Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
04/04/2016 23h59
ATA-ME

            Assisti ao filme produzido em 1990, do diretor espanhol Pedro Almodóvar, com o título acima, onde o personagem Ricky, contava os dias para sair do reformatório psiquiátrico e finalmente poder reencontrar Marina, uma atriz de filmes “B”, que havia tido uma relação com ele, mas não tinha deixado nenhuma ligação. Seu plano era invadir o seu apartamento, amarrá-la na cama e esperar até o momento em que ela se apaixone por ele.

            Considerei o filme como bom, mas a mensagem que ele passou, apesar de ser possível de se realizar, é politicamente incorreta. Como uma pessoa deseja forçar o sentimento de amor para ele por outra pessoa? É isso que o filme procura mostrar com toda a sensibilidade técnica própria do Almodóvar, em desenvolver temas polêmicos.

            A atriz reage com raiva à brutalidade sofrida, a se manter em cárcere privado. Como ela é dependente química e ele não tem escrúpulos de ir em busca de sua droga, termina se envolvendo em briga onde volta para casa machucado, ferido e sangrando. Quando ela o ver nessa situação, que foi causada pela bondade dele ter ido em busca da sua droga, desenvolve um sentimento de compaixão que logo se transforma em desejo sexual e paixão.

            Finalmente o Ricky atinge o seu objetivo. Marina se envolve plenamente no ato sexual mostrando todo carinho e tesão durante a relação. Almodóvar tenta mostrar que é o ato sexual o elemento cristalizador do sentimento de amor. Mas fica uma pergunta que Almodóvar não se preocupou em responder. E se Ricky tivesse tudo para realizar o seu desejo como realmente fez, mas se faltasse a potência sexual, se fosse uma pessoa sem condições de usar o pênis, essa condição de transformar um ato de brutalidade em amor conseguiria ser realizado?

            Almodóvar chega perto de responder a essa questão, pois o diretor do filme em que Marina era a atriz principal, era apaixonado por ela, queria lhe ver constantemente em cena, aproveitava os momentos em que ela se expunha para se deliciar mentalmente, pois era cadeirante e não podia ter relações sexuais tradicionais. Ele se contentava em ficar assistindo em casa as cenas de erotismo dos filmes em que Marina era a protagonista, mesmo na presença da sua esposa, que via tudo, constrangida, mas sem forças para impedir. Pois bem, esse diretor, apesar de ter mais poder e dinheiro do que Ricky, nem de perto chegou a transformar o sentimento de Marina como Ricky conseguiu.

            Portanto, uma conclusão que se pode tirar das entrelinhas do filme, é que a potência sexual, acima de qualquer brutalidade, é o fator mais importante na possível virada de um sentimento carregado de desejo. Essa é outra correção que poderia ser feito, pois ao se perseguir uma pessoa com brutalidade para se atingir o prazer dessa relação, isso não é o amor puro, incondicional, que jamais machucará ninguém para alcançar qualquer tipo de desejo.

            Mas é um bom filme, deixa triunfar a harmonia entre os envolvidos, mesmo com atos incoerentes.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 04/04/2016 às 23h59