Selva de Pedra é um nome bem apropriado para São Paulo, assim como a “Locomotiva do Brasil”. É uma das principais metrópoles do mundo, 4º lugar, perde apenas para Tóquio no Japão, Seul na Coréia do Sul, e a Cidade do México no México.
Estou hoje em São Paulo e vejo ao redor imensos e inúmeros edifícios, e um movimento vertiginoso de carros de todos os tamanhos e modelos que circulam veloz ao meu lado ou à distância.
Mas, onde estão as feras? Todas as selvas tem suas feras características e aqui não pode ser diferente. Como vou identificar essas feras? Bem, imagino, se estivesse numa selva real, o medo seria o melhor indicativo para eu identificar uma fera, evitar o encontro com ela, fazer com que eu não seja considerado por ela uma presa, e se por acaso vier sofrer o seu ataque, saber como me defender.
Então, na “Selva de Pedra”, o que me causa medo? O próprio homem! São os meus irmãos, seres da mesma espécie, criaturas do mesmo Pai!
Desde que pessoas ao meu lado vem a saber que estou me dirigindo para a “Selva”, logo chegam todo tipo de advertência, de ter muito cuidado, de não deixar os bens à mostra, de se vestir com humildade, de se comportar de tal maneira...
Sim, as feras da “Selva de Pedra” estão à espreita em qualquer ponto que me desloco. Elas não tem uma característica especial, tanto pode ser bem vestido, simpático, como um maltrapilho mal encarado. Mas não deixam de ser meus irmãos.
Fico a refletir no que aconteceu para que na “Selva de Pedra” acontecesse tanta transformação, que um irmão perca sua humanidade e se transforme em fera. Acabei de passar por uma pessoa que se comporta de forma indecorosa, por outra que tenta aproximação de forma afetiva, íntima, mas de aspecto andrajoso. Procurei me desvencilhar rapidamente de suas abordagens, e reconheço neles mais pessoas doentes, andando sem dignidade, sem conhecer que pertencem a uma classe de ser vivo tão perto do Criador. Sou médico, e fujo dos meus pacientes? Sou cristão, e fujo dos meus irmãos?
Percebo que existe um grande fosso a separar a nossa condição humana. Alguns ainda estão no estágio da animalidade, ainda se comportam como feras e são assim considerados por todos. Outros já procuram seguir um caminho mais ético, de humanidade mais próxima de Deus. Mas porque um grupo tem um destino e outro grupo destino completamente diferente, apesar de interligados pela sobrevivência? E apesar de todos os recursos científicos e tecnológicos que conquistamos não conseguimos resolver esse problema?
Trago à memória e inteligência para resgatar todo o passado de nossa história humana e vejo que saímos do estágio de animalidade, do homem das cavernas, onde não passamos de meros animais em busca da sobrevivência, para um estado de humanidade onde sabemos da importância de conhecer, defender e praticar os valores éticos e morais. Porém esse estado evolutivo não é alcançado por todos, algo no meio do caminho interfere com essa evolução moral.
Reconheço que o egoísmo inerente à nossa condição animal, que luta pela sobrevivência do corpo material, é o principal motivo de tudo isso acontecer. A ignorância leva o homem a não perceber a existência e importância do mundo espiritual onde os valores morais são o determinante fundamental da evolução em uma dimensão hierárquica superior.
Para derrotar a ignorância com a luz da Verdade, foi necessário que o Pai permitisse a vinda do Filho para nos informar sobre a Lei do Amor e mostrar assim, como sairmos do condicionamento do egoísmo, importante nos primeiros dias de vida, mas que tem uma força destrutiva se permanecer com o homem além da sua maturidade.
Por esse motivo vejo as feras humanas girando ao meu redor, prontas ao ataque quando acharem convenientes, como os meus irmãos que estão mergulhados no efeito da ignorância, tanto na miséria dos seus pais que não tiveram condições de educa-los convenientemente pela extrema pobreza, quanto pela miséria dos nossos gestores públicos que desviam o esforço coletivo para seus próprios interesses em prejuízo de todos.
Estamos agora na “Selva de Pedra” na condição de fera ou de presa. Nós que já estamos iluminados pela Verdade e que sabemos da missão do Pai para cada um, de acordo com suas virtudes, em disseminar as lições do Mestre aplicando a Lei do Amor, não podemos simplesmente pensar na destruição dessas feras perigosas ao nosso lado. Temos que saber como enfrenta-las, domesticá-las e traze-las para a luz, assim como um domador de feras trabalha no circo. Com uma diferença, aquela fera do circo jamais deixará de ser fera, mesmo bem condicionada, domesticada. A fera humana pode perder a sua animalidade e ganhar a humanidade que nunca chegou a sentir. Depende de nossa coragem, determinação e conscientização de que somos filhos do mesmo Pai e que Ele espera que nós nos comportemos para salvar cada um dos seus filhos menores que se perderam ou foram usados e abusados no caminho da vida.