a coisas mais simples, mais fundamentais, como as minúsculas partículas materiais.

02 – Durante o século XIX, estes pressupostos se estreitaram tornando-se em dogmas e levando a um sistema de crença de que a mente não é nada mais do que a atividade física do cérebro e que nossos pensamentos não podem ter nenhum efeito sobre o nosso próprio cérebro ou corpo, sobre nossas ações ou sobre o mundo físico.

03 – A ideologia do materialismo científico tornou-se dominante na academia durante o século XX. Tão dominante que uma maioria de cientistas começou a acreditar que ele estava baseado em evidências empíricas bem estabelecidas e representavam a única maneira racional para se ver o mundo.

04 – Os métodos científicos baseados na filosofia materialista foram muito bem sucedidos, não só para aumentar a nossa compreensão da natureza, mas, permitindo maior controle e liberdade através de avanços tecnológicos.

05 – No entanto, o domínio absoluto do materialismo prático na academia restringiu e prejudicou seriamente o desenvolvimento do estudo científico da mente e da espiritualidade. A fé nesta ideologia científica como o único quadro explicativo da realidade levou a se negar a dimensão subjetiva da experiência humana. Isto levou a uma compreensão gravemente distorcida e empobrecida de nós mesmos e de nosso lugar na natureza. O materialismo tem dificultado o estudo científico da mente e espiritualidade. A mudança de uma ciência materialista para uma pós-materialista pode ser de importância vital para a evolução da civilização humana. Pode ser mais relevante do que a transição do geocentrismo para o heliocentrismo.

06 – A ciência é essencialmente uma abordagem não-dogmática e de mente aberta para se adquirir conhecimento sobre a natureza através da observação, investigação experimental e explicação teórica de fenômenos. Sua metodologia não é sinônimo de materialismo e não deve comprometer-se com qualquer conjunto particular de crenças, dogmas e ideologias.

07 – No final do século XIX, os físicos descobriram fenômenos empíricos que não podiam ser explicados pela física clássica. Isto levou ao desenvolvimento durante os anos 1920 e início dos anos 1930 de um revolucionário novo ramo da física chamado mecânica quântica (MC). A MC tem questionado os fundamentos materiais do mundo, mostrando que os átomos e partículas subatômicas não são realmente objetos sólidos e que não existem com certeza em um lugar e tempo definidos. Mais importante, a MC explicitamente introduziu a mente em sua estrutura conceitual básica para descobrir que as partículas observadas e o observador – o físico e o método utilizado para a observação – estavam vinculados. De acordo com uma interpretação da MC, este fenômeno implica que a consciência do observador é vital para a existência de eventos físicos observados e que eventos mentais podem afetar o mundo físico. Os resultados de experiências recentes suportam esta interpretação. Estes resultados sugerem que o mundo físico não é o componente único ou principal da realidade e não pode ser plenamente compreendido sem relacioná-lo com a mente.

08 – Os estudos psicológicos têm mostrado que a atividade mental consciente pode influenciar causalmente o comportamento e que os valores explicativos e preditivos dos agentes causais (por exemplo, crenças, objetivos, desejos e expectativas) são muito elevados. Além disso, pesquisas em Psiconeuroimunologia indicam que nossos pensamentos e emoções podem afetar significativamente a atividade dos sistemas fisiológicos (por exemplo, imunológico, endócrino e cardiovascular) conectados ao cérebro. Além disso, exames de neuroimagem de auto-regulação emocional, a psicoterapia e o efeito placebo mostram que os eventos mentais influenciam significativamente a atividade cerebral.

09 – Os estudos dos chamados “fenômenos psi” indicam que, por vezes, pode-se receber informações significativas sem a mediação dos sentidos ordinários, de modo que transcendam as fronteiras espaciais e temporais habituais. Além disso, a pesquisa mostra que podemos influenciar – à distância – mentalmente em dispositivos físicos e organismos vivos (incluindo outros seres humanos). A pesquisa psi também mostra que as mentes separadas podem se comportar de maneiras que não são correlacionadas localmente, por exemplo, as correlações entre mentes separadas, hipoteticamente, não mediadas (não vinculadas a qualquer energia do sinal conhecido), absolutas (não degradadas como a distância) e imediatas (parecem ser simultâneas). Estes eventos são tão comuns que não podem ser vistos como anômalos ou como exceções às leis naturais, mas como indicadores da necessidade de um quadro explicativo mais amplo que não pode contar com o materialismo.

10 – A atividade mental consciente pode ser experimentada durante a morte clínica devido a uma parada cardíaca (isto é o que tem sido chamado de “experiência de quase morte” (ECM). Algumas ECM provaram experimentar percepções verídicas da realidade externa (percepções correspondentes à realidade) que ocorreram durante a parada cardíaca. Pessoas que sofreram ECMs também tem sofrido profundas experiências espirituais durante a parada cardíaca. Note-se que a atividade elétrica do cérebro cessa alguns segundos após a parada cardíaca. Os fenômenos psi e as ECMs apoiam a conclusão de que a mente pode existir separadamente do cérebro.

