Ao ler pela segunda vez o livro “Paulo e Estêvão” (Emanuel/Chico Xavier) voltei a refletir sobre a ação do judeu Jochedeb, patriarca de sua família espoliada pelos romanos, que na tentativa de corrigir os abusos que sofria procurou a autoridade, e esta, sem nenhuma sensibilidade lhe tomou o resto de bens materiais que ainda possuía. Voltava para casa abatido, desamparado, quando ao passar pela propriedade do seu “carrasco”, num gesto de vingança ateou fogo que se alastrou por todos os cantos, destruindo os bens e ferindo as pessoas que trabalhavam no lugar. De repente o ancião passou de vítima a réu, não importava que seu ato foi em decorrência da justiça que sofria. Se as leis humanas não corrigem os erros que se praticam, e muitas vezes como foi o caso, até aumentam mais as injustiças, nós como filhos de Deus não podemos destruir ao que está ao nosso redor como forma de correção. Devemos saber suportar o peso das injustiças quando percebermos que não podemos modificar o estado de coisas, e esperar pela justiça divina que nunca irá faltar, mesmo que demore a chegar.
Foi refletindo nessa justiça divina para aqueles que se consideram filhos de Deus, que o autor repetiu um dos salmos que está na Bíblia (salmo 23) e que devem reforçar nossa mente naquilo que podemos ou não fazer. Por conspirar bastante pertinente com o que observo ao meu redor, que reproduzo o que Chico, já reproduziu da mente de Emanuel:
“O Senhor é meu Pastor
Nada me faltará.
Deitar-me faz em verdes pastos,
Guia-me mansamente
A aguas mui tranquilas,
Refrigera minhalma,
Guia-me nas veredas justiça
Por amor do Seu nome.
Ainda que eu andasse
Pelo vale das sombras da morte,
Não temeria mal algum,
Porque Tu estás comigo...
A Tua vara e o Teu cajado me consolam.
Preparam-me o banquete do amor
Na presença dos meus inimigos,
Unges de perfume a minha cabeça,
O meu cálice transborda de júbilo! ...
Certamente,
A bondade e a misericórdia
Seguirão todos os dias da minha vida
E habitarei na casa do Senhor
Por longos dias...”
O velho Jochedeb acompanhava o cântico dolorido do salmo, sentindo-se opresso de amargosas emoções. Começava a compreender que todos os sofrimentos enviados por Deus são proveitosos e justos, e que todos os males procurados pelas mãos dos homens trazem invariavelmente, torturas infernais à consciência invigilante.
Este salmo que não foi seguido pelo ancião, deve estar sempre presente na mente de quem se considera filho de Deus, mesmo que todos, acreditem ou não, são apascentados pelo mesmo pastor que os criou. Isso acontecendo, em qualquer dificuldade saberemos que estamos sempre sobre a produção do maior poder que existe no Universo. Deixamos de nos sentir injustiçados, pois se falha a justiça humana, jamais falha a justiça divina.