Vivemos num país com uma constituição bastante favorável à população, com a defesa de vários direitos escritos dentro dela. Acontece que os legisladores foram bastante bondosos em escrever tantos direitos, mas não tiveram a devida preocupação de garantir os recursos financeiros para viabilizá-los.
A situação fica mais grave quando uma administração assume o poder com a intenção de colocar todas essas benesses na prática, criar outras e ainda por cima usar de expedientes criminosos, como a corrupção para enriquecimento ilícito de si mesmo, dos parentes e amigos.
Foi isso que aconteceu com o Brasil nos últimos anos. Entramos numa fase de sucateamento moral e financeiro sem precedentes. Até os serviços básicos como saúde, educação e segurança funcionam sem mostrar nenhum nível de resolução às necessidades da população, e termina numa situação do “salve-se quem puder”, e quem pode usa a máquina capenga do Estado para garantir gordos salários e o atendimento de suas necessidades, dentro de uma lei permissiva para os “poderosos” e madrasta para a classe trabalhadora, que se mata para pagar tantos impostos.
Uma situação de violência aconteceu hoje com procuradores e mostrou a verdade dessa condição. Transcrevei a carta de um colega, Dr. Sebastião, que trabalha no Hospital Walfredo Gurgel e que já foi o seu diretor geral:
WALFREDO GURGEL: O PARADOXO
Em plena sexta-feira, ainda em horário matutino, a rotina do atendimento emergencial do maior Pronto Socorro de nosso Estado é acrescida pelo atendimento de dois eméritos representantes do Ministério Público. Agravos à saúde em sintonia com uma insana violência, motivam a presença de tão ilustres criaturas. Atendimento em tempo hábil e a assistência de uma equipe profissional da melhor estirpe, em caráter emergencial, enseja serenidade e paz.
Em um momento posterior, já com a estabilidade hemodinâmica assegurada, entra em cena a saúde suplementar, a excepcional hotelaria de um hospital privado, além de uma farmácia abastecida.
Daremos sequência aos atendimentos corriqueiros, acalentando criaturas que enfrentarão a inexistência de antibióticos, além de tantas outras drogas.
São as adversidades do dia a dia, instantes em que a dor dos desvalidos maltrata o melhor senso dos integrantes da equipe referida acima.
O cansaço vem mitigando a força laboral de tão valorosos serviçais, já faz tempo. O salário atrasado tem sido a tônica de cada mês.
Preservar a vida e atenuar o sofrimento humano tem sido cada vez mais difícil.
É este o calvário dos que jamais pagarão um plano de saúde.
É chegado o momento daqueles que representam o mundo jurídico utilizarem o espírito beligerante em prol dos que jamais pagarão uma tumba, imaginem os remédios e exames de alta complexidade, durante uma internação.
Os gestores têm boa formação técnica e experiência que basta. De outro modo, sem moeda jamais alcançaremos a prática de uma Medicina razoável.
As nossas Unidades Hospitalares suplicam por socorro!
Este é o apelo de quem trabalha num desses serviços essenciais que o Estado deveria oferecer com qualidade, eficiência e eficácia a todos que o procurassem. Mas como fazer isso se o dinheiro da nação foi surrupiado e o pouco que resta é desviado para o atendimento de mordomias dentro da estrutura administrativa?
Que fazer para ajustar o nosso Estado ao plano divino da espiritualidade?