Sei que estou tentando fazer a vontade de Deus, isso é uma decisão da minha consciência, amparada pelos paradigmas espirituais que construí e que considero correto. Sei também que essa vontade está alicerçada sobre uma estrutura biológica e psicológica construída pela natureza ao longo de milênios, de natureza animal e que somente há pouco tempo adquiriu as características humanas, capaz de proporcionar o confronto entre os interesses do espírito e da animalidade.
Posso dizer que neste estágio atual de desenvolvimento evolutivo, o homem e a mulher confrontam os seus princípios espirituais com os desejos e instintos da animalidade e procuram avançar em direção à angelitude, compreendendo que na dimensão material existe o fator sexual, de gênero, que é um grande problema de harmonização, o qual não existe na dimensão espiritual. Lá existem apenas os resquícios negativos ou positivos que esses relacionamentos de gênero podem produzir.
É aqui na dimensão material que podemos ficar muitas vezes confusos, se entramos ou não em alguns desvios conscienciais quando consideramos a vontade de Deus como prioridade para nossas vidas.
Já possuo uma boa compreensão do caminho que devo percorrer, da formação da família universal a partir da família ampliada, que não tenha mais as exigências do ciúme, da exclusividade, próprias do amor romântico. Agora sei que devo privilegiar com bastante firmeza o amor incondicional, que leva ao amor inclusivo, sem quaisquer tipo de preconceitos, dogmas ou rejeições que o inviabilize.
Mesmo assim, tem momentos que surgem na consciência dúvidas quanto ao desvio de propósitos, quando o prazer parece estar acima do dever. O prazer está associado ao lado material; o dever ao lado espiritual. Não quero dizer que não exista prazer no lado espiritual, pelo contrário, o prazer espiritual é muito mais amplo e profundo que o prazer material que está limitado apenas aos desejos da carne. O prazer espiritual está associado à sensação do dever cumprido, e quando surge a dúvida na consciência de que este dever não foi devidamente observado, abre a possibilidade do surgimento de culpa. Então a dúvida tem que ser dirimida, para afastar o sentimento de culpa, ou, se ela é aceita, corrigir o que foi feito de errado.
Analisando todos os meus últimos passos não vejo descumprimento da lei do amor pelas pessoas que estão mais próximas de mim. Se em algum momento em especial, algumas pessoas que estão mais à distância se sentem desconfortáveis pelas minhas ações, imagino que seja devido aos efeitos dos preconceitos e dogmas que tentam bloquear a expansão do amor Incondicional. Não quero dizer que elas estejam erradas, pois afinal elas reagem de acordo com os paradigmas que formaram e que ainda aceitam como corretos... não posso julgar que elas estão erradas e eu o correto. Pode ser que eu seja o errado e as pessoas que pensam, sentem e agem diferente é que estão corretas. Mas, ao meu ver, eu não estou errado e portanto devo seguir o meu caminho. Porém a sensação de que eu não estava conseguindo explicar alguma coisa, ainda me preocupava.
Foi nesse ponto das minhas elucubrações que eu recebi a ajuda do Pai, como sempre acontece quando eu preciso, e que me deixou confortável com o pensamento de Albert Camus, um filósofo francês, que disse o seguinte: “Não caminhe atrás de mim; eu posso não liderar. Não caminhe na minha frente; eu posso não seguir. Simplesmente caminhe a meu lado e seja meu amigo.”
Perfeito!
Essa mensagem mostra que cada um tem o seu caminho. Ninguém pode caminhar atrás de mim, pois o meu caminho pode não ser aquele que a pessoa deseja e considera o correto para si. Não pode caminhar na minha frente, pois o caminho dela pode não ser o meu caminho, e certamente eu irei desviar. O certo é que almas afins caminhem lado a lado, que se ajudem mutuamente se os seus caminhos tem a mesma direção.
Fiquei tranquilo com a mensagem que o Pai me enviou através de um duplex ao qual geralmente eu faço a resposta de um quando tenho oportunidade. Pois hoje, foi justamente essa a resposta que obtive do filósofo francês Albert Camus. Serviu tanto para dirimir minhas dúvidas, quanto para melhorar o meu ponto de vista e orientar na terapia familiar ampliada e na terapia regular de consultório.
Afinal, ninguém deve caminhar atrás ou na frente de outros, mas sim, lado a lado, como amigos, se existe afinidade e se o caminho vai na mesma direção.