“Não perguntes por quem dobram os sinos; chores, pois eles dobram também por ti”. Esta frase colocada no livro “Por quem os sinos dobram”, de Ernest Hemingway, sempre tocou minha alma. Diz respeito ao que se passa na guerra civil espanhola, mas pode se aplicar em qualquer lugar do mundo onde vidas sejam ceifadas e haja alguém para prantear, pois é assim que sente a minha alma quando vê as notícias do atentado na França, em Nice, balneário da Côte D’Azur. Um motorista assassino deixou um rastro de 80 mortos entre outros acidentados, de todas as cores, de todas as idades.
Sei que esse homem, assassino, dever ter os seus motivos, que a sua consciência considera como justa cometer tamanha atrocidade. Mas será que os argumentos usados tem a coerência frente aos princípios humanitários? Como pode uma pessoa matar outras 80 pessoas, que não eram seus inimigos, e ainda encontrar argumentos na consciência para livrá-lo da culpa?
Faço um esforço para me colocar no lugar dele, para responder a questão que eu mesmo fiz: o que justifica tu matar tantos inocentes? Então ele poderia me responder: por que tu me condenas com olhar lacrimoso, porque eu matei 80 pessoas atropeladas? Por acaso o teu presidente, que você votou nele para elegê-lo, não permitiu o roubo de bilhões de cruzados, dinheiro que evitaria a morte de milhares de pessoas pelos hospitais desabastecidos do pais ou polícias desaparelhadas para conter a violência? Será que a estatística dessas mortes são inferiores as 80 que matei? E o principal chefe de tamanha perversidade não continua livre e defendido tanto pela elite acadêmica quanto pela massa de manobra dos sindicatos pelegos ou associações aparelhadas?
Então, sensível humanista, tens razão de chorar pelas 80 mortes que causei e que os sinos repicam ao redor do mundo, mas inclua no meio de tuas lágrimas aqueles que morrem no anonimato, ao teu lado, sem repicar de sinos; acusas também esses criminosos de colarinho branco, cujas canetas deixam um rastro de mortes muito maior do que os pneus do meu caminhão. Pelo menos eu tenho um atenuante, fui abatido no ato, por balas de policiais que nem demandou os custos da justiça, enquanto seus criminosos são elogiados no congresso, recebem títulos honoríficos e são protegidos pela alta corte.
Sim, sensível humanista, talvez suas lágrimas sejam mais necessárias aí onde estás, pois no pequeno intervalo que escrevestes este texto, mais de 80 morreram no teu país, vítimas da corrupção.