Na ida de Jesus à Jerusalém, foi recebido como um verdadeiro reis. Ele ia montado num burro, mas as pessoas o recepcionaram com a dignidade de um monarca. Jogavam flores, estendiam tapetes vermelhos, cantavam hosanas. A multidão o seguia com entusiasmo. Ninguém que observava essa cena poderia prever que logo mais tudo estaria mudado. Aquelas pessoas que o recepcionavam com tanto êxtase, muitos dos quais beneficiados por uma cura, uma palavra de afeto, teriam os seus comportamentos alterados e aquele por quem cantavam hosanas, mais tarde seria o alvo de zombarias, ironias e torturas físicas e morais.
Algo parecido, mas de forma inversa eu vi hoje acontecer nas adjacências do bairro onde resido. O ex-ministro Henrique Eduardo Alves foi preso pela polícia federal, retirado do prédio onde mora com os apupos das pessoas que se aglomeravam ao seu redor, tirando fotos e jogando impropérios, acusações, xingamentos, onde a palavra ladrão parecia até um coro desarticulado.
Lembrei então dos diversos momentos em que ele era candidato, quantas pessoas estavam ao seu redor em busca de benefícios, de cargos, de ajuda para um parente ou aderente. Foi aí que surgiu a comparação com o Cristo, de forma inversa, claro. O Cristo trabalhava a missão que recebera do Pai, de divulgar e ensinar sobre o Amor, sobre a importância do mundo material como uma escola ou hospital e do mundo espiritual como a pátria real e definitiva onde o nosso espírito imortal deverá residir após ter cumprido o seu aprendizado.
Henrique também trabalhava uma missão política deixada pelo seu pai, que chegou a ser governador do estado do Rio Grande do Norte. Mas Henrique se afastou dos princípios cristãos, da Verdade, ferramenta indispensável à prática do Amor. Com essa atitude passou a integrar o mundo da corrupção e arregimentar pessoas sem escrúpulos que não queriam saber de onde vinha o dinheiro que pagava o trabalho de “lideranças políticas” que terceirizavam a compra dos votos através do atendimento das diversas necessidades dos eleitores, geralmente do imperativo da sobrevivência, do apelo do estômago vazio. Quando a Justiça conseguiu provas suficientes para a sua prisão, desapareceram todos os beneficiados e surgiram os críticos com ares de carrasco dispostos a executarem às penas, por mais dolorosas que fossem.
Esse clima de bandidos e vítimas que se revoltam parece fazer uma mistura heterogênea, onde muitos dos puristas acusadores estão encobertos pela mentira e também participam de falcatruas semelhantes.
Portanto, existe uma semelhança na forma, mas no conteúdo é diametralmente oposto ao que Jesus praticou e sofreu. O exemplo de Jesus devemos praticar, o de Henrique devemos evitar.