Hoje é o dia destinado ao reconhecimento de José como o pai de Jesus, um pai que foi reconhecido pelos milênios como pessoa de boa índole, apesar de passar quase invisível na educação de Jesus, a não ser por ter ensinado a sua profissão de marceneiro.
Foi neste dia que recebi uma mensagem da mãe do meu quarto filho, do qual deixei a sua convivência quando ele tinha 18 anos, época que havia passado no vestibular. Ela falava o seguinte nessa mensagem:
“Aproveitando para lhe agradecer por também ajudar E. a estar se encaminhado bem na vida. Os frutos de hoje são consequências de toda uma vida em que você também se fez presente de uma forma ou de outra, de acordo com as circunstâncias e limitações de cada momento. De coração: muito obrigada!”
Senti-me na obrigação de fazer esta reflexão sobre o meu papel de pai. Tenho que fazer a distinção em dois momentos da minha vida. O primeiro no qual eu acreditava no amor romântico como sinônimo de amor incondicional, não fazia distinção entre os dois e procurava manter a minha vida dentro do exclusivismo da família nuclear. Nesta primeira fase construí três filhos junto com minha primeira esposa. Foi nessa época que a força dos meus sentimentos e da minha coerência interna juntando os conhecimentos adquiridos sobre a natureza do Amor Incondicional, das lições espirituais, principalmente as lições do Cristo, e a importância de coloca-las em prática como um caminho a ser seguido pela energia criadora, que fez eu mudar radicalmente os meus paradigmas de vida. Os filhos que eu construí neste primeiro momento, acredito que sofreram, talvez mais do que eu, a força dessa mudança, no afeto, na presença, no apoio material. Mas tenho a compreensão de uma justificativa que atenua minha culpa, se acaso eu tiver, pois como não sei da verdade integral, posso estar cometendo graves erros. Não sai da companhia deles enquanto pai por minha decisão, e sim por expulsão. Minha companheira não conseguiu tolerar mais a minha forma de agir e decidiu de forma emocional me expulsar de casa. Então eu sai de casa, da companhia deles, com aquilo que eu tinha me tornado. Um amante incondicional, defensor e praticante do amor inclusivo em todos os relacionamentos, inclusive os relacionamentos íntimos.
Os dois filhos surgidos no momento seguinte, de outros relacionamentos com parceiras diferentes, já era do conhecimento delas essa minha nova conduta, isso nunca foi escondido de ninguém. Mesmo que os filhos sentissem a minha ausência enquanto pai, pois a minha conduta implica necessariamente nessa consequência, as mães teriam o dever de advertir e informar aos nossos filhos que era essa a natureza do pai que elas num determinado momento aceitaram para os seus filhos, de forma direta ou indireta, voluntária ou involuntária, mas nunca de forma forçada.
Por esse motivo não posso reivindicar de ninguém o reconhecimento de um pai presente, que cuida em todos os momentos das necessidades dos filhos. A mãe passa a ter um papel muito mais importante que a demais mães que convivem com seus companheiros dentro de uma perspectiva do amor romântico, da família nuclear, do amor exclusivo. Mas posso fazer uma aproximação com São José, que mesmo reconhecendo ser o pai adotivo de Jesus, sempre estava ao seu lado, educando-o da forma que ele podia, mesmo sabendo que seu filho era um espírito de mais alta estirpe, com um Pai infinitamente superior.
Também procurei ensinar o que eu podia aos meus filhos, enquanto estava próximo e mesmo à distância; sempre me mostrei atento às suas necessidades materiais, já que as sentimentais eu não podia cumprir a contento, dado o caminho que eu entendia dever trilhar. Apesar disso, eu estava disposto a paralisar por enquanto essa caminhada, se por acaso qualquer filho tivesse alguma necessidade urgente de minha presença, de minhas ações.
Hoje posso fazer esta reflexão e voltar meu olhar para o passado, comparar com o presente e imaginar o futuro, tudo está dentro da perspectiva que agora eu faço do caminho que escolhi, das motivações que aceitei como corretas. Meus filhos todos estão com bons encaminhamentos e todos apesar de adultos sentem a minha presença de pai como um fator positivo em suas vidas, mesmo que sintam as dores do passado. Mas, acredito que também percebem a coerência de minhas ações e imaginam as consequências pelas quais eu não posso fugir, inclusive de um afeto mais forte e da minha existência sozinho dentro de um apartamento no qual ninguém consegue conviver comigo sem sofrer as fortes dores dos meus paradigmas tão estranhos ao mundo em que todos vivem.