11 – Os experimentos controlados em laboratório têm documentado que pesquisadores com habilidades mediúnicas (pessoas que asseguram poder se comunicar com a mente das pessoas que morreram fisicamente) podem às vezes obter informações muito precisas sobre as pessoas falecidas. Isto permite concluir que a mente pode existir separadamente do cérebro.

12 – Alguns cientistas e filósofos especialmente imbuídos do materialismo rejeitam o reconhecimento desses fenômenos, porque eles não são consistentes com a sua exclusiva visão de mundo. A rejeição das investigações pós-materialistas são contraditórias com o verdadeiro espírito de investigação científica, de acordo com o qual os dados empíricos devem ser sempre tratados de forma adequada. Os dados que não se encaixam nas teorias e crenças favoritas não podem ser negligenciados a priori. Esse desprezo é do domínio da ideologia, não da ciência.

13 – É importante entender que os fenômenos psi, as ECM em paradas cardíacas e as evidências replicáveis de investigadores médiuns credíveis parecem anômalas somente quando vistas através da lente do materialismo.

14 – Além disso, as teorias materialistas não conseguem explicar como o cérebro cria a mente e não podem explicar as evidências empíricas mencionadas neste manifesto. Esta falha nos diz que é hora de nos libertarmos dos grilhões e viseiras da velha ideologia materialista, para ampliar nossa compreensão do mundo natural e aderirmos a um novo paradigma pós-materialista.

15 – De acordo com o paradigma pós-materialista:

  1. A mente é um aspecto da realidade tão essencial como o mundo físico. A mente é fundamental no universo e não pode ser derivada da matéria ou reduzida a algo mais básico
  2. Há ligações profundas entre a mente e o mundo físico.
  3. Os cientistas não devem temer a investigar espiritualidade e experiência espirituais, porque eles representam um aspecto central da existência humana.
  4. A mente (vontade/intenção) pode influenciar o estado do mundo físico e agir de maneiras não-locais, nem limitar-se a pontos específicos no espaço, como o cérebro e o corpo, ou pontos específicos no tempo, como o presente. Como a mente pode influenciar não localmente sobre o mundo físico, as intenções, emoções e desejos de um experimentador não estão completamente isolados dos seus resultados experimentais, mesmo em modelos experimentais controlados e às cegas. As mentes são aparentemente ilimitadas e podem ser vistas de modo a que sugerem a existência de uma única mente que inclui todas as mentes individuais.
  5. As ECMs em parada cardíaca sugerem que o cérebro funciona como um receptor da atividade mental, ou seja, a mente pode funcionar através do cérebro, mas não é produzida por este. A ECM ocorrendo em parada cardíaca, junto com a evidência de pesquisadores médiuns, sugerem a sobrevivência da consciência após a morte do corpo, bem como a existência de outros níveis da realidade que são imateriais.
  6. Os cientistas não devem temer investigar a espiritualidade e as experiências espirituais, porque elas representam um aspecto central da existência humana.

16 – A ciência pós-materialista não rejeita as observações empíricas nem o grande valor das realizações científicas feitas até agora. Busca ampliar a capacidade humana de compreender melhor as maravilhas da natureza e, no processo, redescobrir a importância da mente e do espírito, como partes do tecido central do universo. O pós-materialismo inclui a matéria que é considerada como um constituinte básico do universo.

17 – O paradigma pós-materialista tem implicações de longo alcance. Altera fundamentalmente a visão que temos de nós mesmos, restaura-nos a dignidade e poder, como seres humanos e como cientistas. Este paradigma cultiva valores positivos como o respeito, a compaixão e a paz. Ao enfatizar a profunda ligação entre nós e toda a natureza, o paradigma pós-materialista promove a conscientização ambiental e preservação de nossa biosfera. Além disso, não é novo, mas tem sido esquecido durante 400 anos, que uma compreensão viva e transmaterial pode ser a pedra angular da saúde e bem-estar, como tem sido sustentado e preservado na prática antiga do corpo-mente-espírito, tradições religiosas e abordagens contemplativas.

18 – A mudança de uma ciência materialista para uma pós-materialista pode ser de importância vital para a evolução da civilização humana. Pode ser mais relevante do que a transição do geocentrismo para o heliocentrismo.

            Enfim, eis um manifesto importante para a academia, para a sociedade e para o futuro da humanidade. Temos assim uma base mais sólida onde podemos nos apoiar sem correr tanto riscos de sermos “queimados vivos” pela força da ideologia, dos preconceitos e da conjuntura de “normalidade” que nos rodeia.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 28/12/2015 às 12h29