Na leitura do livro “Paulo e Estêvão”, encontrei o trecho abaixo que me trouxe reflexões sobre o meu atual estágio de vida:
Vejo-me cercado de enormes dificuldades – dizia Saulo um tanto perturbado. – Sinto-me ne dever de espalhar a nova doutrinam felicitando os nossos semelhantes; Jesus encheu-me o coração de energias inesperadas, mas a secura dos homens é de amedrontar os mais fortes.
- Sim – explicava o ancião paciente -, o Senhor conferiu-te a tarefa do semeador; tens muito boa vontade, mas que faz um homem recebendo encargos dessa natureza? Antes de tudo, procura ajuntar as sementes no seu mealheiro particular, para que o esforço seja profícuo.
O neófito percebeu o alcance da comparação e perguntou:
- Mas que desejais dizer com isso?
- Quero dizer que um homem de vida pura e reta, sem os erros da própria boa intenção, está sempre pronto a plantar o bem e a justiça no roteiro que perlustra; mas aquele que já se enganou, ou que guarda alguma culpa, tem necessidade de testemunhar no sofrimento próprio, antes de ensinar. Os que não forem integralmente puros, ou nada sofreram no caminho, jamais são bem compreendidos por quem lhes ouve simplesmente a palavra. Contra os seus ensinos estão suas próprias vidas. Além do mais, tudo que é de Deus reclama grande paz e profunda compreensão. No teu caso, deves pensar na lição de Jesus permanecendo trinta anos entre nós, preparando-se para suportar nossa presença apenas durante três. Para receber uma tarefa do céu, David conviveu com a Natureza apascentando rebanhos; para desbravar as estradas do Salvador, João Batista meditou muito tempo nos ásperos desertos da Judéia.
As ponderações carinhosas de Ananias caíam-lhe na alma opressa como bálsamo vitalizante.
- Quando hajas sofrido mais – continuava o benfeitor e amigo sincero -, terás apurado a compreensão dos homens e das coisas. Só a dor nos ensina a ser humanos. Quando a criatura entra no período mais perigoso da existência, depois da matinal infância e antes da noite da velhice; quando a vida exubera energias, Deus lhe envia filhos, para que, com os trabalhos, se lhe enterneça o coração. Pelo que me hás confessado, é possível não venhas a ser pai, mas terás os filhos do Calvário em toda parte. Não viste Simão Pedro, em Jerusalém, rodeado de infelizes? Naturalmente, encontrarás um lar maior na Terra, onde serás chamado a exercer a fraternidade, o amor, o perdão... É preciso morrer para o mundo, para que o Cristo viva em nós...
Estas considerações de Ananias para Paulo fez-me lembrar, com muita força, dos caminhos tão difíceis e espinhosos pelos quais enveredei, seguindo a luz na minha consciência e que vem de Deus. Não deixei de produzir os filhos como Paulo fez. Acredito que no meu caso a geração de filhos faz parte do contexto familiar global no qual me empenho. São filhos gerados no terreno biológico de pessoas que devem compreender qual o meu caminho, que não posso dedicar todo o tempo da minha vida a esses filhos, como geralmente se espera dos pais tradicionais. Os filhos são gerados e cuidados, mas que a minha visão e preocupação está dirigido ao coletivo, a formação de uma sociedade onde prevaleça o amor inclusivo, e não o exclusivo. Os meus filhos são de minha responsabilidade prioritária, mas o Pai me deixa também com a responsabilidade dos filhos do próximo que sem condições ficam na indigência dentro da sociedade, sofrendo todo tipo de abusos e ameaças.
Acredito que o projeto de apadrinhamentos que estamos construindo tenha essa visão dirigida para a proteção dos menores que vagam sem apoio no meio de nós.