Hoje é o feriado de carnaval e amanhã inicia a Quaresma, período que na Igreja Católica prenuncia o tempo da Páscoa, a ressurreição de Jesus Cristo, que é comemorada no domingo e praticada desde o século IV. A quaresma começa na Quarta-feira de Cinzas e termina no Domingo de Ramos, anterior ao Domingo de Páscoa.
Antes de iniciar Sua vida pública, logo após ter sido batizado por João no rio Jordão, Jesus passou 40 dias no deserto. Esse retiro de Jesus mostra a necessidade que Ele teve em se preparar para a missão que O esperava. No deserto Jesus era conduzido pelo Espírito, sem deixar que os instintos biológicos interferissem com Seus objetivos, vivia em oração e recolhimento, discernindo a vontade de Deus para a Sua vida e como atuaria a partir de então. No tempo que passou no deserto Jesus teve uma profunda experiência com o Pai, tendo vivido intensamente esse encontro, apesar das tentações para se desviar do propósito da Sua vida.
As tentações que Jesus viveu e venceu são da mesma natureza dessas que eu vivo e preciso vencer. Jesus experimentou o encontro com o Pai em sua totalidade, no silêncio e na solidão do deserto. Estava, pois, cheio do Espírito que Lhe revelava com clareza o Amor Incondicional, essência do próprio Pai, e a dimensão inimaginável do poder desse Amor se o vivermos em plenitude. É aqui que a natureza humana se revela em fragilidade, pois tão grande poder que temos ao nosso alcance, termina obnubilado pelas forças efêmeras da biologia.
O diabo, Behemot, tenta Jesus nas coisas simples, nas vontades mais básicas: a saciedade da fome, o desejo de poder e riqueza, no querer ser superior a tudo e a todos. Sentimentos que todos, homens e mulheres, carregamos em nossos corações. Sentimentos que não são ilícitos se canalizados para os seus devidos fins, mas cuja linha que separa o bom do mau fim é tão tênue que só a sintonia com o espírito é capaz de reconhecer.
Aproveito esse período para ficar psicologicamente isolado do mundo, uma espécie de quarentena na qual busco a purificação dos excessos de impurezas que acumulei durante o ano. O foco da quaresma é sobre a caridade, a oração e o jejum. Desses o mais difícil é o jejum, pois vai direto sobre os interesses do corpo. Mas procuro desenvolver toda a sintonia do espiritual com o divino, nas várias esferas do pensamento, apesar de sentir o efeito do jejum sobre a mente, os instintos e a vontade.
Devido o Espírito de Jesus ser bem evoluído, considerado como puro, que Ele pode resistir as tentações na forma do diabo que vinha à sua consciência. Diabo não é uma figura lendária, mas o desejo que existe dentro do nosso próprio coração. A divindade que existe dentro de nós deve vencer o egoísmo que caracteriza o Behemot, monstro criado por Deus dentro de nós, para garantir a nossa sobrevivência, e que deve ser domesticado para o mal não prevalecer.
Essa experiência no deserto mostra que muito facilmente o mal nos invade e estraga a perspectiva que Deus tem para nós. Pode ser paradoxo, mas não é. Deus criou o Behemot, o monstro dentro de nós para garantir a nossa sobrevivência, mas não para interferir na sobrevivência dos outros, do próximo. Pelo contrário, devemos ter a força espiritual até para sacrificar os interesses do nosso corpo para ajudar na evolução do próximo, que por algum motivo se encontra em dificuldade. Jesus ensina com o seu comportamento que ele é apenas o Filho e que deve cumprir a missão confiada pelo Pai, de levar as lições do Amor cada um dos seus irmãos terrenos.
Mostra a certeza de que a vivência no Espírito é a salvação de um mundo cuja oferta de valores diverge em muito daquilo que o Pai oferece. Por isso é importante a experiência no deserto, para que possamos tomar distanciamento do mundo material e seus atrativos e possamos ver com mais clareza, com os olhos da alma, para que se possa sentir o calor do Espirito no coração, para, então, enfrentar a missão e poder ser testemunho vivo da vontade do Senhor.