Não consigo entender como técnicos que trabalham num Hospital Psiquiátrico, que fazem a estrutura funcional do Hospital Psiquiátrico, acusem o Hospital de ser um modelo de segregação sem se contaminar com essa acusação. Pois eu, como psiquiatra, se entendesse que o Hospital Psiquiátrico é um modelo de segregação, de prejuízos mental e social para os meus pacientes, eu me retiraria de imediato dessa instituição e iria denunciá-lo fora de seus muros. Iria lutar com todas as minhas forças para nenhum paciente com doença mental procura-lo, pois ao invés de ajudar iria piorar sua situação. Pois eu também entendo que nenhum modelo de segregação do ser humano deveria existir dentro da sociedade, quanto mais dentro do espaço terapêutico.
A minha compreensão é que o Hospital Psiquiátrico é uma instituição valente dentro do contexto social, principalmente nas condições da assistência médica do Brasil atual. Apesar de ser atacado por dentro e por fora, ele continua resistindo na sua missão de cuidar dos doentes mentais em crise e acolhendo-os, até mesmo fora de suas atribuições, como são os casos asilares ou manicomiais. Não é o Hospital que deseja isso, é a sociedade incompetente e relapsa com a saúde mental que joga os pacientes com essas necessidades nas portas de sua urgência. São os psiquiatras que representam o Hospital nesse momento, os responsáveis por essa acolhida (ou não) dentro de suas enfermarias, que se envolvem com a responsabilidade de, em benefício do paciente, não deixa-lo à deriva dentro dos labirintos malfazejos das ruas, sem lar ou acolhida institucional.
A justificativa de que “nenhum modelo que sugira ao familiar afastar-se ao menos por 15 dias dos seus pacientes devia existir” mostra um completo desconhecimento da lide psiquiátrica, ou mesmo uma cegueira seletiva, pois todos os colegas psiquiatras, e consequentemente toda a equipe que acompanha o tratamento de pacientes com doenças mentais, sabem de diversos casos onde a família implora para o paciente ser mantido afastado da convivência com os parentes, enquanto a doença ameaça à integridade deles e do próprio paciente. Muitas vezes os parentes tem receio de ir à visita com esses pacientes em crise, enquanto o psiquismo estiver dominado pela doença. Não seria este o espaço suficiente para eu citar a quantidade de pacientes que estão dentro desse critério, sem falar dos pacientes que chegam a cometer crimes contra parentes tão próximos quanto a própria mãe. E a justiça promove o afastamento da sociedade desse paciente e o resto da parentela traumatizada pelo ocorrido evita qualquer tipo de contato com essa pessoa. Só resta para acolhê-lo o Hospital Psiquiátrico e por fazer isso leva a pecha de segregador... Que ironia!
A crítica de ser feita a contensão física como punição não se aplica à correta conduta em psiquiatria. Nenhum psiquiatra que eu conheço trabalha com os recursos existentes, seja contensão física, seja eletroconvulsoterapia, como forma de punição. Essa é uma acusação perversa que visa demonizar a psiquiatria, pois qualquer pessoa de bem que tenha conhecimento de tal atitude por qualquer profissional médico, deve levar o caso à polícia ou ao Conselho Regional de Medicina. É um crime! Falar que isso acontece dentro da psiquiatria de forma vaga, é uma forma de deixar os psiquiatras de forma generalizada na berlinda, pois quem faz a indicação dessa conduta é o psiquiatra, quando a sua expertise aponta para essa necessidade.
Então, a opinião de que os manicômios mentais (atuais Hospitais de Custódia) ou institucionais (acredito que esteja se referindo ao Hospital Psiquiátrico), não devam existir, mostra um completo desconhecimento da necessidade dos pacientes mentais, pois colocaria aqueles que por fatalidade cometeram um crime dentro das celas com criminosos perversos por outra natureza, sem cuidados terapêuticos devidos; e aqueles que nas suas crises procurassem alguma instituição para ajuda, sem o Hospital Psiquiátrico João Machado existir em Natal, talvez o seu pouco fulgor mental e esforço da família não fossem suficiente para encontrar essa tal ajuda.
Outra informação tendenciosa, talvez por falta de conhecimentos, é que a Organização Mundial de Saúde (OMS) defende a extinção dos Hospitais Psiquiátricos. Pelo contrário, a OMS defende que para cada grupo de mil pessoas deveria ter um leito psiquiátrico. Assim, o país precisaria abrir mais 154 mil leitos para atingir a meta da OMS. O Ministério da Saúde no Brasil, sim, luta para acabar com os hospitais psiquiátricos com foco ideológico que infelicita não só a psiquiatria, mas toda a nação. O fechamento de hospitais psiquiátricos, que sucumbiram à lei, revelou a realidade do abandono familiar. Dois estudos na área da psiquiatria sugerem que muitos egressos desses hospitais morreram ou foram parar no sistema penitenciário. O pesquisador Fernando Portela, da Associação Brasileira de Psiquiatria do Rio de Janeiro, verificou que entre 1996 e 2005, segundo dados do próprio Ministério da Saúde, a mortalidade de doentes mentais aumentou 62,3%. Como concordar que técnicos que estejam aliados a essa coordenação mental do Ministério da Saúde que promove isso, esteja defendendo pacientes mentais?