Pedro era uma pessoa bem espiritualizada, poderia ser considerado estar acima da média da maioria dos seus irmãos, ele mesmo tinha essa compreensão. Sabia da importância de conquistar tesouros que pudesse levar consigo na jornada espiritual.
Certa vez passando com o seu carro por uma feira livre que ele não conhecia, e como tinha tempo de estacionar e visitar, resolveu parar. Gostava de ver o que os feirantes traziam para comercializar, fugindo do padrão industrial que era encontrado nos supermercados.
Estacionou o carro num local que não oferecia tanto risco de furto, onde tinha um pastorador e pessoas sentadas na calçada. Colocou a carteira com cuidado no bolso traseiro de sua calça e adentrou pelas vielas formadas pelas várias bancas com seus produtos diversos.
Ao voltar para o carro, percebeu que alguém o chamava, uma voz feminina. Logo imaginou que seria uma bêbada querendo dinheiro para alimentar o seu vício. Fez de conta que não ouviu e se dirigiu para o carro. Mas a voz não desistia e lhe seguia.
- Aderbal! ... Aderbal!
Pedro raciocinou que a mulher estava lhe confundindo com outra pessoa, mesmo assim não se preocupou em desfazer o equívoco. Continuou andando sem olhar para trás. Chegou ao seu carro no mesmo tempo que a mulher. Esta colocou a mão na porta impedindo o seu fechamento. Pedro pedia com insistência que ela tirasse a mão e disse de forma aborrecida que não se chamava Aderbal, que ela estava equivocada. A mulher realmente estava embriagada, ficou meio desconcertada com a rejeição e o engano e forçada pelo pastorador do carro liberou-o para Pedro partir.
No caminho, Pedro refletia, com um sentimento de culpa... “Como pode, eu que procuro cumprir as lições do Evangelho e buscar os tesouros que os ladrões não podem roubar, nem as traças podem comer, entro nessa feira com a preocupação principal em proteger a minha carteira contra os ladrões? Não lanço um olhar caridoso sobre as pessoas que estão ali lutando pela sobrevivência, inclusive os ladrões que levam seus objetos roubados e fazem em tipo de ‘feirinha’ à parte!? E para o cúmulo da minha incompetência evangélica, rejeito uma irmã que tenta se aproximar de mim, mesmo que estivesse embriagada como supus, mas queria uma ajuda de qualquer forma? Nem tentei ouvir qual era o tipo de ajuda que ela queria!? Que fiz, meu Deus, dos meus tesouros, com essa rápida visita a feira? Preservei a bolsa com o dinheiro material, aquele que os ladrões podem roubar e as traças comerem; mas deixei de angariar preciosas ‘moedas’ espirituais. Ah, se o meu espírito tivesse a força suficiente para vencer a força do egoísmo que me dominou naquele momento!”
Assim, Pedro dirigia para sua casa com a consciência alquebrada. Percebia que de tantas lições evangélicas que já aprendera, ainda teria que aprender muito, do quanto necessário para coloca-las em prática; que da relativa facilidade em conquistar e manter consigo os tesouros materiais, existia uma enorme dificuldade em conquistar os tesouros espirituais. Somente teve um pouco de consolo ao lembrar das palavras do Apóstolo Paulo, que tanto se esforçava para fazer o bem, e no entanto era o mal que praticava.