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08/08/2017 08h16
JESUS REAL (3) – OPINIÃO DO HISTORIADOR FLÁVIO JOSEFO

            Tive acesso a um texto na internet que fala de Flávio Josefo, historiador judeu, que serve para fechar essa série sobre “Jesus real”.

            Flávio Josefo (37-100dC) é considerado como um dos maiores historiadores judeus de sua época, e além de escrever sobre a História dos Judeus e suas guerras, também escreveu sua autobiografia, na qual se descreve, como filho de Matias o sacerdote judaico, nascido em Jerusalém, instruído pela Torá e adepto do farisaísmo. O seu testemunho é importante, pois é provavelmente o único relato sobrevivente de uma testemunha ocular da destruição de Jerusalém.

            Josefo é considerado como um revolucionário judeu que rendeu-se à supremacia romana trocando o suicídio pela lealdade a Roma. Por sua demonstração de lealdade, Vespasiano não apenas o recebeu como cidadão romano, mas o patrocinou como historiador.

            No seu livro “Antiguidade dos Judeus” que é normalmente datado na década de 90dC tem duas citações interessantes. A primeira faz clara referência a Tiago “irmão de Jesus chamado Cristo”.

            “Anano, um dos que nós falamos agora, era homem ousado e empreendedor, da seita dos saduceus, que, como dissemos, são os mais severos de todos os judeus e os mais rigorosos no julgamento. Ele aproveitou o tempo da morte de Festo, e Albino ainda não havia chegado, para reunir um conselho diante do qual fez comparecer Tiago, irmão de Jesus chamado Cristo, e alguns outros; acusou-os de terem desobedecido às leis e os condenou ao apedrejamento. Esse ato desagradou muito a todos os habitantes de Jerusalém, que eram piedosos e tinham verdadeiro amor pela observância das nossas leis” – (Josefo, Flavio, História dos Judeus – CPAD, 2000, pp. 465)

            Dois fatos são interessantes nessa citação: 1) Confirma uma clara declaração das escrituras: Jesus tinha um irmão chamado Tiago (Gl 1.19); 2) Ele era reconhecido como Cristo, outra afirmação clara das escrituras (Mt 16.16)

            A segunda declaração de Josefo a respeito de Jesus é ainda mais explicita e por isso, muito controversa. Pouco antes da declaração supracitada, ele também afirma:

            “Nesse mesmo tempo apareceu Jesus, que era um homem sábio, se todavia devemos considera-lo simplesmente como um homem, tanto suas ações eram admiráveis. Ele ensinava aos que tinham prazer em ser instruídos na verdade e foi seguido não somente por muitos judeus, mas mesmo por muitos gentios. Ele era o Cristo. Os mais ilustres da nossa nação acusaram-no perante Pilatos e ele fê-lo crucificar. Os que o haviam amado durante a vida não o abandonaram depois da morte. Ele lhes apareceu ressuscitado e vivo  no terceiro dia, como os santos profetas o tinham predito e que ele faria muitos outros milagres. É dele que os cristãos, que vemos ainda hoje, tiraram seu nome” – (Josefo, Flávio, História dos Judeus – CPAD, 2000, pp 418

            Esta citação tem sido criticada como sendo impossível de ter sido proferida por um judeu-romano escrevendo sobre a história dos judeus. Normalmente apela-se para o fato de que o texto acima é fruto de uma corrupção cristã tardia, especialmente pelo fato de Orígenes (185-253) atestar que Josefo não aceitava a Messianidade de Jesus. Entretanto, essa declaração não é inteiramente verdadeira, observemos a declaração de Orígenes:

            “Tamanha era a reputação de Tiago entre as pessoas consideradas justas, que Flávio Josefo, que escreveu Antiguidade dos Judeus em vinte livros, quando ansiava por apresentar a causa pela qual o povo teria sofrido grandes infortúnios que até mesmo o templo fora destruído, afirma que essas coisas aconteceram com eles de acordo com a Ira de Deus em consequência das coisas que eles se atreveram a fazer contra Tiago o irmão de Jesus que é chamado Cristo. E o que é fantástico nisso é que, apesar de não aceitar Jesus como Cristo, ele nos deu testemunho da justiça de Tiago” – (Orígenes, Vol. 9, pp 424)

            Considerando o fato de que Orígenes atesta que Josefo o chama de Cristo (como vimos que o faz quando fala sobre Tiago), embora não o considerasse como tal, não é impossível que a citação seja de fato verdadeira. Porém, devemos reconhecer que algumas declarações desse texto atribuído a Josefo parecem por demais cristãs para serem de um fariseu, e entendemos que não é a toa que tenha sido considerada uma interpolação.  Dos três textos apresentados nessa sequência sobre a realidade de Jesus, apoiado em documentos pretensamente históricos e também reais, este último do historiador Flávio Josefo parece ser o mais convincente e real, mesmo que sobre ele ainda paire as críticas de adulteração em favor do pensamento cristão.  Também aceito a coerência dessas críticas, mas a pujança do documento histórico, apoiado nas suas bases sociais, é o grande elemento de confirmação do Jesus Cristo histórico.  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 08/08/2017 às 08h16