A reinserção social quando aplicada em psiquiatria, tem o objetivo de dar uma nova oportunidade ao paciente após este sofrer os efeitos de um transtorno ou doença psíquica, geralmente obrigando à hospitalização e afastamento do convívio social durante um período variável de tempo, de acordo com o tipo de diagnóstico e circunstâncias sociais e biológicas do indivíduo. As vezes o termo é mal colocado, pois alguns pacientes vivem o tempo todo afastado do convívio social, e portanto precisam de uma “inserção” social que nunca tiveram.
A reinserção social se refere ao processo que integra o paciente novamente ao convívio social, com a consciência de sua doença e a necessidade de permanecer fazendo o uso frequente das indicações terapêuticas, farmacológicas, psicoterapêuticas, laborterápicas, etc.
Como se trata de um paciente que tem um transtorno e necessita de um diagnóstico correto para ser indicado uma terapia adequada ao seu caso, o médico psiquiatra é o profissional capacitado para realizar esse primeiro passo. Tem o dever de fazer o diagnóstico correto e indicar e conduzir a terapia mais eficaz.
Após o diagnóstico, o psiquiatra decidirá pela condução mais apropriada do caso, o tratamento a nível domiciliar ou institucional. Se institucional, qual seria a instituição que melhor atenderia esse paciente, Ambulatório Especializado, um CAPS, Residência Terapêutica, Comunidade Terapêutica, Clínica especializada, Hospital Geral ou Hospital Especializado em psiquiatria, etc. Em qualquer uma dessas instituições iremos encontrar formas de acolher o paciente e conduzir o tratamento.
O psiquiatra precisa conhecer esses recursos institucionais e a missão de cada uma para fazer uma boa indicação.
O Ambulatório especializado em psiquiatria deveria ser a indicação mais frequente, pois faria a condução de um tratamento sem retirar o paciente do seu contexto, das suas relações sociais (profissionais e familiares, principalmente). O psiquiatra conduziria necessariamente o tratamento farmacológico, e a psicoterapia poderia ser dividida com o profissional da psicologia.
A hospitalização em Hospital Geral ou Especializado seria indicado para pacientes mais comprometidos tanto biológica ou psicologicamente. Caso o paciente apresente uma demanda biológica mais evidente, o caso seria direcionado para o Hospital Geral, onde as diversas clínicas poderiam dar um melhor suporte. Se a demanda psicológica for a mais evidente, com desorganização de pensamento, perda de senso crítico, impulsividade, agressividade, agitação psicomotora, tudo que implica na desorganização do próprio Hospital Geral, esse paciente deverá ser encaminhado para o Hospital Especializado em Psiquiatria, onde além do Psiquiatria existe toda uma rede de profissionais psi interagindo no sentido de tirar o paciente no menor tempo possível, geralmente em torno de 30 dias, da condição aguda em que ele se encontrava e devolvê-lo de imediato para a comunidade.
Esta é a missão do Hospital, receber o paciente em crise em devolvê-lo à comunidade no menor tempo possível. O processo de reinserção social não pode acontecer dentro da instituição hospitalar, pois isso impediria um adequado fluxo de entrada de pacientes em surto e que necessitam do suporte do Hospital. O processo de reinserção social deverá ser conduzido por outra instituição.
Com essa compreensão técnica surgem os diversos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), com o objetivo de promover a importante função de reinserção social, que implica numa atuação mais constante de toda a equipe multiprofissional.
A reinserção social deve integrar o paciente que sofreu um transtorno mental grave, que tem o diagnóstico de uma doença psiquiátrica que promoveu uma quebra da normalidade do seu psiquismo e teve que ser afastado do convívio social, para a sua própria proteção e de terceiros, como conduzir a terapêutica adequada que geralmente não é reconhecida como necessária, principalmente a terapêutica farmacológica, a única capaz de ter retirado os grilhões dos pacientes mentais e ter feito a primeira desospitalização no passado.
A reinserção social só acontece quando o paciente adquire a consciência da sua doença ou pelo menos aceita que deve fazer algo para ser melhor aceito pela sociedade e se sentir integrado apesar de seus problemas. O papel do hospital nesse curto período que o paciente necessita permanecer em suas dependências, é controlar farmacologicamente os desequilíbrios bioquímicos que justificam o surto abstêmico, psicótico ou neurótico, fazê-lo entender que após a alta hospitalar é necessário uma admissão em serviços como o CAPS.
O técnico que defende a extinção de qualquer um desses serviços, mostra que tem uma compreensão diferente dessa que foi exposta aqui. Como a equipe multiprofissional deve atuar em sintonia para que o trabalho com o paciente seja mais eficaz e as reivindicações ao poder público federal, estadual e municipal sejam mais contundentes, e a explicação dos transtornos mentais e suas diversas modalidades de tratamento dentro da comunidade, tanto para os pacientes, familiares, técnicos e gestores sejam mais coerentes, a linha de pensamento não deve ser quebrada ou bifurcada. O viés ideológico não deve intervir ou comprometer a condução técnica apropriada, sob pena de ver todo o sistema ruir e o devido tratamento ao paciente que cada técnico em particular tem com sua cota de responsabilidade, ficar inalcançável.