Quando se sente a perda de um ente significativo pela morte, se pode chegar a uma aflição dilaceradora em muitas pessoas, um processo que acontece mais devido à falta de educação que existe dentro da sociedade sobre o processo natural e orgânico que caracteriza o falecimento do corpo físico. Essa condição está acumulada no atavismo psicológico, filosófico e religioso que faz parte de nossa herança ao nascer.
A conceituação da morte como um fim, da destruição de tudo que possuímos e somos, característica do pensamento materialista, se verifica frágil e insustentável pela lógica e coerência dos fatos e argumentos. Sabemos, por lições dos próprios cientistas do quilate de Lavoisier, que “na Natureza nada se cria, nada se destrói; tudo sofre transformações”. Por que, então, a vida seria uma exceção? Não se interrompe o fluxo existencial, uma das mais nobres e inteligentes criações de Deus. Acontece simplesmente uma transferência de faixa vibratória, um deslocamento temporário da consciência, que deverá aprender com a evolução, as novas formas de intercâmbio.
Emanuel já havia dito através de Chico Xavier que “A vida não termina onde a morte aparece. Não transformes saudade em fel nos que se foram. Eles seguem contigo, conquanto de outra forma. Dá-lhes amor e paz, por muito que padeças. Eles também te esperam procurando amparar-te. Todos estamos juntos na presença de Deus.”
Há um equívoco muito frequente com a ideia do pertencimento, que alguém ou algo deste mundo material possa nos pertencer. Ninguém pertence a ninguém, e só se perde aquilo que não se tem. As pessoas que imaginamos ter perdido, simplesmente seguem seus caminhos e nada impede que no futuro outra interação possa existir, mais ampla, mais evoluída.
Os motivos para as emoções desequilibradas com a perda pela morte de uma pessoa, geralmente atende as necessidades da autopunição que a pessoa imagina que merece. Que não atendia aquela pessoa como ela merecia, quando no corpo, daí surge a revolta contra si, desespero e até depressão. O que precisamos desenvolver é uma saudade controlada, o sentimento da ausência com ternura.
O sofrimento da ausência é justificado, pela dor da separação que ocorreu, pela ausência daquela pessoa, pela nova situação que passa a existir. Compreender que o desespero não equaciona esse vazio, não preenche as necessidades emocionais, e isso até prejudica o ente que passou para o mundo espiritual onde os pensamentos conseguem plasmar a realidade com muito mais facilidade. Uma mãe certa vez acordou dizendo que havia sonhado com o seu filho falecido, por quem ela tanto chorava. Ele reclamava que se sentia afogado por tantas lágrimas que ela derramava. No mundo material as lágrimas dessa mãe eram somente gotas que caiam na terra, mas no mundo espiritual era com se um dilúvio estivesse atingindo o jovem desencarnado.
Os recursos mais convenientes para extravasar a dor e liberar as mágoas de uma perda pela morte, é trazer à mente as recordações felizes, reviver com ternura esses momentos, repartir os haveres deixados com os necessitados, envolve-los com orações, lembrando o bem que fizeram e assim também crescer intimamente.
Perguntas sem lógicas também podem ser lançadas: “por que ele?”, “por que eu?”... Essas pessoas não param para refletir que todos somos mortais quando dependemos deste corpo físico, somos orgânicos, obedecemos a lei da vida com as suas probabilidades e inevitabilidades. A morte é uma simples mudança de estado, a destruição de uma forma frágil que já não proporciona à vida as condições necessárias ao seu funcionamento e à sua evolução.
A perda pela morte traz um tempo de dor que envolve um largo período. No princípio pode ser tanto mais traumático quanto mais a pessoa seja da existência do mundo espiritual. Mas ao término, com uma melhor compreensão e esperança do reencontro, com a possibilidade de comunicação, que o afeto está preservado, passa a existir uma melhor sintonia e gratidão por aquela presença querida que continua a existir, mesmo fora do mundo material. Uma prova disso foi o trabalho de Chico Xavier, com as mães desesperadas que foram à sua procura devido ao desencarne dos filhos e saíram confortadas, convictas que ele continuava a existi e de forma mais plena.
Uma das últimas provas de amor que devemos ter com nossos entes queridos que partem para o mundo espiritual, é evitar que entremos em depressão, não culpar ninguém por essa partida, e reconhecer que houve um retorno à origem, à pátria espiritual, para onde todos iremos.