Este parece um cenário que se repete, com perspectivas diferentes. Antes eu estava em Macau, era um adolescente que estudava e morava com minha avó, numa espécie de boate que hospedava mulheres prostitutas, e assim contribuíam diretamente para a minha formação. Hoje, já formado em medicina, passei a morar em um bairro onde existem muitas dessas mulheres espalhadas em pontos estratégicos a praticarem a mesma profissão que se arrasta desde o início das civilizações. Porém sempre marginalizadas, encaradas como rivais das famílias estabelecidas, como fomentadoras do uso de droga, de gerar mais filhos com as mesmas motivações.
Nós, que estamos engajados no movimento cristão, que procura aplicar as lições de Jesus, em fazer ao próximo o bem que queremos para nós, temos um desafio com essa questão: como fazer o bem que gostaríamos de receber se estivéssemos no lugar dessas mulheres?
Estamos desenvolvendo um trabalho comunitário na Praia do Meio, criamos a Associação Cristã de Moradores e Amigos da Praia do Meio há mais de 2 anos. Sabemos e vimos essas mulheres se expor por toda a extensão do bairro, principalmente nos locais onde há a circulação de turistas. Até agora não fizemos nenhuma ação que visasse colaborar com a melhoria da qualidade de suas vidas. Mas, este ano, e principalmente agora, próximo a época do Natal, um fato interessante aconteceu, que eu entendo ter sido a “mão de Deus” orientando caminhos para nossas ações.
Criamos um grupo no whatsapp para que os membros da Associação pudessem se comunicar com mais rapidez e objetividade. Como a nossa marca de atuação é de natureza cristã, as mensagens, fotos e vídeos sempre tem a natureza cristã. De repente surge dentro deste grupo, por ação de um vírus, um vídeo pornográfico, mostrando uma relação sexual explícita com toda utilização da mulher como um objeto de prazer, sem um mínimo de dignidade. O vídeo foi apagado o mais rápido possível, acredito que poucas pessoas chegaram a vê-lo. No entanto o recado foi dado: precisamos focar nossas ações neste final de ano, com a festa natalina, na dificuldade de vida que essas mulheres apresentam para sobreviver. Nós, na condição de seus irmãos, como cristãos que pretendem seguir os passos do Mestre, temos que organizar uma forma de sermos solidários com elas.
Hoje fizemos uma reunião no Hospital Universitário para organizar a festa natalina, mas as pessoas que estavam escaladas para fazer o contato com as prostitutas não puderam comparecer. Mesmo assim ficou sinalizado que o tema da Festa de Natal deste ano seria a “Dignidade da Mulher”.
Combinamos que seria feito um grupo no whatsapp especifico para trabalhar a organização desta festa. Mas fica ainda o primeiro e mais difícil passo, como fazer o contato inicial com estas mulheres sem levar qualquer sentido de humilhação a uma categoria profissional que já tem tanta dificuldades na garantia da própria sobrevivência.
Mas, como estamos na orientação divina, certamente Ele irá nos apontar a forma mais adequada de abordar essas nossas irmãs e traze-las para um redil de maior proteção.