Ao ler o livro “Fontes Franciscanas e Clarianas” percebi que devo um reconhecimento que deveria ter feito há muito mais tempo.
Meu nascimento foi difícil. Fui o primeiro filho de meus pais, gerado com uma cabeça que não ajudava na passagem pelo canal do parto. Além do mais o parto foi realizado em casa, nessa época não havia tanta facilidade como hoje por maternidade. A parteira, de experiência prática, era a responsável pelo evento, mas não conseguia me trazer à luz do dia. Todo o seu esforço, com os seus dedos contraídos na forma de pinça, ficou impregnado na massa óssea do meu crânio, que não passava de uma simples moleira. O caso estava ficando dramático, ameaçava a minha vida e a vida da minha mãe. Numa atitude heroica para salvar a minha mãe, eu poderia ser arrastado de qualquer forma... outro filho poderia ser gerado, era o mais lógico.
No desenrolar dessa batalha pela vida, como estávamos no mês de outubro, alguém lembrou do santo mais importante dessa época, São Francisco, da cidade de Assis, Itália. De imediato foi feita uma promessa, que se ele interviesse e salvasse a mãe e o filho, este receberia o seu nome. Finalmente eu consegui sair ileso do sufoco, somente com as marcas dos dedos da parteira na cabeça e que até hoje marca o meu crânio.
Soube dessa história e não dei muita importância, afinal essas promessas são muito comuns de acontecerem e só viemos a saber dos resultados positivos, pois as pessoas fazem questão de lembrar a graça recebida, e geralmente esquecem quando não são atendidas, talvez por pensarem que isso vai depor contra elas, de não serem merecedoras das graças divinas.
Quando passei a estudar com a metodologia científica, de considerar o mundo material com mais destaque que o mundo espiritual, aí foi que essa história ficou mais distante, principalmente quando fui para o serviço militar e passei a ser chamado pelo sobrenome, Rodrigues. O nome Francisco ficou em segundo plano e o motivo dele ter surgido, também.
Nesta fase mais amadurecida da minha vida, reconheci a importância do mundo espiritual, da sua superioridade sobre o mundo material, e dos exemplos de várias personalidades pelo mundo todo, principalmente Jesus de Nazaré ao qual considero meu Mestre e procuro seguir suas lições.
Seguindo esses novos paradigmas de vida, procuro ler e estudar tais comportamentos e o entorno dos relacionamentos e fenomenologia do que está descrito, com a mesma postura de aceitação e de crítica de tudo que tenho conhecimento. Foi nesse sentido que a leitura das “Fontes Franciscanas e Clarianas” me trouxe a informação dos inúmeros casos considerados como milagre por São Francisco. Casos muito mais complexos do que o meu, inclusive com ressuscitação, fez eu lembrar da velha história que sempre ouvia relacionado com o meu nascimento e a influência do santo na minha sobrevivência.
Agora não tenho justificativas para manter no ostracismo o que aconteceu comigo há 63 anos. Se alguém pediu por mim ao Santo, e se esse fato que foi pedido se realizou, pode muito bem ter isso acontecido pela interferência do santo. Os novos estudos que estou realizando e praticando dão sustentação a essa possibilidade. A incredulidade própria do mundo material continua na minha mente dizer que existe também a possibilidade de tudo ter acontecido sem nenhuma interferência espiritual, tudo ter sido consequência da resolução natural que estava à caminho. Claro, essa possibilidade material pode ter sido a responsável, mas isso não anula a possibilidade espiritual, e sou mais inclinado a pensar agora na importância do espiritual, mesmo porque a ciência já demonstrou que nenhum experimento que possamos projetar irá tirar a influência da consciência do pesquisador, principalmente em situações dramáticas onde o emocional favorece muito mais o espiritual do que o material.
Agora eu me sinto mais agradecido ao santo, respeito mais o nome que herdei de sua memória, principalmente quando tenho um papa que adotou o seu nome. Lembro que o poder espiritual que ele recebeu, foi devido ter se esforçado para imitar o comportamento do mesmo mestre que eu procuro seguir as lições: Jesus de Nazaré.
Por isso não poderia deixar de fazer esse reconhecimento a São Francisco de Assis, mesmo tardio, apesar de terem escolhido o diferencial para o meu nome das chagas que ele apresentava e não da cidade onde nascera.