Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
19/04/2016 23h59
CASO CLÍNICO ABC (02)

A paciente não compareceu a nenhuma das atividades disponibilizadas, a reunião de estudo na terça feira ou o curso na sexta feira. Telefonou informando que não foi possível a vinda. Pergunta se é possível fazer a solicitação dos exames que já havia feito uma vez. Sua preocupação está centrada na saúde, chegando próximo de uma interpretação psicótica. Não existe nenhuma indicação clínica de doença manifesta, os exames anteriores não apontaram para nenhuma anormalidade.

A paciente tem um histórico forte de frustações afetivas, chegando ao nível da agressão física, associado a falta de um amor correspondido ou mesmo algum nível de cumplicidade com os companheiros. A possibilidade de gerar filho indesejado ou adquirir doenças venéreas, constitui uma preocupação com base no passado, mas com fortes reflexos no presente.

As informações que são dadas parecem ficar num nível superficial, onde a busca de uma maneira de identificar uma doença que tem uma existência real nos seus pensamentos é o principal objetivo na consulta.

Também as consultas que ela frequenta são insistentemente incentivadas pela família, inclusive o uso da medicação, pela qual a paciente tem ojeriza.

O quadro clínico se mantém nesse perfil, com o diagnóstico provável de depressão com sintomas psicóticos, em função dessa forte preocupações com doenças que não são diagnosticadas.

A estratégia seguinte que foi elaborada de comum acordo, foi que ela escrevesse textos sobre os seus pensamentos, sentimentos e comportamento, para que fosse avaliado e dado um feedback. Infelizmente até o momento essa ação não foi concretizada.

Poderia pensar que a paciente não fez um bom rapport com o terapeuta, mas não é isso que eu avalio. Percebo que ela tem um bom relacionamento comigo, procura ter a confiança de usar um medicamento que foi prescrito, mas no ambiente doméstico volta a prevalecer a dúvida com a saúde e que o remédio para corrigir o estresse ou outra doença psíquica, não é necessário.

Então, nessa fase do tratamento, o importante é fortalecer os laços de confiança para que o medo da conduta a ser empregada seja superada.

Um fator que dificulta da minha parte, é a crônica falta de tempo por excesso de trabalho. Esta psicoterapia poderia ser conduzida por um psicólogo e eu estaria no controle da psicofarmacologia, como faço frequentemente no consultório. Porém a paciente demonstra com clareza e firmeza, que não deseja procurar outro psicólogo, pois não sentiu melhora com essa ação. Sei que essa desculpa está dentro do seu perfil psicológico de não se entender como uma pessoa com transtorno psiquiátrico, e por isso boicota até mesmo de forma inconsciente todas as opções que lhes são dadas.

Da minha parte já abri os espaços que tenho ainda disponíveis, mesmo que sejam em locais impróprios, para dar seguimento com um mínimo de psicoterapia que o caso requer.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 19/04/2016 às 23h59