Ao me dirigir para o local da hidroginástica, caminhando pela beira da praia, encontrei um conhecido que me cumprimentou e vi que ele estava acompanhado de uma pessoa embriagada, que ia com andar vacilante, risos imotivados e olhar azougado, vagando por entre os obstáculos do caminho.
Vendo esse cenário com tal pessoa, e comparando com o meu comportamento dentro do mesmo cenário da praia, procurei dar logo uma interpretação espiritual.
Sei que nosso corpo é comandado pelo espírito e que Deus colocou dentro do nosso corpo um monstro chamado Behemot que tem a função de nos proteger. É um monstro sem consciência moral, que se motiva pelo prazer que o corpo pode oferecer, não importa quão pernicioso seja esse comportamento, desde que ofereça o prazer.
Por outro lado, o espírito que é o detentor da consciência, dos valores éticos e morais, deve ter a energia suficiente para controlar os desejos do corpo na expressão do Behemot.
Então, minha caminhada nessa hora da manhã, obrigando o meu corpo a sair do prazer de estar na cama, de enfrentar uma hora de exercícios, tem as características de um comportamento dirigido pelo espirito. Mas, aquele comportamento do ébrio, que talvez tenha passado a noite nos prazeres da orgia do álcool, tem as características de estar sendo dirigido pelo Behemot.
Visto assim, são dois corpos que se movimentam na praia, um dirigido pelo espírito, outro pelo Behemot; um tem a consciência do que está acontecendo, o outro não tem a menor compreensão do mundo espiritual.
Posso estender esse raciocínio para toda a humanidade. A grande maioria vive sob o domínio do Behemot, muitos lutam apenas pela sobrevivência, sem qualquer noção de um mundo espiritual. Esse tipo de ignorância permite a existência dos diversos tipos de misérias, desde aquelas clássicas, da indigência, da fome, até aquela suntuosa, da riqueza construída com o suor e o sangue de terceiros e que delas não participam.
O nosso papel enquanto educador e principalmente enquanto religioso, espiritualista, é informar sobre o mundo espiritual, da ilusão passageira do mundo material, da necessidade de evoluir no campo moral.
A rotina de cada um está muito envolvida com as necessidades materiais, afinal vivemos num mundo material. Os sentidos estão voltados para o trabalho, a família, o lazer e até o prazer. O compromisso espiritual que possamos adquirir não tem uma objetividade em cumprir o exigido pela Lei do Amor, pela vontade de Deus na consciência. Parece que tudo termina no cumprimento de dogmas e rituais para atender um Deus que está cheio de crimes contra a humanidade, como observamos no Deus do Antigo Testamento, no Deus dos Exércitos.
Procuro desenvolver um comportamento associado aos deveres espirituais, de fazer a vontade de Deus assim como Ele colocou em minha consciência, mas procuro fazer isso sem explicar a quem está próximo, pois sou muitas vezes levado ao ridículo e outras vezes repudiado quando o interesse de quem ouve não se adequa ao que ela espera de mim.
Cada vez mais eu compreendo o que Deus deseja que eu faça, de controlar suficientemente o Behemot, e assim entendendo não tenho pruridos em desviar do meu caminho para atender as necessidades de cunho egoísta de qualquer pessoa, mesmo tendo a maior proximidade biológica de mim, pois a espiritual até agora ninguém chegou tão perto que não se sinta melindrada com minhas ações.
Procuro controlar assim o meu Behemot e deixar cada vez mais o meu corpo capaz de realizar a vontade de Deus. Essa reflexão que faço a partir do momento vivido na praia mostra que estou sintonizado com a compreensão adquirida do mundo espiritual, mesmo sabendo que o Behemot dentro de mim ainda é muito forte e que está sempre levando o meu comportamento para onde não devo ir, como é o caso do jejum que pretendia fazer com rigor nesta quaresma e na segunda semana sofre grande derrota.
Mas continuarei a lutar...