Que este título sirva de “Declaração de Consentimento” assinado em pleno exercício de minhas faculdades mentais. Caso eu seja acometido de uma doença mental, que coloque o meu patrimônio em risco e a vida das pessoas ao meu redor, parentes, amigos ou desconhecidos, que a minha condição de exacerbação mental provoque destruição ao redor e fugas dos locais de acolhimento, agredindo quem queira me conter, sei que somente o Hospital Psiquiátrico terá competência para me conter e cuidar. A não ser que no Hospital Geral tenha enfermaria psiquiátrica com todos os recursos do Hospital Psiquiátrico, capaz de conter a minha insânia destrutiva sem perturbar os demais pacientes clínicos ou desconstruir a administração.
Claro, eu escolheria ir para o Hospital Psiquiátrico (Instituto de Psiquiatria) da Faculdade de Medicina da USP, por exemplo, ou mesmo no Hospital Psiquiátrico Severino Lopes ou Clínica Santa Maria, ao invés de ficar na carência coletiva do Hospital João Machado. Também não poderia contar com as enfermarias de psiquiatria do Hospital Onofre Lopes, pois elas não poderiam me conter sem desorganizar o serviço. Portanto, não é a questão do Hospital Psiquiátrico que irá direcionar minha opção, e sim os cuidados que os gestores tem com a instituição. O Hospital João Machado pertence à gestão estadual e obedece os princípios do Ministério da Saúde. Sua construção for terminada em 1957 e desde essa época não passou por nenhuma reforma significativa. Os recursos são limitados, a AIH que financia a internação do paciente psiquiátrico são insuficientes para cobrir todos os gastos. Se o governo do Estado não pagasse aos diversos funcionários, o Hospital já teria ido à falência. A gestão Estadual nem muito menos a gestão Federal faz a devida correção financeira para transformar o hospital num ambiente que o paciente seja tratado com dignidade e os técnicos valorizados em suas ações, sem clima de guerra promovida entre as categorias profissionais.
Assim, quero responder à provocação de que “se caso eu precisasse de um internamento psiquiátrico, eu escolheria um estilo Hospital Psiquiátrico João Machado, Hospital Geral, ou um Centro de Atenção Psicossocial”. Eu também nunca gostaria de me internar no Hospital Psiquiátrico João Machado, sabendo de suas deficiências por descaso das gestões estadual e federal, mas se eu for acometido com uma doença mental com as características que mencionei acima, e se não tiver recursos para ser deslocado para um Hospital Psiquiátrico melhor cuidado pela gestão, autorizo me manter no Hospital João Machado enquanto o responsável psiquiátrico achar necessário. E não serei o primeiro médico a se internar em Hospital Psiquiátrico, tenho certeza, sou testemunha disso, e também médico assistente de alguns. Saberia que minha crise iria ser combatida com a melhor expertise dos colegas e que logo que eu tivesse melhorado receberia de volta a liberdade que eu perdi com a crise da doença mental.
Espero que essas posições sirvam de reflexões para todos os técnicos que atuam na área psi, principalmente dentro dos Hospitais Psiquiátricos; que reconheçam o grande serviço prestado por essas instituições e passem a defende-las dos ataques da ignorância, da maldade ou da perversidade. Se há criminosos dentro delas, que sejam denunciados e punidos.