Reli a seguinte frase de Saint-Exupéry, escrita no livro “O Pequeno Príncipe” que me levou a novas reflexões.
“Foi o tempo que dedicastes a tua rosa que a fez tão importante.”
Perfeito!
Quando aplicamos o sentido dessa parábola às relações humanas, vamos verificar que o tempo que passamos perto de uma pessoa tem a capacidade de fazê-la muito importante, feliz... mas também pode acontecer o contrário. Mas vamos desenvolver o pensamento positivo, de que essa aproximação é carregada de amor e por isso esse tempo faz bem à pessoa.
O pensamento do autor quando escreveu a frase estava sintonizado com o amor romântico, aquele que aproxima pessoas, gera ações positivas que torna o outro importante e que gera também expectativas de que essa aproximação nunca se desfaça, a não ser nos imperativos da sobrevivência. Pode ser tolerada a ausência da pessoa amada devido ao trabalho, por exemplo, pode passar um turno, dois turnos, um dia, dois, uma semana, um mês, até seis meses, como acontece com alguns marinheiros e profissões similares que viajam ininterruptamente ao redor do mundo, ou mesmo que se deslocam para o espaço em estudos e ações nos satélites artificiais. Essa justificativa faz com que a pessoa consiga tolerar a ausência do amado sem tanta consequência emocional. Mas, imagine que essa pessoa amada não está presente por uma hora, e que nesse momento está dando também o seu amor a outra pessoa. Pronto! Esta é a senha para ser desencadeada no psiquismo daquele que se comporta dentro dos paradigmas do amor romântico, de gerar os sentimentos do ciúme que deixa surgir a raiva e o ressentimento contra os dois possíveis amantes. A pessoa que age assim não percebe que sua atitude, exercida em direção ao companheiro que se comporta com base no amor incondicional, vai provocar uma incômoda percepção de desarmonia que tende ao afastamento. E muitas vezes a pessoa não consegue perceber, que cada vez que ela manifesta o ciúme, ao invés de conseguir a aproximação do seu companheiro, gera cada vez mais o afastamento.
Por outro lado, a pessoa que ama com o paradigma do amor incondicional, não se sente atingido se a sua companheira ou companheiro divide o seu tempo com outra pessoa, qualquer que seja o período desse tempo. Sente que o tempo partilhado com essa pessoa é importante, mas se ela resolve por qualquer motivo ficar perto de outra, isso tem que ser respeitado, pois o sentimento que se tem da importância que se desenvolve pelo outro dedicar o tempo dela a si, não deve servir de algema para que essa pessoa não possa desenvolver seus sentimentos ou interesses em outra direção.
A rosa (pessoa) que pode ser eu, devo ser grato ao tempo que aquela pessoa dedicou a mim e que me fez tão importante, mas não posso exigir que essa pessoa perca os seus horizontes e mantenha a sua vida a se dedicar a mim, exclusivamente, sem qualquer outra criatividade ou oportunidade de afetos que a vida possa lhe oferecer. Afinal, eu devo compreender que fui beneficiado por essa dedicação, e não posso pagar tamanha bondade para comigo com a exigência de uma exclusividade que irá podar o potencial do meu benfeitor. Devo aproveitar a importância com a qual fui beneficiado, para deixar o meu benfeitor livre e ao mesmo tempo procurar a compensação com outros afetos, se assim eu tiver essa necessidade.
Assim, verifico que a frase do nobre escritor Saint Exupery sinaliza apenas um aspecto superficial, do tempo que uma pessoa gasta com outra, e que a faz importante. Devemos aprofundar as consequências da dedicação desse tempo para ambos os participantes, para não transformar quem o dedicou num escravo e quem se beneficiou num dependente emocional.