A política sofre muito com o desvio de função provocado pelo clientelismo. A política deve ser voltada para o bem comum e não patrocinar benefícios a indivíduos ou grupos que prejudiquem a coletividade. Esse clientelismo é gerado a partir da campanha eleitoral, quando o candidato promete benefícios a seus eleitores que são inconvenientes para a comunidade. O poder executivo e o poder legislativo é formado geralmente nessa base de interesses. Como o candidato pode ser eleito nas atuais condições do Brasil, se não prometer ou der, antes ou depois do voto, significativos presentes? Como um candidato pode se eleger e exercer a verdadeira política se está totalmente comprometido com essa “policagem” que parece mais uma molecagem do “toma lá, dá cá”? Se muito do que ele diz ou defende na praça pública, ele sabe que jamais poderá cumprir se não fizer parceria com o ilícito?
Com essa forma de procedimento a atividade política se torna corrompida no seu nascedouro: a campanha eleitoral. A verdade do que irá acontecer depois das eleições fica sempre encoberta pela omissão ou pela mentira. Quem pode desmascarar esse ato ardiloso, enganoso, de má-fé, feito com o intuito de lesar ou ludibriar os eleitores, ou de não cumprir o seu dever de político?
Quem pode dirimir essas dúvidas é o diálogo racional, a dialética dos conflitos originado pela contradição entre princípios teóricos ou fenômenos empíricos. Esse diálogo deve ser feito entre os interlocutores comprometidos com a busca da verdade, através do qual a alma se eleva, gradativamente, das aparências sensíveis às realidades inteligíveis ou ideias. De acordo com o aristotelismo, a dialética é um raciocínio lógico que, embora coerente em seu encadeamento interno, está fundamentado em ideias apenas prováveis, e por essa razão traz em seu âmago a possibilidade de ser refutado.
Porém, como o objetivo final é a busca da verdade, cada interlocutor não terá oportunidade de colocar argumentos falaciosos sob pena de ser desmascarado pela verdade que surge do lado oposto.
Dessa forma, quem sabe que está usando a mentira para corromper a verdade e ludibriar quem o ouve, terá medo de participar desse diálogo especial. Poderíamos imaginar que esse diálogo esteja ocorrendo nos debates no período eleitoral, onde cada um coloca seus argumentos para conquistar o voto do eleitor. Porém, como os contendores usam dos mesmos critérios de obstruir a verdade, principalmente nas doações eleitorais, a real consequência dos votos conquistados não é explorada à luz da verdade.
Necessário que a sociedade consiga criar esses espaços privilegiados onde o diálogo aconteça em busca da verdade, e o debate não possua mais o tom de violência e agressividade que acontece hoje em todos os níveis, do acadêmico ao eclesiástico.