Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
11/10/2016 23h59
CASO CLÍNICO ISSJ (01) – VOZES QUE SURGEM

            Tenho tentado colocar neste espaço alguns casos da clínica psiquiátrica com certa regularidade, mas termino sem o acompanhamento devido, mesmo por causa das características de cada paciente. Como essa é uma informação que diz muito sobre a minha capacidade de pensar e agir no campo técnico, que tem suas devidas interpenetrações com o campo espiritual, vou voltar a colocar essas informações da forma indicada pelo melhor procedimento ético, de não expor o paciente. Usarei apenas letras para identificar cada caso que servirá mais para a minha orientação de quem se trata, do que serviria para o leitor identificar o meu paciente.

            Este é um paciente portador de Esquizofrenia, a doença mais característica da psiquiatria, que geralmente atinge pessoas inteligentes. Quem despertar a curiosidade pode ler o livro ou assistir o filme “Uma mente brilhante” onde se trata de uma história real, onde o protagonista, professor universitário, conseguiu ganhar o prêmio Nobel, apesar da sua doença.

            O meu paciente ISSJ chegou a ser internado numa crise psicótica há cerca de 6 anos. Foi neste momento que passei a cuidar dele. Inteligente, logo passou a pesquisar as características da doença que lhe acomete e os recursos que pode usar. Vem sendo acompanhado mensalmente e faz uso de doses mínimas de antipsicóticos. Enviou para mim um email demonstrando preocupação com vozes que surgem, então achei por bem trazer o seu caso para este espaço, pois poderá ser de bem valia no coletivo.

            Dr Rodrigues, estou sentindo um pouco de incômodo com alguns pensamentos que se assemelham a alucinações auditivas. Nada comparado ao que senti no período logo após minha aposentadoria que seriam pessoas na maior parte do tempo conversando entre si e depois me aconselhando. Agora não estou conseguindo distinguir com perfeição se seria o barulho normal do condomínio e da rua ou meus pensamentos altos, ruminando o passado, mas diferente de outrora são mais variados, creio que devido a dinâmica do condomínio. Normalmente é com maior intensidade durante o dia. Da outra vez sua orientação de não se preocupar, pois será que seria mesmo comigo, foi primordial para sair da situação. Estou aplicando a mesma técnica agora, sendo mais fácil, pois sempre tem minha mãe em casa e pergunto se ela está escutando algo e confirma que sim.
Os pensamentos são maiores com a questão de ouvir pessoas falando: doido, louco. Palavras que escuto com maior frequência no dia a dia nas relações sociais do condomínio e na rua. Enfim, creio que estas supostas vozes /pensamentos seja do meu medo com o estigma do transtorno mental. Estou tentando usar este auto estigma como fator de cura e fazer tudo com calma e equilíbrio de forma a minimizar os efeitos do transtorno mental. Até mesmo que determinadas condutas discriminatórias, de acordo com o estatuto da pessoa com deficiência, são crimes. A qualificação de estranho e esquisito não me incomodam, mas as de louco, doido e coisas do gênero me deixa tenso e desconfortável. Tais palavras não uso no meu dia a dia com ninguém ou situação. Infelizmente, as vezes escuto dos meus familiares ao se referirem a outras pessoas. Enfim, estou tentando preencher meu tempo o máximo possível de forma que não tenha estes pensamentos/vozes, as quais tenho dúvidas se tem conotação espiritual ou se é biológico mesmo, apesar da sua explicação que seria biológico. Estou escrevendo como forma de organizar as ideias. Grande abraço. ISSJ

            Muito bem, ISSJ. O enfrentamento da doença de forma racional é muito importante. Você pode considerar os três aspectos que você mencionou: os sintomas da doença, o burburinho no condomínio e a influência espiritual. Permeando todos, o medo do estigma. Este é o seu quadro. Por outro lado você usa medicação em doses mínimas para conter os sintomas e evolução da doença. Como a pressão psicológica está acontecendo e isso é um fator que fortalece a doença na expressão dos sintomas, aconselho que seja dobrada a dose mínima do antipsicótico, seja feita uma avaliação espiritual em algum centro espírita (sugiro usar a Cruzada dos Militares, pois é dirigida por psicóloga que pode lhe ajudar tecnicamente), e usar um gravador quando perceber vozes que podem ser do burburinho do condomínio. O gravador fará a seleção do que pertence a realidade ou não. Ao lado disso continue fazendo todo o registro do que acontece com mais detalhes, pois servirá de canal onde fluirá os pensamentos e sentimentos e que serão de utilidade para a minha consideração técnica.

Quanto a sua sanidade mental no momento, não se preocupe. As suas ações, tanto com relação à discrição, quanto a informação do que está acontecendo, é uma prova que você está no domínio da situação e longe do domínio da doença, onde a pessoa penetra no mundo que a doença elabora e a consciência nega a realidade que está acontecendo. Isso não é observado em você. A sua grande aliada é a inteligência a serviço da verdade, das características da doença e do enfrentamento racional que se pode fazer.

Aquele curso de psicologia transpessoal que faço nas sextas feiras na Cruzada, que visa o autodescobrimento, também serve como uma academia para o lado saudável da mente, da mesma forma que você faz os exercícios para manter saudável o corpo físico.

Tenha um bom dia,

FRodrigues

Publicado por Sióstio de Lapa
em 11/10/2016 às 23h59