Para entender a História do Brasil de forma neutra e traçando um estudo psicológico da personalidade daqueles que contribuíram, positiva ou negativamente, o primeiro a ser citado é D. João VI (1767-1826), cognominado O Clemente. Foi rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, que foi a designação oficial assumida em 16-12-1815, elevando do então Estado do Brasil (unidade administrativa da América Portuguesa criada durante o reinado de Dom João III, fazendo parte do período conhecido como Brasil Colônia) a reino unido com o Reino de Portugal (sua metrópole soberana até então) e Algarve, uma região ou comarca que em nada se distinguia do resto de Portugal.
Portugal teve Reinos (Portugal e Algarve), Senhorios (Guiné, Etiópia e Pérsia) e Estados (Brasil e Índia), conforme se verifica em “História da Companhia de Jesus no Brasil” de autoria do Padre Serafim Leite. Nessa historiografia política se observa que em 1530 D. João III divide o Brasil em 14 províncias; em 1548, D. João III cria na Província de Santa Cruz, o Estado do Brasil; em 1645, D. João IV cria o Principado do Brasil e os herdeiros da coroa portuguesa passam a receber o título de Príncipe do Brasil; em 1815, D. João VI cria o Reino do Brasil; e em 1822 D. Pedro I estabelece o Império do Brasil.
Essa elevação do Estado do Brasil para Reino, aconteceu devido a transferência da família real e da nobreza portuguesa para o Brasil, por ordem do então Príncipe-Regente Dom João Maria de Bragança, futuro rei D. João VI, após as invasões napoleônicas a Portugal.
O Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves teve apenas dois reis, Dona Maria I (que era a Rainha de Portugal antes da elevação do Brasil a reino unido com Portugal) e Dom João VI (que antes da sua mãe, a rainha Dona Maria I morrer, já governava como Príncipe-Regente). A capital do reino era a cidade do Rio de Janeiro, à época chamada apenas de corte. Foi dessa capital que passou a ser exercida a soberania de Sua Majestade Fidelíssima sobre todas as colônias do Ultramar Português.
D. João VI foi o imperador titular do Brasil, enquanto rei do Reino Unido de Portugal Brasil e Algarves, mas foi o seu filho D. Pedro, o imperador de fato.
D. João VI, um dos últimos representantes do absolutismo, viveu num período tumultuado, e o seu reinado nunca conheceu a paz duradoura. Ora era a situação portuguesa ou europeia a degenerar, ora era a brasileira. Não esperava vir a ser rei, só tendo ascendido à posição de herdeiro da Coroa pela morte do seu irmão mais velho, D. José. Assumiu a regência quando a sua mãe, a rainha D. Maria I de Portugal, foi declarada mentalmente incapaz. Teve de lidar com a constante ingerência nos assuntos do reino de nações poderosas, notadamente a Espanha, França e Inglaterra. Obrigado a fugir de Portugal quando as tropas napoleônicas invadiram o país, à sua chegada ao Brasil enfrentou revoltas liberais que refletiam acontecimentos similares na metrópole, sendo compelido a retornar à Europa no meio de novos conflitos. Perdeu o Brasil quando o seu filho Pedro IV de Portugal proclamou a independência desse território, e viu o seu outro filho, D. Miguel, rebelar-se buscando depô-lo. Provou-se que morreu envenenado. O seu casamento foi da mesma forma acidentado, e a esposa, Carlota Joaquina de Bourbon, repetidas vezes conspirou contra o marido a favor de interesses pessoais ou de Espanha, seu país natal.
Não obstante as atribulações, deixou uma marca duradoura especialmente no Brasil, criando inúmeras instituições e serviços que sedimentaram a autonomia nacional, sendo considerado por muitos pesquisadores o verdadeiro mentor do moderno Estado Brasileiro. Apesar disso é, até hoje, um dos personagens mais caricatos da história luso-brasileira, sendo acusado de indolência, falta de tino político e constante indecisão, sendo a sua esposa retratada amiúde como grotesca, imagem injusta na maioria das situações, segundo a historiografia mais recente.
Essa herança histórica que recebemos de nossos antepassados, apresenta um viés injusto com os protagonistas de nossa história, com o intuito de ressaltar o regime republicano como superior ao regime monárquico, sem enfatizar o fato de que a queda da monarquia se deu por um golpe de estado promovido pelos militares, sem nenhuma participação do povo, pelo contrário, sem o conhecimento da população.
É importante que seja feito um estudo retrospectivo de resgate da história para verificarmos quem foram os verdadeiros beneficiados por esse golpe de estado que repercute em nossas vidas até hoje. Verificar se a correção da provável injustiça feita a casa real brasileira, retornando os seus herdeiros aos seus respectivos postos, é uma questão ética, política e administrativa coerente com a Verdade e com os interesses equânimes da população.