Conheci duas pessoas que praticam a fé procurando entender o pensamento e seguir o comportamento de São Francisco e Santa Clara. Procurei fazer a elas perguntas que sempre estão em minha mente. Não gravei, por isso não posso reproduzir aqui na integridade, mas procurarei passar para este texto com o máximo de verossimilhança o que se passou no diálogo que se formou entre mim e elas, pedindo desculpas antecipadas pelas falhas cognitivas e amnésicas que meus pensamentos tenham deixado passar, inclusive colocando informações que não tive a lucidez de colocar naquele momento. Elas fizeram um comentário sobre a espiritualidade franciscana e tive a oportunidade de começar:
- Que vocês entendem por espiritualidade franciscana?
- O que se passou com São Francisco na Idade Média, sua vida de filho de homem rico, suas orgias na cidade, sua participação na guerra, sua conversão, o acolhimento de pessoas que passaram a seguir os seus passos, a criação da ordem a partir da permissão do Papa da época, Inocêncio III, e as instituições que existem a partir daí e das quais fazemos parte.
- Sim, vocês colocaram um registro histórico do que aconteceu com São Francisco, mas a espiritualidade? Acredito que ela passou a existir a partir da voz que ele ouviu sem saber de quem ou de onde vinha e que mandava reconstruir a Igreja. Ele inicialmente pensava que era a Igreja de São Damião, o Santo que se dedicara ao cuidado de doentes, inclusive os leprosos, e por isso adquiriu a doença morrendo precocemente. Mas ele veio a entender que Deus queria de si, que ele seguisse os passos do Mestre Jesus, o que ele fez elegendo a Pobreza e a Humildade como objetivo de vida, divulgando com integridade a mensagem do Evangelho. Mas esse comportamento dele, como vocês e os padres tentam reproduzir, inclusive com a abstinência sexual, que impede a formação de novos seres, vai conseguir construir o Reino de Deus como Jesus ensinou que deveríamos fazer?
- Para construir o Reino de Deus é preciso que tenhamos uma vida digna, cheia de amor e justiça, que possamos ajudar nossos irmãos, tanto com a sobrevivência corporal quanto com a educação do Espírito. Por isso atuamos nas escolas como professoras, vamos as residências e àqueles que moram na rua, levando a palavra de Deus através do Evangelho e a alimentação através da sopa, do pão, as vezes com risco de nossas próprias vidas...
- Ótimo, vocês reproduzem o que São Francisco começou a fazer ajudando aos pobres e doentes, do corpo e da alma. Mas, quanto o Reino de Deus, estão construindo? Como fazer, se isso implica nas relações sexuais para garantir a perpetuação da espécie e São Francisco não queria nem olhar para as mulheres para não despertar em si os desejos eróticos?
- Quando nós fazemos o bem, ajudando a construir famílias mais saudáveis, estamos ajudando a construir o Reino de Deus.
- Este é outro ponto que levanto dúvidas. Esta família nuclear que está sendo construída, que a igreja referenda através do casamento, é capaz de construir o Reino de Deus? Se ela em si mesmo é tão cheia de egoísmo, ciúmes; que privilegia os seus membros em detrimento do próximo...
Senti que o diálogo estava entrando num aprofundamento desejável, mas que era impeditivo devido ao tempo e ao objetivo que elas tinham naquele momento. Interrompemos com educação a conversa e cada vez mais sinto que a missão que Deus colocou em minha consciência, não vai de encontro a fé de São Francisco e de quem acompanha “ipsis litteris” os seus passos, mas que deve se desenvolver em novo patamar, sobre os alicerces evangélicos.