Quando vou cedo para a hidroginástica, caminho cerca de 300 metros além do local do exercício, antes do professor chegar, e fico numa encruzilhada onde a agua represada pelas pedras volta para o mar.
Neste local eu paro voltado para o leste e encontro o sol que começa a surgir. Reconheço Deus nessa luz intensa a qual não posso olhar diretamente sob pena de cegar. Satisfaço-me em sentir a claridade se espalhando pelo firmamento, pintando as nuvens com precisos raios e me deixando sentir seu calor em meu corpo. Este é o abraço de Deus em meu corpo e o início das minhas orações.
Giro um pouco para a direita, no sentido dos ponteiros do relógio e fico de frente para o sul, para os edifícios que emolduram a orla marítima e sinaliza os efeitos tecnológicos da sociedade humana. Peço a Deus que me dê a sabedoria para discernir o certo do errado em tão complexo aglomerado de formas arquitetônicas e de modos de ver e conduzir a vida nos mais complexos relacionamentos humanos. É dentro dessa complexidade humana que o Pai confia que eu possa contribuir para ajuste de comportamentos que se aproximem mais do Reino que o Mestre Jesus anunciou.
No segundo giro que faço no mesmo sentido, sinto o sol às minhas costas e na frente as sombras que são formadas, tanto pelas pedras, plantas como pelo meu corpo. As sombras adquirem outro significado, as sombras que existem dentro de nós, não apenas aquelas físicas promovidas pelo sol ou por qualquer outra fonte de luz. São as sombras que existem no nosso psicológico, que se escondem nas mentiras comportamentais, muitas vezes absorvidas pela cultura, e que deixa o homem amedrontado do que fez e do que podem fazer a ele. Tenho um olhar de compaixão pelas sombras, pois sei que são reflexos do monstro que o Pai criou como uma obra prima e deixou dentro de nós para garantir a nossa sobrevivência. A energia do egoísmo que ele carrega para cumprir sua missão deve ser devidamente controlada por nosso espírito, sintonizado com os princípios espirituais do Amor Incondicional. Não deixar que a nossa luz interna, criada por Deus dentro de nosso espírito, não seja coberta por essas sombras que emergem constantemente do Behemot.
Finalmente faço o último giro e fico de frente para o norte, para o mangue que circunda o Forte dos Reis Magos, das dunas, da vegetação rasteira... Vejo então a expressão da Natureza e sinto que eu sou também uma parte dela. Entendo a Natureza como uma representação mais precisa do Criador, e como eu estou dentro dela, também o Criador está dentro de mim. Sinto a responsabilidade de cuidar dessa ampla Natureza, de não subjuga-la por causa dos meus interesses personalísticos.
Esta é a minha oração, integrada à Natureza, ao Pai, às minhas intenções de seguir as lições do Mestre Jesus, conforme os talentos que Deus me deu. Para realiza-la eu tenho que inicialmente vencer a preguiça, pois implica acordar as 5h e sair de casa as 6h para, correndo, chegar com pelo 15 minutos de antecedência no local descrito. Pode ser um sacrifício determinar o corpo para fazer essa ação, mas ao terminar, que retorno para o apartamento a sensação de dever cumprido é muito gratificante.