Li numa edição extra da History Brasil uma matéria sobre Jesus, informação que traz a credibilidade da BBC History. A primeira manchete que inicia as reportagens tem o título “Jesus, o misteriosíssimo” e adverte que a única certeza quando se fala sobre o Cristo, em termos históricos, é que alguém não contou muito bem os fatos, como mostram as evidências, e que a busca por esse Jesus histórico, que possa ser descrito fora dos livros religiosos, ao contrário do que muitos possam imaginar, não é uma tentativa de negar a sua existência, mas sim a de resgatá-lo enquanto o grande pregador, cujas palavras deram origem à maior religião de toda a história da humanidade. Para isso é preciso descartar as fontes elaboradas posteriormente e suspeitas de contaminação, ou seja, criadas a partir de um viés religioso, um tanto quanto obcecado em comprovar algo de antemão como verdade.
É esse processo racional humano que traz grandes dificuldades, quando grupos citam alguns fatos dos seus interesses e elaboram um raciocínio sobre eles, interpretando ou mesmo incluindo adendos da sua própria imaginação enviesada para dar atestado de verdade a ideia que é defendida. Isso se observa atualmente na crise política e econômica em que mergulhou o Brasil, com grupos antagônicos usando os dados enviesados para atestar que estão com a verdade, entrando no paradoxo de que os grupos antagônicos são portadores de verdades diferentes para uma mesma realidade.
Isso aconteceu também com o fato “Jesus” e a sua interpretação para construir a religião cristã. Tudo que sabemos com mais riqueza de informações está no Novo Testamento ou nos chamados Evangelhos Apócrifos, que são livros essencialmente religiosos. Embora tenham também seu valor histórico e seja uma inesgotável fonte para estudos socioculturais sobre o passado e o próprio personagem “Jesus”, foram elaborados a partir de uma convicção transcendental e portanto a veracidade do seu conteúdo é “contaminada” pela fé.
O foco desses livros não é fazer uma biografia do Cristo, mas sim revelar a palavra de Deus. O professor James Charlesworth, da Universidade de Princeton, especialista em Novo Testamento, é categórico ao defender que “uma biografia de Jesus é, e sempre será, impossível. São apenas escassas nossas fontes quanto a vida de Jesus. Os evangelistas não estão primariamente interessados em Jesus como uma pessoa do passado.
A própria autoria dos evangelhos admitidos pela Igreja como “autênticos” pode ser facilmente colocada em dúvida. Se Marcos, Mateus, Lucas e João realmente os escreveram, os originais deveriam estar em hebraico. Mas não há nenhum “original”, os fragmentos e cópias mais antigos que sobreviveram estão todos em grego e datam de muito tempo depois de Cristo. O mais antigo desses fragmentos que se conhece é de mais ou menos do ano 125 e contém apenas um pequeno trecho do Evangelho de João, supostamente escrito entre os anos 70 e 90. Trata-se do chamado Papiro Rylands, encontrado no Egito no início do século XX.
Essas dificuldades são suficientes para derrubar a fé raciocinada que procuro nutrir na figura de Jesus e em nossa paternidade divina? Não, pois essa pesquisa não está indicando que tudo isso é mentira, mas que podem ter sido escrita de outra forma, introduzindo conteúdos de acordo com a fé do autor e não com a sustentação dos fatos.
Vejo todo esse esforço de busca da verdade ou pelo menos de despi-la dos mantos enviesados, com muito respeito. E estou disposto a redirecionar minha fé se os fatos reais descobertos vierem a mostrar que estou errado em algum ponto. Enquanto isso continuo seguindo a vontade de Deus de aplicar na prática a Lei do Amor, conforme Ele colocou na minha consciência, seguindo o exemplo do Mestre Jesus, do qual tenho confirmada a presença material dEle na Terra, mesmo que eu não saiba com segurança como foram seus passos.