Jesus foi o nosso grande professor, tanto na teoria quanto na prática. Suas lições dadas há 2000 anos continuam atuais até os dias de hoje e cada vez sentimos no cognitivo a incapacidade de captar tudo que Ele queria nos dizer. São fantásticos os seus ensinamentos, como o sermão da montanha, por exemplo; são notáveis os seus feitos, curando doentes do corpo e da alma e interferindo com as forças da Natureza, como autênticos milagres compreendidos assim até hoje pela maioria da humanidade.
Porém, o Mestre deixou outras lições que não foram percebidas como tal, como é o caso do que Ela não disse ou fez. O caso onde ele foi rejeitado em uma das aldeias por onde andava, os discípulos ficaram revoltados, queriam jogasse o fogo do céu, com seus poderes, sobre o lugarejo ímpio. Mas Ele nada fez... retirou-se em silêncio, triste e plácido. Ensinou sem palavras a lição da humildade nos relacionamentos, por mais que Ele tivesse conteúdo para ensinar, ajudar ou curar, mas a Sua doação dependeria da intenção do outro em receber.
Também existe o caso do edemoniado de Gadara, um ser violento que vivia obsediado por uma legião de espíritos e que por isso tinha que ser amarrado. O Mestre com Sua força moral retirou todos os espíritos que infestavam a pessoa e ordenou que entrassem nos porcos, que por sua vez se jogaram do despenhadeiro, como está registrado na Bíblia. As pessoas ficaram incomodadas pelo prejuízo causado pela morte dos porcos e impediram o Mestre de falar. Este não disse sequer uma palavra condenatória, retornou imperturbável ao mar da Galiléia. Deu mais uma lição sem palavras, a lição da paciência.
Os sacerdotes e seus cúmplices acusavam o Mestre instigar contra o Templo e contra os poderes de Roma, as pessoas humildes que o seguiam em busca de uma ajuda, de uma palavra sábia. Jesus não disse nenhum revide, não reagiu com irritação. Deu outra lição, a calma frente as adversidades caluniosas.
Por outro lado, as pessoas mais impetuosas, queriam a revolta contra o poder de Roma e tirar Israel da subserviência, procuraram Jesus, pois Ele tinha muitas pessoas que o ouviam e que o seguiriam se Ele os conduzisse à revolução. Jesus não se justificou frente aos exaltados, não debateu o assunto, retirou-se a sós. Ensinou como ser uma pessoa pacífica, que não se envolve em contendas violentas.
Até no próprio palácio de Pilatos, quando Ele foi interrogado pelo governador romano, sabendo que podia colocar palavras em Sua defesa, pois sentia que Pilatos queria lhe ajudar e contrariar os sacerdotes, Ele pouco falou, nada fez, sempre compreensivo e vigilante. Deu a lição da serenidade frente ao poder constituído da força romana.
Mesmo na cruz, aparentemente derrotado, torturado, disse apenas o indispensável, para perdoar a quem estava lhe crucificando e ironizando, pois não sabiam o que faziam, orientar à Sua mãe e ao discípulo João sobre a relação mãe e filho que eles deveriam ter entre si, e finalmente se abandonar nos braços do Pai, no cumprimento da Sua missão.
Enfim, vitorioso, se mostrou tão vivo quanto antes ao sair da sepultura depois de três dias. Mostrou que a morte pode ser vencida, afirmou assim a imortalidade e realentou os companheiros. Deu a lição do comportamento de um vitorioso, não foi em busca dos seus algozes para mostrar como ele estava certo e todos os outros errados.
Podemos fazer um resumo dos não ditos e não feitos de jesus da seguinte forma: se incompreendido, não te amofines; se a luta aumenta, não desesperes; se a doença avança, não desanimes; se o mal te ameaça, não recalcitres; se injuriado, não te defendas; se perseguido, não te justifiques; se angustiado, não te exponhas. Mesmo que tenhas o que dizer e tenha recursos para fazer, nada diga, nada faças.
Parece uma atitude passiva, inconveniente para o processo de evolução espiritual. Mas, se nós fizemos o que era preciso fazer, nos limites de nossas forças, os nossos ditos e feitos já falaram por nós. Se não foram ouvidos por quem não tem ouvidos para ouvir, continua a porfiar confiante, mantendo a fé robusta. Mais vale ser vítima da impiedade quando se está com a consciência tranquila, do que ser perseguidor entre aplausos carregando uma consciência em brasa.
O nosso caminho deve seguir à luz do Evangelho. Se a vida solicitar ao nosso espírito o pesado tributo da causa do Amor que abraçamos, não neguemos, não recusemos, nada digamos, nada façamos. Mesmo morrendo na arena, incompreendido e ralado, ascenderemos tranquilos aos campos do Amor para voltarmos a ajudar mais tarde os que nos perseguiram.