Por volta dos cinco anos de idade a minha mãe separou do meu pai e vim morar com ela em Macau. Era uma cidade próxima, outra ilha de vocação financeira na produção de sal. Tinha apenas uma entrada que servia como saída, da mesma forma que Areia Branca. No caminho dessa estrada única encontrávamos um enorme moinho de vento que servia de motivo turístico para os visitantes. E no final, na entrada da cidade, existia um pórtico com a imagem da padroeira, que também era a mesma: Nossa Senhora da Conceição.
Por dificuldades na sobrevivência minha mãe permitiu que minha avó me criasse, já que ela com a atividade de dona de bordel conseguia ganhar mais dinheiro do que a minha mãe na confecção de bolos e raivas. A minha avó, apesar de manter comigo uma educação rígida, recheada de castigos e isolamento social, trabalhos dentro e fora de casa, cuidava da minha educação, queria que eu frequentasse as melhores escolas, que me dedicasse aos estudos, quando não estivesse trabalhando. Nessa condição de criança criada sozinha, eu me voltava para os brinquedos que minha imaginação construía. Principalmente com tampas de garrafas que eu guardava de casa ou colhia nas ruas. Construía com elas as mais diversas criações, casas, castelos, torres... fazia também grupos de pessoas que se digladiavam a cada lado, um do bem, outro do mal. Uma das tampas servia como bala para destruir os adversários quando atingisse a eles e provocasse a virada da tampa. Eu sempre estava ao lado da lei, da justiça, do romance. Todas essas ideias surgiam dos diversos guris, revistas em quadrinhos das quais eu era fã. Zorro, Tarzan, Batman, Mandrake, Fantasma, Rin-tin-tim, Superman, as revistas da Disney como Pato Donald, tio Patinhas, e tantas outras. Eram dessas histórias recheadas de valentia, justiça e aventura que minha mente ficava permeada. Tinha poucos amigos e não sabia das coisas práticas da vida, como a sexualidade, por exemplo. Por volta dos 17 anos eu ainda não sabia como funcionava a sexualidade entre um homem e uma mulher. Acreditava nas fantasias que minha avó dizia para justificar a constante entrada de homens com mulheres nos quartos que ela alugava. Tinha simpatia por algumas garotas da escola, cheguei a me apaixonar platonicamente por uma delas, mas a minha introversão associada a timidez impedia até que eu fixasse o olhar nela. Quando eu visitava a casa dos seus pais, pois o seu irmão era escoteiro como eu, evitava a todo momento cruzar o meu olhar com o dela. Acredito que ela achava até que eu não gostava dela. Mas na minha intimidade os sonhos fluíam com ela e embalados nas músicas da jovem guarda eu criava as mais diversas condições onde nos encontrávamos e namorávamos. Mas esses sonhos nunca criaram nenhum pouco de realidade.
Assim passei a minha infância, juventude, adolescência, ao lado da minha avó, isolado, trabalhando, estudando. Os poucos momentos que ia à casa da minha irmã era para mim o paraíso, pois conseguia jogar bola com os garotos da minha idade e até ensaiar alguns passos românticos com uma vitrola que eu levava para escutar as músicas de Roberto Carlos. Tinha minhas atividades no escotismo, ia à escola e muitas vezes, quando voltava com os livros da escola, encontrava alguém esfaqueado nas calçadas, já que o ambiente era fruto de muita violência.
Senti a paixão de uma das mulheres que trabalhava na boate concorrente a minha avó e fiquei assustado e admirado com esse sentimento. Ela estava sempre voltada para mim, mesmo que conseguisse algum cliente, ela preferia ir com ele beber na boate da minha avó, só para ficar perto de mim. Eu não sabia o que fazer, como administrar esse sentimento. Ora, nem ao menos o sexo eu sabia como era que funcionava! ...
Finalmente atingi os 18 anos e fui chamado para servir a Marinha do Brasil na condição de grumete, aprendiz de Marinheiros. Teria que ir para a Base Naval de Natal e uma nova etapa iria ser criada em minha vida.