Houve uma convocação no céu para todos os anjos interessados na Terra. Como eu estava interessado em experimentar o Amor Divino junto aos humanos, fui o primeiro a levantar a mão.
O Senhor aceitou a minha indicação e disse que minha missão era para assumir a forma humana e aliviar o sofrimento em qualquer lugar que eu estivesse, com qualquer pessoa que eu me relacionasse.
Concordei de imediato, pois minha intenção de praticar o Amor, iria ser bem coerente com o propósito do Criador, de aliviar a dor dos humanos através de mim.
Como eu estava enganado!
A experiência foi me mostrar que os humanos têm um sentimento chamado ciúme que é um tipo de ácido para desmanchar o Amor.
Cumpri direitinho a ordem do Senhor, de ajudar e aliviar a dor de quantos se aproximassem de mim, se relacionassem comigo. Mas quando eu deixava o amor surgir, desabrochar, florir, logo aparecia também o ciúme como erva daninha a sufocar o Amor. A pessoa que se sentia apaixonada por mim, queria o meu amor só para ela; mas como fazer isso, se o Amor é uma essência que frasco nenhum consegue conter? Uma energia que nenhuma força consegue limitar? É benigno, justo, tolerante, tudo suporta, mas não se submete à grilhões?
Então vi que estava desobedecendo ao Senhor, não estava evitando a dor nessas circunstâncias, com pessoas apaixonadas, e sim provocando sofrimentos. Cada vez que eu deixava o meu amor fluir, gerava na pessoa amada o desejo de posse, o sentimento do ciúme, e quando ela percebia que não podia me conter como desejava, passava a sofrer dores emocionais atrozes, inclusive eu!
Ainda pensei em desistir do Amor e andar pelo mundo apenas ajudando, mas não consigo... o tipo de sangue que corre nas minha veias é o Amor!
Agora, estou complicado. De um lado o Pai observa que eu não estou fazendo a Sua vontade, de aliviar a dor dos humanos, e pior, estou fazendo o contrário, gerando mais dores; por outro lado, aquelas que se apaixonam por mim, não percebem que as doses tão grande de prazer que recebem hoje, amanhã serão substituídas por doses maiores de sofrimento.
Dessa forma, todos me veem como pecador, de não seguir a lei humana que limita o amor a uma só pessoa, de não ter em meu coração a erva daninha do ciúme, afinal sou um anjo. Mas como explicar isso a quem me considera ser um ente de outro planeta? Como explicar que eu venho das estrelas, do lado do Criador?
Tenho que me acostumar com essa situação de Anjo Pecador, e esperar que o Senhor me chame de volta. Sei que não fiz a Sua vontade como eu pretendia e Ele esperava, mas acredito que eu tenha um forte atenuante, pois de todo o sofrimento que eu causei, quem mais sofreu fui eu. Sofri pois não tive competência de tirar o ciúme de ninguém, e cada lágrima caída, cada coração ferido, cada sonho desfeito, era para o meu coração uma ferroada dos infernos!
Sim, Pai, acho que todos tem razão... sou um Anjo Pecador!