Servidores doentes, membros indiferentes. Os ex-colegas que encontro do breve período que ali passei ocupando cargo comissionado me dão um panorama de entristecer e de estarrecer. Ainda me comunico com vários deles, pois o MP-RN é daqueles locais pitorescos para quem quer estudar a alma humana e suas mazelas, ainda que só como observador. Mantenho vários ex-colegas nas redes sociais. Há poucos dias acompanhei uma discussão no facebook de um deles a respeito de reclamação do sindicato (a que nunca me filiei, diga-se de passagem) sobre recente determinação do PGJ de fazer obrigar os servidores a entrarem com seus carros unicamente pelo “portão dos fundos” do prédio, ainda que estivessem apenas sendo deixados no trabalho por seus cônjuges.
Veja bem, esses servidores sequer estacionariam seus carros, estavam de carona tentando entrar no trabalho pelo portão que fica mais próximo da porta de entrada do prédio, como deve parecer óbvio...
Pare aqui, caro membro, caso ainda esteja lendo. Tente se imaginar nessa situação embaraçosa, pra dizer o mínimo. Pense no lugar daquele servidor que trabalha com você todos os dias, tem família pra sustentar, filhos, contas a pagar, etc. Imagine você tentando entrar no seu local de trabalho, de carona com seu cônjuge, com seu filho no carro, e sendo “barrado” no portão mais próximo da entrada por ter havido determinação no sentido de que por ali só entra promotor e procurador e que você – servidor, ou seja, um “zé ninguém” – tem de dar a volta em todo o quarteirão e entrar pela “porta de trás” do órgão. Humilhante – e ainda por cima esse constrangimento se deu na frente da sua família.
Não, a mim não me pareceu mero “ato falho” da administração. Deve ter sido algo muito bem pensado por essa gestão. E não é algo isolado. Já vi ali de tudo. É servidor obrigado a servir cafezinho, a dirigir carro oficial tendo feito concurso para outra função, servidor ordenado a “arrumar gavetas” quando falta energia, ordenado a retornar do hospital onde acompanha filho doente para que a chefe “não perca prazo de trabalho” a apresentar para postular o “innovare”, a dar plantão sem direito à folga, viajar à trabalho sem direito à diária, servidor convidado à provar que se ausentou porque realmente perdeu um pai/mãe apesar de ter apresentado atestado comprovando tal condição, servidor que tem o ponto abonado (e o dia de salário descontado) por ter ido ao enterro do pai em outro estado, servidor sendo exonerado por telefone, membro mandando servidora “pegar seus troços e sair da sala”, por ter conseguido removê-la para outro lugar, servidora exonerada porque pagou viagem nas férias já programadas e não quis cancelá-las, servidor sendo dispensado no meio de uma licença médica por depressão, servidor vivendo sob contínua ameaça de exoneração, como me pareceu ser o caso do rapaz que, num verdadeiro ato de loucura, atirou contra dois promotores na última sexta feira (24).
Sim, precisamos falar sobre G. Li a carta que escreveu e fiquei abismado, pois se percebe claramente que esse cara surtou. Não o conheço, mas de todas as pessoas com quem falei ouvi que se tratava de um servidor pacato, boa gente e gentil até. Estavam todos, portanto, chocados não só com os fatos, mas em saber do autor dos fatos, tido por todos como alguém “incapaz de fazer mal a uma mosca”.
Por isso entendo que é chegada a hora de falar sobre o tipo de ambiente de trabalho que transforma servidores pacatos em atiradores. Foi uma tragédia, isso é inegável. E não é isso que está em discussão. O dia 24-03-17 marcará a vida de todos ali, negativamente, para sempre. Foi surreal. Deixará sequelas para membros e servidores. Mas demanda uma profunda reflexão de todos ali, pois está evidente que o MP-RN “adoeceu”, por assim dizer.
Também é preciso dizer que essa gestão será inesquecível, não só por esse acontecimento trágico, mas também pelas inúmeras brigas institucionais que não raro paravam nos jornais. Era uma escalada de ódio que não parava mais. Era feio demais! E acabava resvalando nos servidores que nada tinham a ver com isso.
A gestão de Rinaldo Reis será lembrada como a gestão que levou o MP a adoecer e ir para na UTI em matéria de relações humanas e institucionais. E, por algum motivo, virou um ambiente hostil para os servidores que deveriam ser tratados como colaboradores, não humilhados e reduzidos.
Senhores membros, tenham a nobreza de fazer essa reflexão, pois ela é fundamental para que se restaure o equilíbrio ali, se é que é possível, num ambiente que produz servidores depressivos e revoltados.
Sabemos que há assédio moral em vários órgãos públicos. Mas ali no MP-RN há uma situação que precisa ser urgentemente revertida. Chegou-se aos extremos. E é preciso admitir que em ambiente de trabalho onde se cultiva o ódio e a beligerância, o inesperado um dia acaba por acontecer.
Não continuem indiferentes a tudo isso! Pessoalmente sei que há muitos membros que são gente boa. É nesses que deposito a esperança de que o MP um dia volte a ser o que era antes: um bom ambiente de trabalho também para o servidor e não um ambiente onde reina a hostilidade e a indiferença para com este e para com sua saúde mental e bem-estar. É preciso cultivar a paz e respeito no trabalho. Mais humanidade! Mais amor, por favor! Reflitam sobre isso.
Fica difícil uma tomada de decisão definitiva sem conhecermos com mais precisão como se formaram as motivações. A responsabilidade administrativa dos gestores deve ser colocada com destaque, pois a partir deles o serviço deve funcionar, bem ou mal. De um lado existe os funcionários que defendem os seus direitos, mesmo que isso prejudique o serviço, que é a razão deles estarem trabalhando. Os gestores devem priorizar o bom atendimento feito pela instituição. O bem-estar dos funcionários deve ser visto, mas não a ponto de inviabilizar o serviço ou deixa-lo incompetente. A atual visão dos servidores é que eles devem ter o foco principal das atenções, que devem ser cuidado com prioridade frente ao ente ao qual escolheram servir.
Acredito que seja necessária uma educação desde criança para que a pessoa absorva esses compromissos de onde desejam trabalhar, e não entrarem dentro de uma instituição e agora desejarem que todos os benefícios sejam dados a si, esquecendo a responsabilidade que a instituição tem frente a comunidade e que eles são os braços e pernas para que isso aconteça.