Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
20/10/2017 00h59
HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA

            Durante grande parte da história as doenças mentais não existiram, eram apenas loucura. Os enfermos eram temidos e perseguidos. O tratamento não se diferenciava da tortura e do assassinato. Imaginava-se que eles se comportavam de forma estranha porque estavam possuídos por espíritos malignos ou pelo próprio diabo. Dessa forma, se imagina que o doente era atacado por forças estranhas e externas.

            A trepanação foi a primeira tentativa de se retirar a influência externa que havia se interiorizado. As aberturas no crânio tinham essa finalidade, deixar escapar os valores nocivos presos dentro do cérebro.

            Os romanos cunharam o termo lunático, pessoa influenciada pela lua, aluada, excêntrico. Diz-se de quem tende a divagar ou vive no mundo da lua. Tem como exemplo diversos imperadores, principalmente Calígula que chegou a dar o título de senador ao seu cavalo e mandou matar a própria mãe.

            O tratamento cristão das pessoas edemoniadas, possuídas por espíritos malignos, mostra um paradoxo. Enquanto Jesus conseguia curar essas pessoas com a simples imposição das mãos, os seus seguidores na idade média colocava essas pessoas na fogueira, o espirito do fogo do inferno era combatido com igual veneno, o fogo das fogueiras que consumiam suas carnes.

            No século XVI foi adotado a sangria, pois acreditava-se que nos fluidos vitais dos indivíduos se abrigava as enfermidades. Foi um tratamento que se tornou popular entre os médicos, que podiam usar também as ventosas para formar bolhas que deveriam ser perfuradas em seguida.

            Também foi usada uma cadeira giratória que produzia a força centrífuga necessária para deslocar esses fluidos nocivos do centro do corpo para a periferia, para os membros, onde, supostamente, eles não poderiam causar tantos efeitos.

            No século XVII surgiram os manicômios, uma instituição que até hoje, apesar das críticas, continua existindo. São três as instituições que podem abrigar os doentes mentais: o primeiro, o manicômio, é o local onde ficam em grande número, colocados por determinação judicial, sem a autoridade médica para dar alta. Atualmente existem os Hospitais de Custódia para fazer esse serviço. A segunda instituição é o asilo, local que ficam os doentes mentais que não tem para onde ir, sem referência familiar e muitas vezes sem raciocínio para conduzir suas vidas. Atualmente existem as Residências Terapêuticas para cumprir essa função. E a terceira instituição é o Hospital Psiquiátrico, responsável para acolher a pessoa doente mental em crise, controlar a urgência e retornar a pessoa à comunidade ou a outra instituição após um prazo de até 30 dias. Infelizmente, por incapacidade do Estado suprir a comunidade com as instituições necessárias, o Hospital Psiquiátrico continua a abrigar pacientes com características asilares e manicomiais, independente da vontade dos seus funcionários, e por isso continua a ser, injustiçadamente, criticado por isso.

            Nesses manicômios, enormes, os doentes ficavam, sem outra alternativa, muitas vezes amarrados ou trancados em celas. Uma ação mais humanitária foi vista no final do século XVIII, no ano de 1795 com Philippe Pinel, na França, no Manicômio da Salpêtrière, onde ordenou que os loucos fossem retirados das correntes e das celas fortes.

            No século XIX, com a publicação em 1801 do livro “Tratado médico filosófico sobre a alienação mental ou mania”, tem início a Psiquiatria moderna. Pinel foi o primeiro a classificar as diferentes formas de psicose e sintomas como alucinações, ausências, delírios e outros. Aboliu tratamentos como cárceres, sangrias, surras e banhos frios, propondo o tratamento humanizado e amigável do paciente.

            Mas continuava a procura de uma forma de tratar os transtornos mentais. Franz Mesmer defendia que se podia canalizar a energia mental do paciente através dos olhos, deixando o paciente em transe. Foi criado o Mesmerismo, ou Magnetismo Animal.

            Jean Charcot deu maior credibilidade ao transe magnético criando a Hipnose que fazia desaparecer sintomas histéricos de conversão (paralisia, movimentos automáticos, cegueira, etc.). Explorava os pensamentos mais profundos do paciente e os sintomas desapareciam enquanto durava o transe. Como conclusão, os sintomas eram aparentemente neurológicos, mas a doença não era somática.

