A história de Jacó, descrita na Bíblia, mostra dados interessantes na relação afetiva dele com suas esposas e com o resto da tribo, principalmente nos tratos que fez com Labão. Chama a atenção que a relação monogâmica não era uma lei absoluta, mas que o ciúme das mulheres sempre estava presente. Na relação de Jacó com as quatro filhas de Labão, duas tinham o papel principal, a mais velha, primogênita, Lia, e a mais bela, Raquel. O que me chamou a atenção foi que o ciúme entre as quatro irmãs foi vencido, pelo menos na aparência, e elas se comportavam como as mães de cada filho de cada uma que nascia. Essa circunstância assim construída, ainda que seja com bases materiais, parece muito com a família universal que deverá compor o Reino de Deus ensinado por Jesus.
Lia demonstrou que era a mais perspicaz, conseguiu colocar o ciúme em segundo plano e aceitou o relacionamento afetivo do marido com a sua irmã Raquel, a quem ele considerava a mulher do seu coração. Mas foi Lia quem lhe deu o maior número de filhos, organizava o sentimento das demais irmãs e até colaborava com a política administrativa da tribo.
Quando Jacó brigou com o sogro e resolveu sair para a sua terra e fazer as pazes com seu irmão Esaú, procurando o seu perdão, Lia mais uma vez o apoiou e puxou para si a responsabilidade de falar com as mulheres. Não vacilou ao ficar com o marido, dizendo que o seu lugar era onde ele estivesse, mesmo que o seu pai fosse abandonado por essa decisão.
Hoje esse comportamento poligâmico de Jacó seria criticado pela nossa cultura atual, mas de forma hipócrita é aceito pela maioria dos homens que se relacionam com outras mulheres fora do casamento, em adultérios masculinos que são bem tolerados, enquanto os adultérios femininos são fortemente condenados.
A minha compreensão sobre pertencer a família universal e ser cidadão do Reino de Deus, como Jesus ensinou, passa um pouco pelo comportamento de Jacó e suas esposas, principalmente Lia. Aplicando o Amor Incondicional nessas relações afetivas entre homem e mulher, acredito que chegaremos naturalmente a essa conjuntura do amor inclusivo, da ausência do ciúme, da harmonia entre os parceiros.
Não vou buscar parceiras dentro de uma mesma família, como aconteceu com Jacó. O meu mundo atual é muito maior que o de Jacó, tenho uma maior quantidade de mulheres que se relacionam comigo. Já tenho a compreensão dessa família universal e já entendo, como Jesus ensinou, que o meu pai, a minha mãe e os meus irmãos, são todos aqueles que acreditam e cumprem a vontade do Pai.
Com essa percepção, a aproximação afetiva e possível aprofundamento sexual, seguindo com rigor a lei do Amor Incondicional, vai levar naturalmente a essa relação que hoje se constrói ao meu redor. Sei que tudo isso ainda flui no campo das intuições, pois eu não vejo em nenhum livro ou lição espiritual de qualquer fonte, esse comportamento que procuro implementar, com todos os paradigmas que o sustentam.
Até parece um pouco fácil essa construção de família ampliada com o homem no centro dos relacionamentos, como se fosse o paxá, o homem exclusivo da relação, muito comum nos comportamentos tribais dos povos primitivos. Acredito que a aplicação da lei do Amor com integridade e sem preconceitos, inclui também a participação de outros homens. Esse é o fator que foge totalmente da história antropológica da humanidade, onde o homem se aproveita da situação poligâmica e constrói harém para o seu prazer e poder, exemplo de Salomão, o homem mais sábio segundo a Bíblia, que tinha 700 esposas e 300 concubinas.
Felizmente o Deus de Justiça que Jesus nos ensinou a chamar de Pai, é muito diferente daquele Deus, Senhor dos Exércitos, que privilegiava os povos que considerava como seus e arrebentava aqueles que pensavam de forma contrária.
Enfim, tenho essas lições do passado, dos livros sagrados e tenho a lição atual do Mestre Jesus. Cabe agora a minha consciência seguir o caminho que com mais propriedade me levará para perto do seio do Pai, mesmo que ao meu redor as opiniões sejam contrárias.