A segunda acusação ao Hospital Psiquiátrico é que ele é uma prisão, ele trata o paciente em cadeias. Isso poderia até ser compreendido quando dito por pessoas leigas que não sabem o que é uma doença mental. Pessoas que veem o Hospital de longe, que nunca entraram em suas dependências, que não tiveram contato com os pacientes em suas crises.
A doença mental como o próprio nome indica, é uma doença que afeta a mente. Pode não ser identificada por nenhuma das técnicas avançadas de bioquímica ou imagens neurais, mas o transtorno se manifesta com todo seu potencial de retirar da pessoa o senso crítico e passar a se comportar por motivações internas, bizarras, auto e/ou heterodestrutivas, de um mundo abstrato somente entendido por sua razão corrompida. Esse mundo individual entra em confronto com o mundo real e esse choque geralmente é carregado de potencial agressivo, incontrolado pelos argumentos da lógica da realidade. O confronto estando assim estabelecido, a realidade deve conter a insânia, ou o contrário? Parece que não há dúvida quanto a primeira hipótese, devemos controlar um paciente que está com sua mente corrompida, que não aceita nem os procedimentos básicos de higiene ou relacionamentos, quanto mais o uso de uma medicação para uma doença da qual ele não acredita. No meu modo de ver, não existe nenhuma instituição extra hospital psiquiátrico que consiga acolher e cuidar de um paciente com esse perfil, até a sua recuperação da crise que o acometeu, a não ser o CAPS III se existisse em número suficiente para atender a demanda. Em Natal não vejo nenhum desses casos serem encaminhados para esses CAPS. Em Caicó existe CAPS III mas costumo ver sempre pacientes daquela localidade internado no Hospital João Machado, pois lá os técnicos não conseguem contê-los.
É preciso sim, de uma instituição como o Hospital Psiquiátrico capaz de conter o paciente em seus impulsos de insanidade, pois ele já está preso dentro da sua doença. A contenção que é feita no Hospital Psiquiátrico visa recuperar o paciente de sua doença em crise e devolvê-los para a comunidade com liberdade e dignidade, mesmo sabendo dos preconceitos que a sociedade ainda gera em torno deles, e incrível, alguns técnicos, que negam a existência de sua doença.
Portanto, é totalmente inverso o raciocínio de quem pensa ser o Hospital uma cadeia. O Hospital usa a contensão e perda do direito de ir e vir, pois o livre arbítrio do paciente está comprometido e ele assim é capaz, com o uso dessa “liberdade’ contaminada pela doença, cometer os maiores desatinos, como matar filhos, mãe, esposa, vizinhos, estranhos, e até ele mesmo com ações de automutilação ou autodestruição.
Esse capítulo do estudo sobre as doenças mentais não pode ser menosprezado por nenhum técnico que atue na área psi, sob pena desse técnico ser envolvido com ideologias políticas que não tem nada a ver com a condução técnica do tratamento das doenças mentais, pelo contrário, pode prejudicar a ação técnica, como vemos na presente gestão do governo federal, com o desmonte irresponsável dos leitos em hospitais psiquiátricos, por omissão de reformas necessárias ou por decretos perversos de desativações em cadeia.
Concluo esse raciocínio chamando a atenção, principalmente dos leigos, pois os técnicos devem saber dessa lição: a provável perda de liberdade que o Hospital Psiquiátrico provoca em seus pacientes, é justamente uma ação técnica necessária para devolver a esse paciente o retorno à sua liberdade, sem perda de patrimônio ou de vidas preciosas de parentes os aderentes.