Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
13/04/2017 23h59
UNIÃO DO PRINCÍPIO ESPIRITUAL À MATÉRIA

            Irei dar continuidade ao estudo da gênese espiritual, focalizando aqui como acontece a união do princípio espiritual à matéria:

            Tendo a matéria que ser objeto do trabalho do Espírito para desenvolvimento de suas faculdades, era necessário que ele pudesse atuar sobre ela, pelo que veio habitá-la, como o lenhador habita a floresta. Tendo a matéria que ser, no mesmo tempo, objeto e instrumento do trabalho, Deus, em vez de unir o Espírito à pedra rígida, criou, para seu uso, corpos organizados, flexíveis, capazes de receber todas as impulsões da sua vontade e de se prestarem a todos os seus movimentos.

            O corpo é, pois, simultaneamente, o envoltório e o instrumento do Espírito e, à medida que este adquire novas aptidões, reveste outro invólucro apropriado ao novo gênero de trabalho que lhe compete executar, tal qual se faz com o operário, a quem é dado instrumento menos grosseiro, à proporção que ele vai se mostrando apto a executar obra mais bem cuidada.

            Para ser mais exato, é preciso dizer que é o próprio Espírito que modela o seu envoltório e o apropria às suas novas necessidades; aperfeiçoa-o e lhe desenvolve e completa o organismo, à medida que experimenta a necessidade de manifestar novas faculdades; numa palavra, talha-o de acordo com a sua inteligência. Deus lhe fornece os materiais; cabe-lhe a ele emprega-los. É assim que as raças adiantadas têm um organismo ou, se quiserem, um aparelhamento cerebral mais aperfeiçoado do que as raças primitivas. Desse modo igualmente se explica o cunho especial que o caráter do Espírito imprime aos traços da fisionomia e às linhas do corpo.

            Desde que um Espírito nasce para a vida espiritual, tem, por adiantar-se, que fazer uso de suas faculdades, rudimentares a princípio. Por isso é que reveste um envoltório adequado ao seu estado de infância intelectual, envoltório adequado ao seu estado de infância intelectual, envoltório que ele abandona para tomar outro, à proporção que se lhe aumentam as forças. Ora, como em todos os tempos houve mundos e esses mundos deram nascimento a corpos organizados próprios a receber Espíritos, em todos os tempos os Espíritos, qualquer que fosse o grau de adiantamento que houvessem alcançado, encontraram os elementos necessários à sua vida carnal.

            Por ser exclusivamente material, o corpo sofre as vicissitudes de matéria. Depois de funcionar por algum tempo, ele se desorganiza e decompõe. O princípio vital, não mais encontrando elemento para sua atividade, se extingue e o corpo morre. O Espírito, para quem, este, carente de vida, se torna inútil, deixa-o, como se deixa uma casa em ruínas, ou em uma roupa imprestável.

            O corpo, conseguintemente, não passa de um envoltório destinado a receber o Espírito. Desde então, pouco importam a sua origem e os materiais que entraram na sua construção. Seja ou não o corpo do homem uma criação especial, o que não padece dúvida é que tem a formá-lo os mesmos elementos que o dos animais, a animá-lo o mesmo princípio vital ou, por outra, a aquecê-lo o mesmo fogo, como tem a iluminá-lo a mesma luz e se acha sujeito às mesmas vicissitudes e às mesmas necessidades. É um ponto este que não sofre contestações.

            A não se considerar, pois, senão a matéria, abstraindo do Espírito, o homem nada tem que o distinga do animal. Tudo, porém, muda de aspecto, logo que se estabelece distinção entre a habitação e o habitante.

            Ou numa choupana, ou envergando as vestes de um campônio, um nobre senhor não deixa de o ser. O mesmo se dá com o homem: não é a sua vestidura de carne que o coloca acima do bruto e faz dele um ser à parte; é o seu ser espiritual, seu Espírito.

            Assim termina os principais textos que falam da origem do Espírito e da matéria. Fiquei com uma dúvida sobre uma lacuna que percebi no primeiro parágrafo desse relato de Alan Kardec. Ele diz que a matéria tinha que ser objeto do trabalho do Espírito, e que ele teria que atuar sobre ela como um habitante dentro da sua casa. A matéria seria ao mesmo tempo moradia e instrumento de trabalho do Espírito. Entendi que seria assim desde a formação do átomo, nas energias que mantém as estruturas subatômicas estaria a centelha divina, o princípio espiritual. À medida que essa centelha divina/princípio espiritual adquiria domínio do ambiente à sua volta, elaboraria estruturas mais sofisticadas, como moléculas e os diversos tipos de substâncias químicas. Assim se desenvolveria, sob o comando do princípio espiritual, até a formação de corpos capazes de absorver o princípio vital e constituir os seres vivos. A epopeia do Espírito continuaria pelos diversos reinos da Natureza, pelas diversas espécies dos seres vivos, até que uma dessas estratégias evolutivas desenvolveria um corpo capaz de processar de forma sofisticada impulsos neuronais capazes de compreender os princípios morais das leis de Deus. Estaria formada a espécie humana.

            Essa forma de entendimento da mecânica evolutiva do Espírito e da matéria, implica na viagem do princípio espiritual desde o átomo até atingir a condição de Espírito na administração do corpo humano. No entanto, Allan Kardec diz que “Deus, em vez de unir o Espírito à pedra rígida, criou, para seu uso, corpos organizados, flexíveis, capazes de receber todas as impulsões da sua vontade e de se prestarem a todos os seus movimentos.”

            Talvez ele não esteja considerando a viagem do princípio espiritual por todos os passos evolutivos e considere o passo final de alcançar a humanidade.

            Mas, como o próprio codificador advertiu no início de sua obra, são esses assuntos impossíveis de termos dados que nos aproxime com mais segurança da verdade. O que podemos fazer é lançar hipóteses, ensaios, sobre o que tenha acontecido com base no raciocínio lógico das informações que já possuímos. Isso não quer dizer que estejamos certos, tanto na forma quanto no conteúdo. É mais provável que nossos atuais raciocínios estejam cheios de erros e que possamos com humildade e muito estudo ir retirando aquilo que se torne em algum momento incoerente.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 13/04/2017 às 23h59