Sei que estou na mira do Mestre. Ele que veio à Terra e com pouco tempo de existência conseguiu mudar até o calendário, que cumpriu com excelência a missão que o Pai lhe delegou. Sei que o Seu espírito se insurge contra a fraqueza dos que preferem o repouso à luta, o êxito fácil aos trabalhos do pensamento e às fadigas corporais.
O Mestre ensina que a luz deve ser espalhada com profusão. Que quem a oculta deve se envergonhar, pois são homens pusilânimes, de pouca fé. A abundância dos dons divinos enche a todos de alegria, mas quando se deve demonstrar a verdade com o trabalho e a graça mediante sacrifícios, todos permanecem no meio da ociosidade ou do egoísmo. O cultivador que dá com terra estéril, leva suas esperanças para outra terra mais produtiva... Pois bem, o Mestre é o cultivador e a terra estéril somos nós.
Sei que o Mestre se depara comigo. Sou também uma terra estéril que Ele olha com compaixão. Tenta incutir em minha mente a fé e a confiança. Imprime na minha alma Seus ideais e Seus propósitos como estigmas de fogo que jamais desaparecem. Imprime em meu espírito a imagem do Seu olhar, que é sempre terno, do Seu sorriso, quase imutável, da Sua maneira e Sua delicadeza ao consolar-me e demonstrar-me Seus afetos.
Ele ver em pessoas como eu, o povo do futuro, e sonha no despertar do mundo, no êxito da Sua missão, o triunfo da Sua doutrina, apesar dos meus desatinos e da má-fé dos Seus inimigos.
Mesmo eu me reconhecendo uma terra estéril, onde o cultivador divino podia muito bem dá a volta e ir em busca de outra terra, Ele continua insistindo comigo. Certamente Ele vê em mim algum potencial. Não sou de todo estéril. Ele me pede para eu me converter em verdadeiro adorador de Deus interpretando com sabedoria as leis da Natureza, onde está o lado visível do Criador. Pede que eu honre o caminho do meu espírito, conforme a missão que o Pai me delegou.
O Mestre pede que eu acumule provas da grandeza de Deus, na minha condição de acadêmico, pois dessa forma tenho maior capacidade de colocar a luz sobre o alqueire. Merece muito de Deus, explica Ele, o que se levanta com coragem; o que desenraiza a árvore velha e lança-a ao fogo; o que lava suas imundícies com o perfume do amor para que nada do passado inglório se note nele; o que do fundo do abismo sai à luz do sol no pleno domínio de sua vontade e mediante seus esforços.
Tenho que desviar o foco de minha felicidade. Devo depender para ser feliz do cumprimento dos meus deveres, quaisquer que sejam as responsabilidades que resultem daí. Devo lembrar que a alma eleva-se com a privação dos bens temporais, devo buscar os dons de Deus com o desprendimento das ambições terrestres.
Sei que o poder do Pai se manifesta nas menores coisas, como também nas maiores, e o Seu olhar penetra o meu pensamento no mesmo instante que percorre a imensidade da criação.
A palavra do Pai está espalhada por todas as terras, por minha terra também. O Mestre a cultivou em minha consciência e devo esforçar-me para deixar de ser estéril, que devo progredir apesar de minhas fragilidades. Não quero que o Mestre me abandone por me considerar uma terra estéril.