Alguém com muita autoridade e em quem acredito piamente, ensinou que o verdadeiro amor é aquele que se manifesta de forma incondicional, isto é, não depende de nada, não espera nenhuma recompensa. No começo achei isso esquisito, pois havia aprendido desde a mais tenra idade que o amor era merecido com prioridade para os parentes, principalmente pais e filhos, e muito principalmente para os cônjuges. Para estes a questão era mais fechada ainda, o amor devia ser exercido com exclusividade.
Fiquei a matutar nessa lição, afinal eu já estava casado e não queria minha mulher amando outro homem, e vice-versa... Era o exclusivismo do amor romântico.
Mesmo com essa dificuldade prática eu sentia a força do conceito ensinado pela autoridade do Mestre. Apesar disso, eu não via ninguém praticando, nem mesmo dentro das igrejas, onde o Evangelho era tão difundido e estudado. Parecia para mim um tipo de hipocrisia, falar um conceito, defender sua importância e não praticar.
O tempo fluía, passava por minha vida trazendo as mais diversas experiências. Eu sentia o amor em minhas relações, um amor doméstico, sem capacidade de expansão. Mas também não imaginava que fosse necessária outra experiência amorosa, para mim tudo estava bem, que minha vida estava dentro dos parâmetros que poderiam ser seguidos até o fim da existência corporal... mesmo que eu ainda não tivesse tanta convicção do mundo espiritual como tenho hoje.
A prova de realidade do amor que eu pensava ter como indestrutível e que seguiria comigo até o fim da vida, iria passar por um sério teste de convicção. Encontrei uma amiga, colega de trabalho que desenvolveu desejos sexuais por mim. Disse o que sentia e que desejava sair comigo para namorarmos. O desejo também se apossou da minha mente, mas eu tinha um forte compromisso de fidelidade conjugal. Não aceitei. Porém a minha amiga não desistia. Todo plantão que dávamos juntos, ela encontrava uma forma de ficar perto de mim e os convites continuavam, e suas argumentações conseguiam dobrar as minhas. Ela argumentava que o desejo que nós sentíamos de praticar um namoro com ato sexual, tinha respeito somente a nós. Ela sabia que eu era casado, ela também, mas o que íamos praticar ficaria entre nós dois, seria uma experiência de prazer sem prejudicar materialmente a ninguém, e de nenhuma forma, se isso ficasse somente entre nós. As minhas contra argumentações ficavam na base dos preconceitos estabelecidos no ato do casamento, e eu não via como derrubar os argumentos que ela usava, de usufruirmos um prazer que devia caber somente a nós.
A minha argumentação mais forte não podia vir à tona. Eu sentia que se me desse ao direito de sair para namorar com ela, por questão de justiça, o mesmo direito eu teria que dar a minha esposa. E os meus preconceitos machistas não permitiam que isso acontecesse. Então, enquanto ela argumentava com o direito de ser um pouco mais feliz trocando carícias mútuas com uma pessoa que desejava, eu nem podia argumentar com os meus preconceitos que me amarravam.
Foi aí que percebi que o meu sentimento de amor de antes por minha esposa, começava a ser abalado com essa situação. Eu sentia que era um prisioneiro de promessas que fizemos juntos, já que eu desejava fazer uma ação com outra pessoa, que não tinha nada a ver com ela, e me sentia amarrado. Mesmo sabendo que a minha esposa não ter culpa disso que estava acontecendo, o meu sentimento que eu imaginava ser amor por ela, estava desaparecendo.
Então, onde estava o amor que eu antes imaginava sentir? Se era uma força tão potente, acima de todas as outras, por que ser destruída por uma situação dessa? Eu ficava cada vez mais confuso, e o desejo por minha amiga aumentando.
Chegou o momento que a força do desejo conseguiu vencer as minhas resistências preconceituosas e resolvi sair para namorar com minha amiga. Já tinha aceito nos meus paradigmas de vida que a minha esposa poderia fazer o mesmo, se ela assim quisesse. A quebra dessa tensão me trouxe a paz outra vez e a melhora no meu relacionamento com minha esposa. Ela não percebeu nenhuma dessas nuances, do aborrecimento e da recuperação do meu bom humor e harmonização da vida com ela. Como eu poderia justificar que o fato de ter saído para namorar com outra pessoa me trouxe paz e harmonia no meu relacionamento com ela? Não disse nada, até o dia que ela perguntou, de forma indireta, mas que eu não podia mentir sobre o que estava acontecendo. Isso será motivo de outras reflexões. Hoje cabe apenas essa conclusão: o amor que eu pensava possuir no início do meu relacionamento conjugal não era o verdadeiro amor.
E onde estaria o verdadeiro amor? Este eu iria encontrar logo mais, nas lições espirituais dos grandes mestres, principalmente o Mestre da Galiléia. Hoje sei que o Amor Incondicional é o verdadeiro amor que todos procuram, mas que todos terminam confundindo-o com sua cópias imperfeitas.
Onde está o amor? Agora eu sei, apesar de não poder ainda dividi-lo com ninguém. Todos que se aproximam de mim, estão aplicando as cópias do amor, no formato do romantismo... mas, o nosso destino é encontrar o Amor e todos se beneficiaram dele sem máscaras ou distorções.