Este texto é uma tentativa de resposta a um amigo que interrogou com veemência o texto anterior que eu produzi, “Duelo de Consciências”, onde ele colocava o problema desse duelo como algo concreto, “classes sociais”. A minha resposta não tem a convicção de ser a verdade real pela qual a minha consciência tenta se manter, eu posso estar equivocado nas minhas interpretações, e por isso tento dissecar os meus pensamentos com a máxima distância possível de meus conceitos já pré-formados, tentando descobrir a verdade que pode estar com o meu interlocutor.
Acredito que tudo que se reflete na realidade tem como base e causa o que surge no pensamento, que por sua vez se estrutura e toma forma no campo da consciência vigil. Então, quando falo “duelo de consciências”, quero dizer conflito de pensamentos que estão construídos sobre a base ampla da consciência.
Inicialmente a consciência, dominada pelos instintos, tende a desenvolver ações egoístas, próprias da idade infantil. É o processo educacional em todos os níveis, lar, escola, igrejas, que deve corrigir essa tendência atávica e nos levar a um comportamento ético de relacionamento fraterno e justo. Como no desenrolar da vida as opções de conduta são as mais diversas, e o interesse egoísta atávico ainda prevalece na consciência da maioria, é importante que haja transparência nos atos e justiça nas relações.
Nessa luta de interesses dos indivíduos em busca da sobrevivência dos mais aptos, no sucesso amplo: reprodutivo, profissional, financeiro, acadêmico, eclesiástico, etc., surgem os argumentos mais diversos e geralmente contraditórios. Nesse ponto é importante que a Verdade surja através dos nossos recursos cognitivos, a coerência, a lógica, cujo ponto máximo é a Justiça.
Com esta perspectiva vamos observar que a sociedade se fragmenta dentro de uma hierarquia que justifica o termo classe social, e geralmente no predomínio do mais forte sobre o mais fraco. O mais forte para conquistar e se manter no poder, passa a usar subterfúgios para escapar da coerência, da lógica e da justiça, na relação com os outros. As classes sociais menos favorecidas tentam se fortalecer no coletivo, mas infelizmente são muitas vezes boicotadas pela consciência de seus dirigentes que se deixam encantar pelo poder atávico do egoísmo.
Esta é a minha visão quando vejo as ruas cheias de gente. Quando vejo o predomínio do vermelho, vejo também o predomínio de sindicatos, de classes sociais organizadas, tenham ou não consciência do que está acontecendo. Geralmente a consciência dirigente que está no comando dessa movimentação, tem os seus interesses individuais muito mais beneficiados do que o interesse da massa que ele desloca. O caso marcante é o da Petrobrás. Todos sabem do desastre que o atual governo causou na Petrobrás, da queda vertiginosa de todos os índices financeiros, do prejuízo maciço dos investidores. No entanto, os dirigentes da categoria convocam seus filiados para irem à rua defenderem esse mesmo governo que sucateou a empresa, que ameaça os empregos e até a falência da estatal. Onde está a lógica desse comportamento à nível coletivo? Só vou encontrar a lógica à nível do interesse individual dos dirigentes...
Agora, onde está o contraditório? Onde estão as consciências que analisam a conjuntura e possuem a liberdade de colocar o seu pensamento nas ruas através de faixas, placas e bonecos? Existem e estão aí, facilitados pela net e motivados pela verdade que a justiça divulga, mas com a dificuldade de não ter uma consciência diretiva. Os pensamentos colidem uns com os outros e a força potencial que existe nas consciências livres não se expressam convenientemente. Os políticos que seriam os líderes naturais desse movimento, estão por demais comprometidos para terem a confiança total das consciências livres.
Esta é a minha compreensão quando vejo as ruas em conflitos representados pelas lutas de classes, pois vejo por trás dessa massa que se move as consciências que as dirigem, geralmente representado por um símbolo, um líder personalista, carismático, que persegue uma determinada meta, mesmo que isso implique na destruição da própria sociedade que a mantem.
Lembremos de Hitler, de sua capacidade de manipulação da consciência dos cidadãos com as mentiras tantas vezes repetidas até se tornar uma verdade, como era apregoado na surdina; de identificar adversários judeus para eliminá-los nas câmaras de gás; de sonhar pela raça pura e assim encher os exércitos, as escolas e as praças públicas com imensos contingentes. Por trás de toda essa movimentação existia sempre as consciências a manipulá-las.
Portanto, assim é a minha consciência povoada por esses pensamentos. Caso eu esteja equivocado, gostaria de ter os argumentos para mudar essa minha opinião, como já mudei tantas vezes na vida.