Neste dia (sexta-feira), que antecipa os festejos de Momo, o Hospital Psiquiátrico Severino Lopes promoveu entre os pacientes e técnicos um animado bloco carnavalesco que percorreu as ruas das imediações da instituição. As fotos desse evento foram divulgadas em diversos grupos do whatsapp, entre eles o grupo do Hospital Psiquiátrico João Machado, composto de técnicos das diversas formações.
Um dos comentários sobre essa atividade, postado por uma amiga muito querida, despertou minha atenção e curiosidade e tive a necessidade de enviar uma resposta. Coloco em seguida os comentários pertinentes evitando nomear a(s) pessoa(s) para não individualizar uma questão que entendo ser ideológica.
Comentário inicial: Em relação ao carnaval de rua do Hospital Psiquiátrico Severino Lopes é bom esclarecer que eles não tem por objetivo contribuir com a reinserção social das pessoas com transtornos mentais e sim promover a instituição.
Comentário seguinte (mesma pessoa): Instituição essa que nem deveria existir...
Minha resposta: Eita! Que comentário preconceituoso contra o Hospital Psiquiátrico Severino Lopes... Não deveria nem existir?!??? E o nosso Hospital Psiquiátrico João Machado, também não deve existir? Fiquei confuso... Então este grupo não é favorável aos hospitais psiquiátricos? Espero que tenha sido um engano da nobre colega, pois caso contrário, coitado do Hospital Psiquiátrico João Machado, pois quem deveria lutar por ele quer sua extinção, junto com os congêneres.
Réplica a: Nosso Hospital... como bem prega a Reforma... Também não deveria existir! Enquanto isso tentamos escapar do modelo asilar e manicomial... A luta maior não é por instituições, nem categoria... e sim por modelo de assistência, visão de loucura, bem como seu modo de tratamento... e acima de tudo pelo paciente!
Réplica b: Meu querido Dr. Rodrigues, defendo o tratamento sem privação de liberdade. Meu posicionamento é contra o modelo e não contra nenhum hospital em particular.
Réplica c: Nossa luta deve ser pela garantia de direitos dos nossos usuários e é pensando nisso que cotidianamente tento contribuir para tentar tornar o Hospital Psiquiátrico João Machado mais terapêutico.
Réplica d: Nenhum modelo de segregação devia existir. Nenhum modelo que sugira ao familiar afastar-se ao menos por quinze dias dos seus pacientes deveria existir, nenhum modelo que usa contensão física como punição deveria existir. Manicômios mentais ou institucionais não deveriam existir. A Organização Mundial de Saúde, o Ministério da Saúde e todos nós lutamos por isso.
Réplica e: Sem querer ser contra pessoas e com todo o respeito aos que pensam diferente.
Réplica f: Meu querido Dr. Rodrigues, caso você precise de um internamento psiquiátrico, você escolheria um estilo Hospital Psiquiátrico João Machado, Hospital Geral, ou um Centro de Atenção Psicossocial? Eu nunca gostaria de me internar no Hospital Psiquiátrico João Machado.
Réplica g: Concordo.
Réplica h: O mínimo que podíamos fazer por esta casa e para quem dela precisa, é transformá-la num lindo Centro Cultural, com espaço para todas as artes.
Réplica i: (sinal de positivo com o polegar.)
Este parece ser o clima ideológico que prevalece no Hospital Psiquiátrico João Machado entre os diversos profissionais. Tenho essa impressão, pois não li nenhuma mensagem corroborando o meu pensamento. Se essa posição ideológica hospitalofóbica não for a prevalente, então as demais pessoas se encontram intimidadas para deixar uma opinião contrária. Não quero dizer que esses técnicos são pessoas de má índole por pensarem dessa forma, sobre uma instituição onde eles trabalham e sabem quanto benefício presta aos pacientes que tem a sorte de serem acolhidos por ele. Digo sorte porque, a maioria dos pacientes que procuram internação não conseguem, e muitos tem uma indicação clara, as vezes com encaminhamentos de colegas justificando o motivo da internação. Algumas vezes o paciente retorna para casa, pois recebe a resposta que não tem vaga para internação, e na sua crise causa verdadeira tragédia em sua vida. Esse foi um dos casos, uma pessoa foi medicada e foi encaminhada para sua residência. Lá chegando matou os filhos e a comunidade linchou a sua vida...
Enfim, percebo o quão é necessário uma atitude formativa e informativa quanto a natureza da doença e o papel das instituições. Sinto o peso dessa responsabilidade, por eu atuar na academia e a universidade ter a obrigação de encontrar a verdade e a divulgar, sem nenhum viés ideológico, privilegiando o máximo a tecnologia, a ciência e, sobretudo, o bom senso e a coerência.
Irei desenvolver uma reestruturação cognitiva no pensamento ideológico que distorce a natureza da doença e consequentemente a forma de abordar o paciente e seus familiares, prevenir e tratar a doença dentro dos diversos transtornos mentais.