            Um dos alunos de Charcot, Sigmund Freud, percebeu que não era necessário a hipnose para atingir os problemas mais profundos do paciente. Desenvolveu um método de ouvir o paciente que ficava deitado num divã e suas respostas a estímulos desencadeados pelo terapêutica, em associação de ideias, e iria construindo uma verdade que estava registrada no inconsciente. Assim, concluiu que a gênese da doença estava no psiquismo e que tinha origem nos primeiros anos de vida. Desenvolveu os construtos de id, ego e superego, e também do consciente, subconsciente e inconsciente. Deu o nome de Psicanálise a esse trabalho pelo qual trazia à consciência do doente, o psíquico que há recalcado nele.

            Mesmo assim, a Psicanálise servia para quem tinha tempo e dinheiro para investir. As demais pessoas, a massa da população, não tinha acesso e continuava as tentativas de encontrar uma forma de controle dos seus sintomas. Continua a hidroterapia para levar conforto ou o similar a uma bofetada como forma de impactar o paciente.

            No século XX, 1917, descobriu-se que a introdução de vírus atenuados da malária, outra doença grave e fatal, era capaz de curar devido a febre elevada que gerava, os doentes de sífilis que atingiam o estágio terciário da doença, demenciavam e caminhavam para a morte. Foi a primeira vez que se conseguia um sucesso no campo da biologia. Isso fez os pesquisadores olhar para outras possibilidades, e verificou-se que paciente epilépticos que sofriam de convulsões não apresentavam a mesma estatística de psicoses que se observam nos pacientes que não sofriam convulsões. Então se procurou desenvolver convulsões nos pacientes psicóticos com substâncias como Insulina e Cardiazol. Foi atingido o sucesso na cura desses pacientes graves, principalmente os depressivos, mas a letalidade do procedimento era alta. Na procura de deixar o método mais seguro se chegou à Eletroconvulsoterapia (ECT) que trouxe maior sucesso, mas também maior número de abusos. Era usado em alguns serviços como método de castigo e da orientação terapêutica de ser aplicada um número ideal de 12 sessões, chegava-se a um número exorbitante de 300 sessões, com graves prejuízos ao cérebro do paciente. Também em países como a Rússia comunista foi usada como método de tortura em presos políticos, o que causou punições nos médicos que faziam o procedimento.

            Outros estudos continuavam sendo feitos, como aqueles de Franz Gall que mapeou o crânio no estudo das protuberâncias para diagnosticar diversas doenças ou tendências mentais. Não era ainda o correto mas se estava trilhando o caminho certo. Um acidente com um funcionário de ferrovia, que trabalhava instalando trilhos com o uso de dinamite, teve um acidente e o bastão de aço atravessou o seu crânio destruído a área frontal do cérebro. Após sua recuperação descobriu-se que ele havia mudado a personalidade e comportamento. Então foi imaginado que o mesmo poderia ser feito com pacientes mentais para melhorar o seu comportamento. Egas Moniz desenvolveu a técnica da Lobotomia que teve bastante sucesso e por ser econômica frente a internação do paciente em hospitais, foi usada em larga escala e o seu autor foi laureado com o prêmio Nobel de Medicina.

            Felizmente, chegamos à época dos psicofármacos com o uso da Clorpromazina em 1952, que promoveu, sem decretos oficiais, uma verdadeira desocupação dos hospitais. Foi seguida por outras substâncias que colocaram definitivamente a psiquiatria dentro do contexto médico, com o estudo das neurociências, principalmente da neuroquímica.

            Atualmente, apesar dos avanços da psicofarmacologia e das técnicas de psicoterapias, ainda nos debatemos com a insuficiência dos serviços e de uma resposta definitiva sobre o mecanismo de ação que gera a doença mental.

            Uma perspectiva promissora no futuro é a associação do mundo material com o mundo espiritual e a aplicação pratica do Evangelho ou qualquer outro livro sagrado que oriente para as ações do amor, na terapia individual, familiar ou grupal dos pacientes.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 20/10/2017 às 00h59