A “Vontade de Deus” se tornou um foco em minha vida, um objetivo a ser alcançado, mas com uma certa dificuldade do ponto de vista cognitivo e materialista. Não tenho recursos objetivos para justificar porque isso se tornou prioridade em minha vida. No mundo materialista e dentro da academia na qual sou graduado, não tenho ferramentas capazes de ser reproduzidas qualitativa e quantitativamente em nenhum laboratório do mundo, que seja equipado com as mesmas condições de controle externo e interno, para provar a existência de Deus neste nível. Tudo isso partiu do campo subjetivo, das minhas elucubrações e intuições. No entanto ficou consolidado como uma verdade prioritária, de características pessoais, mas com muitos exemplos ao redor do mundo, principalmente aquele exemplo fornecido por Jesus de Nazaré.
Entendo que sou filho deste Deus Criador, e que possuo uma dupla cidadania, uma temporária no mundo efêmero das formas e outra no mundo perene do Espírito. Por isso me sinto bem adaptado no meu projeto de vida, obedecendo as leis e consequências do tempo, sem controvérsias ou tentativas de mudar o que está determinado por Deus.
Meus colegas de academia às vezes falam comigo com ironia quando tocam no assunto “espiritual” da “existência de Deus”. Acreditam que eu estou “viajando” e perdendo muito do que a vida pode me oferecer, como eles, que geralmente planejam custosas viagens para o exterior nas férias regulares, e por minha cabeça não passa essa necessidade, justamente por entender que, por enquanto, Deus me quer aqui, onde estou, usando os recursos, as virtudes que Ele me deu para fazer Sua vontade.
Até isso eu não posso dizer a eles com muita ênfase, pois podem passar da ironia para a seriedade de uma internação psiquiátrica. Como fazer a “vontade de Deus” e deixar em segundo plano a própria vontade? Prejudicar a si mesmo e aos parentes mais próximos?
Por outro lado, eu escuto os seus argumentos, as suas convicções, e apenas lamento eles não terem a mesma compreensão que eu tenho. Dizem que não existe nada do outro lado da vida, e que devemos aproveitar aqui, tudo que for possível. Eu digo que do outro lado é que a vida real se processa, aqui deste lado é apenas um momento de aprendizado, como uma escola temporária que devo frequentar e que logo devo retornar ao mundo real, espiritual, onde verificarei o meu nível de aprendizado.
Um de nós está errado. Se eu estiver errado, não terei chance de comprovar isso do outro lado, pois nada existe. Porém, durante o tempo que eu passei aqui eu vivi confortado por um Pai bondoso, compreensivo, que me auxiliava sempre nas minhas dificuldades, que me ofereceu uma família imensa para a minha integração; se ele, o ateu estiver errado, vai logo perceber quanto tempo perdeu na sua oportunidade de aprendizado, pois tudo que fez foi em benefício próprio, e que vivia cercado de ansiedade como um filho órfão que não tinha a quem recorrer nos momentos difíceis. Mesmo que, se um desses filhos conscientes da paternidade de Deus lhe ajudasse sem nenhuma preocupação com o benefício próprio, somente porque ele era um irmão espiritual, mesmo assim essa pessoa não consegue reconhecer essa paternidade que proporciona isso. Certamente irá voltar a escola material no mesmo nível em que a deixou, uma repetição de estudos e oportunidades será necessária.
Sei que apesar dessa minha decisão e intenções tão consistentes, as vezes a dúvida pode nos assaltar e posso ficar novamente encantado pelo apelo das formas, dos desejos materiais... afinal sou humano, com muita força instintiva dentro de mim. Nos momentos de dificuldade mais extrema posso recorrer ao conselho de Norman Vincent Peale, que dizia da sua experiência: “Eu me entrego com todos os meus problemas, e com todos os que amo, bem como com o meu futuro, nas mãos de Deus, e nEle confio”. Ele dizia ainda: três vezes por dia agradeça ao Senhor por todas as suas bondades. Depressa sua vida se encherá de Deus, e se esvaziará de apreensões.