Tenho uma amiga que passa por muitas dificuldades no relacionamento com seu marido, e ao sairmos juntos certa tarde, ela confessou que se sentia simultaneamente no Céu e no Inferno. Achei interessante essa colocação dela e fiz o texto abaixo como se fosse ela a autora.
Por estranho que pareça, me sinto no inferno e ao mesmo tempo no paraíso. Estou ao lado do homem que amo, e com o homem que o destino colocou, nos últimos dias, na minha vida. Ambos foram colocados por Deus em minha vida, certamente Ele quer me ensinar algo que ainda não consigo entender.
O primeiro homem é o meu marido, entrou na minha vida e casamos... mesmo não estando entusiasmada para viver uma vida de mulher casada. Geramos duas filhas e construímos nossa casa, firmamos nosso relacionamento. Eu sempre fui muito resistente com essa questão de relacionamentos, levava na brincadeira o sentimento do amor.
Minha vida tornou-se um inferno quando soube, inclusive através de provas, da traição do meu marido. Parece um castigo dos deuses, eu que sempre ironizei o amor, fiquei como uma pessoa apaixonada que via da traição o desprezo do homem que tenho que reconhecer, se não estou apaixonada, o amo de verdade e tenho medo de perde-lo. Acontece que o sentimento do orgulho ferido, da raiva e até do ódio, tornou o meu pensamento obcecado pela imagem dos dois fazendo amor. Chego a ouvir vozes dentro de minha cabeça que me acusam ou que me mandam reagir, de matar ou morrer. Não consigo aceitar as mentiras que meu marido me diz, que nada aconteceu, não reconhecendo as provas documentais e testemunhais que tenho. É este tumulto perverso e dolorido, constante e severo na minha mente, que me tira o sono e a paz, que me joga dentro do inferno.
O outro homem que Deus colocou ao meu lado, traz para perto de mim a luz do Evangelho, mostra as lições que Jesus veio nos dar sobre o Amor, a tolerância e principalmente o perdão. Mas como perdoar uma pessoa que me machucou tanto e continua a me machucar, pois permanece na mentira e nunca aceita a verdade que eu tenho nas mãos? Mas este amigo me diz que se ele fala a mentira e não quer reconhecer isso é problema dele, o meu problema é ter a firmeza para reconhecer que isso é tarefa dele, que eu não posso fazer por ele, e que o que eu posso fazer se quiser, é corrigir a minha forma de pensar e sentir e dar o perdão pelos males que ele me fez, mesmo ele não reconhecendo isso. Mas isso é problema dele, o meu problema é encontrar forças e dar o perdão verdadeiro, somente assim sairei do inferno e poderei entrar no céu.
Então foi isso que senti nesta tarde. Ao lado do meu marido que leva consigo as mentiras que me atormenta e ao lado do meu amigo que leva consigo o Evangelho que pode me libertar, eu fico a sentir o inferno quando chega na memória a traição que sofri e o sentimento de perdão, e ao mesmo tempo, por um pequeno intervalo de tempo eu chego a sentir o céu quando imagino lhe dar o perdão e o amar sem nenhum tipo de ressentimento.
Ah, meu Deus, como eu queria jogar fora esse inferno e ficar sempre dentro do Céu! Mas eu não me renderei. Lutarei até o fim para transformar dentro de mim tanto orgulho, tanta vaidade por não ser reconhecida uma mulher que possui um marido que não trai, tanta raiva que surge as vezes sem eu querer... Mas meu amigo ensinou que quando nos sentimos fragilizados sem forças para atingir aquilo que queremos, devemos orar a Deus com toda a força dos sentimentos para que Ele nos dê força e sabedoria para alcançar este Céu, que aqui e acolá experimento um pouquinho dele.