O desabrochar da consciência é um processo lento e contínuo, processo que acontece de dentro para fora, com a vontade concentrada em busca da meta essencial.
No caminhar evolutivo iremos um dia alcançar a plenitude. Por enquanto ainda estamos longe, mas já estamos obtendo a consciência do processo. Devemos lembrar o que acontece com as plantas. No início é uma semente e essa terá que morrer para que a planta possa existir. Assim é como ocorre com a nossa plenitude espiritual. De início ocupamos corpos que devem morrer após servir a nossa instrução e cada vez mais iremos adquirindo a plenitude consciencial até não haver mais necessidade de ocupar nossa semente corporal.
O sofrimento é um fator importante nessa jornada evolutiva. Como somos criados na forma de espíritos simples e ignorantes, iremos fatalmente cometer erros devido o nosso grau de ignorância. Para a correção desses erros é que vai existir a necessidade do sofrimento e a repetição da experiência na carne enquanto for preciso. Esse é o processo de maturação e libertação espiritual dos instintos egoístas da carne.
O indivíduo na fase primitiva da sua emersão da condição animal para humana, não tem a consciência para compreender o sofrimento. Sua consciência é amorfa, coletiva, sujeita aos instintos primitivos, as paixões primárias. Vive como se estivesse num sono sem sonhos, sem auto identificação, sem conhecimento da realidade espiritual.
Para o espirito sair desse estado bruto é necessário ficar livre das impurezas adquiridas no percurso de sua evolução pelos diversos reinos materiais. Da mesma forma que acontece quando encontramos uma pedra preciosa e precisamos lapidar para retirar as impurezas e assim adquirir o valor real.
A evolução da consciência do espirito vai necessitar passar pelo buril do sofrimento, quer seja físico, psicológico ou moral, para se livrar das impurezas. Lembremos daquela passagem do Evangelho na qual a mulher ia ser punida pelo apedrejamento por ter adulterado. Este sofrimento imposto como o cumprimento de uma lei, serve para limpar a mácula do pecado. Isso acontece muito frequentemente em nossos relacionamentos, na cultura, no processamento da justiça. Acontece que muitos dos acusadores, dos juízes, dos carrascos, terem os mesmos pecados ou talvez piores. Foi essa incoerência que o Mestre Jesus fez vir a consciência de cada um e aquelas pessoas largaram as pedras e foram para suas casas.
É importante que a pessoa tenha a perspectiva da necessidade do sofrimento para seguir evoluindo. Quando não tem essa consciência o sofrimento o torna agressivo, brutal, revoltado ou alucinado. Quando é consciente da importância do sofrimento fica com a sensibilidade aprimorada, profunda e vai crescendo e se transformando em direção à meta.
O ser quando se encontra embrutecido, está mergulhado nas sombras, não tem a identificação de si mesmo, não tem aspirações éticas nem estéticas e sempre perturbado em busca de suas necessidades básicas. Ele deve sair dessa condição, da mesma forma que a semente emerge da terra. Para isso acontecer o sofrimento vai sempre operar, é inevitável, como um parto a se realizar para que a vida real possa se concretizar.
O espirito encarnado deve estar sempre vigilante nesse processo, como o Mestre já advertia, “orai e vigiai”. Cada ato que é realizado gera um efeito equivalente, uma influenciação no grupo social. Os erros cometidos podem gerar sofrimentos coletivos, uma repercussão social, e o indivíduo que o comete fica estacionado no seu processo evolutivo. Só há progresso se os erros forem corrigidos e se o bem é aplicado.
Cada um deve ter bem claro na consciência que é o próprio arquiteto de si. Que a lei da vida implica na necessidade de diversas reencarnações como condição impositiva, inevitável. A pessoa deve usar o livre arbítrio para operar a vontade focada para conseguir a ascensão, que ainda pode ser considerada rápida ou lenta.
A função da consciência é se abrir para a luz, para o que deve ou não fazer, aplicar com correção os impulsos biológicos que chegam na mente, transformando-os como força motriz para a aplicação do amor incondicional, conseguindo assim a harmonia e evitando o sentimento de culpa. A luz do espírito ao chegar no cérebro abre um espectro do que já adquiriu na sua jornada, na forma das personalidades, tendências, gostos, inteligências, aptidões, etc., da mesma forma que se comporta a luz quando chega no prisma, se decompondo em diversas cores.
Devemos compreender que o sofrimento estrutura-se na consciência conforme o nível de lucidez da pessoa. Se brutalizada, torna-se algo automático, grosseiro, instintivo; se espiritualizado, torna-se mais abnegado, profundo, racional, responsável, reparador.
Algumas pessoas procuram aliviar o sofrimento com o uso de drogas, como o álcool principalmente. Sente um efeito imediato, mas logo em seguida o alívio desaparece e a dor ressurge com mais força. Então, o desvio para a geladeira ou o bar não é produtivo, inteligente. É preciso que o dependente químico descubra, se o atalho fosse melhor, para que existiria o caminho?
A consciência de culpa que a pessoa adquire em função dos erros cometidos é transferido para a diversas reencarnações que ela vai ter que cumprir, sofrendo os distúrbios psicológicos, as anomalias congênitas e enfermidades mutiladoras devido as lesões no perispírito que lesou o Modelo Organizador Biológico, responsável pelo desenho harmónico da estrutura orgânica que o espirito devedor irá gerenciar. Até mesmo as lesões mais perturbadoras podem surgir, aquelas que levam a aflições morais, financeiras e sociais, aos carmas mais perturbadoras.
O Amor deve ser usado na forma de um antídoto universal, com o objetivo de prevenir, diminuir ou mudar a estrutura psicológica do sofrimento. Essa ação irá vincular a criatura ao Criador, irá deslocar o sentimento do amor do queixo para baixo, onde ele começa e se confunde com os desejo e paixões, para ficar do queixo para cima, se tornando altruísta e superando o egoísmo.
É importante que todos saibamos que podemos mudar a estrutura dos painéis do sofrimento, que podemos prevenir, diminuir ou liberar os seus efeitos conforme exija a ação do Amor. Podemos mudar a expressão do sofrimento e deixa-lo totalmente como instrumento do próprio Amor. Ele pode ser aceito pela pessoa, para que ela possa ensinar coragem, resignação e valor moral.
Analisemos a vida e ensinamentos de Jesus, e vejamos que o sofrimento que Ele experimentou estava totalmente voltado para ensinar justamente isso: paciência, abnegação, compreensão, perdão... enfim, o Amor!