Uma das maiores consequências do uso da liberdade, é a responsabilidade. Não podemos ser livres para fazer qualquer coisa que nos venha à mente, sem pensar na responsabilidade por esse ato.
A história passada nos mostra a decisão de um gestor lotado em Jerusalém que foi chamado à responsabilidade de julgar um homem acusado de ser filho de Deus, de ser o rei dos judeus. Os sacerdotes manipularam a opinião pública para exigir daquela autoridade governamental, que representava o poder romano, uma sentença de morte. Pilatos sabia que aquele homem era inocente, mas foi colocado frente a astúcia dos doutores judeus, de que Jesus, como dizia ser rei, e ele, Pilatos, representava o imperador, que era o seu rei, e então, não crucifica-lo seria desobedecer ao seu rei, não cumprir a sua responsabilidade. Com esse sofisma, o pusilânime, irresponsavelmente com a justiça, mandou crucificar o justo, lavando as mãos para liberar-se da culpa.
Observamos tal “responsabilidade” na história recente do nazismo na 2ª Guerra Mundial. Os líderes civis e militares cometeram os mais terríveis crimes contra a humanidade, o holocausto dos judeus, a mentira sistemática para alcançar o poder e se perpetuar nele, inclusive invadindo de forma militar as nações ao derredor. Um desses oficiais, Adolf Eichmann, acusado de 15 crimes gravíssimos contra a humanidade, nos campos de concentração, pessoa responsável pela morte de milhões de judeus, reconhecido através das provas mais diversas, respondia sistematicamente aos juízes quando era indagado se ele se considerava culpado ou inocente das acusações que: “na essência da acusação, era inocente!”. Certamente porque estava obedecendo ao seu líder, que essa era sua responsabilidade.
Na história contemporânea podemos citar o Brasil durante o governo do PT. A justiça consegue prender acusados e mostrar provas suficientes para a condenação de seus militantes em posição de mando, de atos de corrupção que deterioram o país e suas instituições, de drenagem de recursos para países que sintonizam com a mesma forma de administrar, de fomentar a guerra interna entre classes, comportamentos ou mentalidades. Por força da mobilização popular que encheram as ruas em todos os estados, a presidente eleita sob as mais diversas suspeitas, termina sendo afastada de forma democrática pelo crime de responsabilidade, pelo procedimento constitucional do impeachment, para julgamento promovido pelo Superior Tribunal de Justiça. Mais uma vez observamos pessoas usando sofismas, independentes do grau de instrução de cada uma, para retirar do patamar criminoso o crime de responsabilidade dos seus líderes.
Da mesma forma que Pilatos lavou as mãos, que Eichmann se declarava insistentemente inocente, vemos no pais pessoas que levantam a tese absurdamente ilógica da existência de um golpe. O que vale aqui considerar não são as pessoas ainda sem consciência crítica que defendem essa tese simplesmente como um espelho que reflete uma opinião, sem condições de avaliar a realidade e justificar o crime de destruir uma nação. O que vale aqui é aprender qual o mecanismo psicológico que pessoas honestas e de capacidade intelectiva suficiente para perceber o desastre em que a nação está mergulhada, não conseguem perceber a farsa que é montada pelos seus líderes desmascarados. Sabemos que as características de ser tímido, pusilânime, medroso ou aproveitador é quem mantém uma pessoa atrelada a uma responsabilidade subalterna, que não tem liberdade de ir de se opor, que é uma pessoa por esses motivos, submissa! Mas quem não tem essas características de personalidade, deficitárias, a ponto de se tornarem submissas ao “rei”, quer seja um imperador romano, um líder nazista, ou uma “presidenta”, qual o fator que está operando?
Talvez seja a ignorância de algum fator por mim ignorado, pois todos que são apresentados até agora não são justificáveis frente a responsabilidade ética. A minha consciência continua acusando Pilatos, Eichmann e tantos que gritam “é golpe!”