Ao vir para o apartamento estava refletindo na forma que eu deveria abordar a prostituição, como fazer para oferecer uma ajuda às meninas que vendem seus corpos, como aquela ajuda que já faço com os dependentes químicos. Sempre que estou chegando ou saindo de casa eu as vejo colocadas estrategicamente nas esquinas e sempre fico a pensar sobre isso.
Por coincidência, hoje ao passar pelo conjunto Potengi, com essas mesmas preocupações na mente, tinha uma garota por volta dos seus 18 anos, em pé, na beira da calçada por onde o meu carro se dirigia. Ao passar próximo, ela subitamente baixa a sua blusa deixando ver os seus seios aureolados pelos mamilos, que apesar da penumbra do local dava para perceber o dégradé moreno da pele, com suas protuberâncias eróticas. Era um claro convite gestual para um programa libidinoso. Como sempre, a minha mente não funciona tão rápido como eu desejo e somente quando já estava a cerca de 300 metros de distância fiquei a pensar: será que não foi a oportunidade que Deus estava me dando para iniciar esse trabalho, pois eu estava pensando como fazer essa tarefa quando de repente surgiu a oportunidade?
Bem, mas eu já estava distante, não era adequado eu voltar para abordar a moça... ou era? Mas como iria fazer essa abordagem? Convidaria ela para entrar e passava a negociar o tempo que ela iria ficar comigo, sem incluir nessa negociação o ato sexual. Poderia pagar a ela o tempo previsto para um programa, e depois de acertado iria com o cronômetro ligado para conversar em algum lugar, de preferência num restaurante ou barzinho. Poderia ir para um motel, seria algo mais discreto, dificilmente alguma pessoa conhecida iria me reconhecer com uma prostituta ao lado. Mas eu não tenho nada a esconder de ninguém, teria consciência que estava à serviço do Pai e qualquer crítica ou mal entendido não iria me envergonhar. Porém, ficar dentro de um motel com uma prostituta que estava a meu serviço, seria uma ousadia para o meu espírito enfrentar, a onda de desejo que certamente os instintos carnais iriam despertar, e sei que não sou nenhum Jesus Cristo ou Chico Xavier para me sair bem desse confronto. Já tenho a experiência com a alimentação, pois entro no restaurante querendo comer limitado e de repente estou com o prato cheio. Porque seria diferente com essa garota ao meu lado, num ambiente apropriado, podendo me servir à vontade como no restaurante... o que me garantiria que eu iriam me controlar? Não, definitivamente, eu não poderia correr esse risco. Deveria leva-la para um local público onde meus instintos estariam mais controlados.
Mas o que eu iria dizer para ela? Neste ponto inicial eu imagino que ela estaria pensando que tipo de tara eu queria fazer com ela, ao propor um negócio tão diferente. Certamente estaria armada, na expectativa do que poderia ser exigida.
Eu iniciaria me identificando, com nome e bairro onde moro. Diria que faço parte de uma Associação que tem motivação cristã e que pretendemos ajudar ao pessoal que vive na prostituição, assim como já ajudamos aqueles que usam abusivamente ou são dependentes de drogas. Perguntaria a ela em que eu poderia ajudar, pois não tinha ainda uma ideia ou projeto determinado.
Este seria o início da conversa, e acredito que a minha postura, educada e respeitosa para com ela, a desarmaria. Agora eu não sei o que ela poderia propor de ajuda tanto para ela quanto para suas colegas. Se iria ser tão honesta comigo quanto eu estava sendo com ela.
Esta reflexão serve como a metodologia do trabalho que irei realizar. Talvez o Pai tenha objetivado isso mesmo, provocar na minha mente um encadeamento de ideias para chegar a essas conclusões que cheguei.