No reinício dos estudos da Escola do Evangelho, realizado nos sábados em Ceará-Mirim, surgiram algumas dúvidas sobre a vida de Jesus e de alguns dos seus discípulos, principalmente Maria Madalena. Fiquei em dúvida sobre a entrada dela no círculo dos discípulos, devido a resistência que existe nessa participação dela no círculo mais íntimo dos discípulos, da pecha de prostituta e de edemoniada. Procurei ver uma fonte alternativa e encontrei um filme e um livro que fala sobre ela. O filme passa uma versão que é compatível com a aura que ela demonstra até os dias atuais na sua ligação tão próxima com o Cristo.
No filme, Maria era casada com um judeu. Este recebeu como dote a rica Magdala, a região próspera que mantinha diversos imóveis e servos. Como esse judeu, sem saber que era estéril, vivia pressionando Maria por um filho, chegou ao cúmulo de se divorciar e deixar Maria na miséria e desonrada. Como forma de vingança, Maria se envolve com um capitão do exército romano e deixa o seu antigo lar, com a promessa de ir com esse “namorado” para Roma. Mas logo descobre que está grávida, fica surpresa e mais ainda o militar romano, que acredita que ela tenha lhe enganado se passando por estéril. Age com brutalidade com ela e a deixa exposta aos seus soldados que a estupram sem piedade. Fica vagando pelas ruas, desorientada e enfraquecida, até que aborta e desfalece nas ruas e é acudida por prostitutas.
Maria consegue se recuperar fisicamente, tem contato com João Batista que a interroga sobre o que ela deseja, e termina no palácio de Herodes, com o objetivo de cuidar de Herodíades, esposa do rei Herodes, que sofre de ferimentos pelo corpo. É testemunha da dança de Salomé, filha de Herodíades, e o pedido da cabeça de João Batista, que ela faz induzida pela mãe, sob seus protestos tão veementes quanto inúteis.
Nessa condição privilegiada de serva da rainha, Maria tem envolvimento afetivo com o general romano responsável pela política militar da região, e sugere que o ex-marido é um falso e traidor e que merece ser punido. O general atendendo os seus desejos invade a terra de Magdala, faz chicotear o perverso ex-marido de Maria e incendeia a propriedade. Maria cai em si, do mal que havia induzido, e corre para Magdala para tentar evitar o pior. Mas não consegue. Ver a sua amiga aterrorizada por saber que o filho está dentro de um prédio em chamas. De forma corajosa Maria entra no prédio e consegue resgatar a criança, mas essa está sem vida. Maria fica abatida, desesperada, e recusa seguir viagem com o militar romano, que a convida com veemência para seguir com ele. Maria fica sozinha, ao lado da mãe com o filho morto.
Jesus vem em suas andanças com os discípulos e se aproxima da cena dolorida. Sob o olhar admirado de Maria, Jesus pede para a mãe se afastar, senta ao lado da criança morta, pega delicadamente em sua mão e pede para ela acordar, pois sua mãe a espera. A criança mexe os dedos e abre lentamente os olhos, sob a perplexidade de todos. Jesus segue seu caminho e vai para a casa de um respeitado judeu que quer ouvi-lo falar. Maria é convidada a ir com eles por suas amigas, e com receio ela vai até a casa. Ver a crítica que todos fazem porque a consideram uma prostituta, mas ela não ver no olhar nem na fala de Jesus nenhuma crítica. Uma onda de amor domina a sua mente e ela se aproxima do Mestre, beija os seus pés, lava-os com suas lágrimas e enxuga-os com seus cabelos.
O Mestre ouve as críticas do dono da casa, pois ele como profeta não reconhece uma mulher como um ser inferior, principalmente quando esta é uma prostituta. O Mestre simplesmente lembra que ele, como convidado, não foi recebido com beijos, não teve os seus pés lavados nem enxutos. Mas essa mulher, fez tudo isso: beijou os seus pés, lavou-os com suas lágrimas, enxugou-os com seus cabelos e perfumou-os com óleos. Isso mostra que ela, apesar de pecadora, merece ter todos os seus pecados perdoados, por muito saber e demonstrar o amor.
Jesus olha para Maria e diz com serenidade, que ela pode seguir o seu caminho, pois todos os seus pecados estão perdoados. Maria enfrenta o olhar do Cristo, e diz que ela irá para onde Ele for, em qualquer momento, em qualquer lugar.
Os fatos podem não ter se passado dessa maneira, de uma forma ou de outra. Mas os registros que existem dentro dos Evangelhos, principalmente os apócrifos, mostram que uma situação como esta ou semelhante pode ter existido.
Então, adquiro uma percepção melhor daquela mulher que é considerada pela Bíblia, Novo Testamento, como uma prostituta. Vejo que ela não é uma mulher amoral na acepção preconceituosa que se faz dela a todo momento. Foi uma mulher desonrada e divorciada por iniciativa do seu marido, sem nenhuma justificativa, pois a esterilidade alegada era dele, e não dela. Foi uma mulher que procurou depois disso uma situação que pudesse conciliar o seu senso de justiça com o amor que ela tanto mostrava ter. Não conseguiu isso ao lado de ninguém, nem de mulheres, nem principalmente, de homens, que a queriam mais pelo seu corpo do que pela sua alma. Ela foi advertida sobre isso por João Batista, mas foi o contato mais próximo com Jesus, que a fez despertar definitivamente para o amor incondicional, aquele que está muito além do desejo carnal, do interesse material.
Ave, Maria de Magdala, Maria Madalena!