A busca da Verdade sempre está contaminada por mentiras ou falsas narrativas de quem deseja alcançar algum benefício com isso, que por ser distante da Verdade, tem sempre o caráter negativo frente a Justiça de Deus, quer sejam essas falsas narrativas feitas de mentiras conscientes ou inconscientes.
Até agora, quase todos os historiadores da igreja romana acreditam que a Doutrina da Reencarnação foi declarada herética durante o Concílio de Constantinopla em 553 d.C., atual Istambul, na Turquia. No entanto, a condenação da Doutrina se deve a uma ferrenha oposição pessoal do imperador Justiniano, que nunca esteve aos protocolos do Concílio.
Segundo Procópio, uma mulher de nome Teodora, filha de um guardador de ursos do anfiteatro de Bizâncio, era a ambiciosa esposa de Justiniano, e na realidade, era quem manejava o poder. Ela, como cortesã, iniciou sua rápida ascensão ao Império. Para se libertar de um passado que a envergonhava, ordenou, mais tarde, o expurgo de quinhentas antigas “colegas” e, para não sofrer as consequências dessa ordem em outra vida como preconiza a lei do Carma, empenhou-se em suprimir toda a magnífica Doutrina da Reencarnação. Estava confiante no sucesso dessa anulação, decretada por Justiniano, “em nome de Deus”!
Em 543 d.C., o déspota imperador Justiniano, sem levar em conta o ponto de vista clerical, declarou guerra frontal aos ensinamentos de Orígenes (exegeta e teólogo, 185-235 d.C.), condenando tais ensinamentos através de um sínodo especial.
Em suas obras: De Principiis e Contra Celsum, Orígenes tinha reconhecido, abertamente, a existência da alma antes do nascimento e sua dependência de ações passadas. Ele pensava que certas passagens do Novo testamento poderiam ser explicadas somente à luz da Reencarnação.
Do Concílio convocado por Justiniano só participaram bispos do oriente (ortodoxos). Nenhum de Roma. E o próprio Papa, que estava em Constantinopla nesta ocasião, deixou isso bem claro.
O Concílio de Constantinopla, o quinto dos Concílios, não passou de um encontro, mais ou menos em caráter privado, organizado por Justiniano, que, mancomunando com alguns vassalos, excomungou e maldisse a doutrina da preexistência da alma, com protestos do Papa Virgílio, e a publicação de seus anátemas.
Embora estivesse em Roma naquela época, o Papa Virgílio sequestrado e mantido prisioneiro de Justiniano por oito anos, recusou-se a participar deste Concílio, quando Justiniano não assegurou o mesmo quórum de bispos representantes do leste e do oeste.
Uma vez convocado, o Concílio só incluiu 165 bispos da Cristandade em sua reunião final, dos quais 159 eram da Igreja oriental. Tal fato garantiu a Justiniano todos os votos de que precisava.
A conclusão oficial que o Concílio chegou após uma discussão de quatro semanas teve que ser submetida ao Papa para ratificação. Na verdade, os documentos que lhes foram apresentados (os assim chamados “Três Capítulos”) versavam apenas sobre a disputa a respeito de três eruditos que Justiniano, há quatro anos, havia por edito (decreto) declarado heréticos. Os papas seguintes, Pelágio I (556 – 561), Pelágio II (579 – 590) e Gregório (590 – 604), quando se referiram ao quinto Concílio, nunca tocaram no nome de Orígenes.
A Igreja teve alguns concílios tumultuados, mas parece que o V Concílio de Constantinopla II (553) bateu o recorde em matéria de desordem e mesmo de desrespeito aos bispos e ao próprio Papa Virgílio, papa da época.
Muitos inconformados alegam que esse Concílio não tratou da Reencarnação, e por isso a Igreja nunca esteve envolvida com tal princípio. Porém a verdade é que, os seus Cânons (Regra geral de onde se inferem regras especiais) do Magistério relacionado a este evento, mais especificamente o seu Cânon 11, trata da condenação das teses de Orígenes e suas referências à preexistência da alma. Vejamos uma versão em espanhol dessa parte decisória do Supremo Pontificado:
Magistério del C.E II de Constantinopla
(Em parte idênticos com la Homologia del Emperador, del año 551)
Can. 11. Si alguno no anatemiza a Arrio, Eunomio, Macedonio, Apolinar, Nestorio, Eutiques y Orígenes, juntamente com seus ímpios escritos, y a todos los demás hereges, condenados por la santa Iglesia Católica y Apostólica y por los quatro antedichos santos Concílios, y a los que han pensado o piensan como los antedichos herejehereges permanecieron hasta el fin em su impiedade, ese tal sea anatema.
Aí está: o Cânon 11 (Regra geral de onde se inferem regras especiais) condenando Orígenes e suas teses da preexistência da alma. Ora, a preexistência do espírito com relação ao vivificado por ele, é a base fundamental para a Teoria da Reencarnação, pois que, ao admitirmos o reencarne de um espírito, automaticamente estamos admitindo que ele já encarnou antes, pelo menos uma vez que seja.
Justiniano presidiu esse Concílio. Era um teólogo que queria saber mais de Teologia do que o Papa. Sua mulher, a imperatriz Teodora, foi uma cortesã e se imiscuía nos assuntos do governo do seu marido, e até nos de Teologia. Houve, portanto, a condenação da Doutrina da Preexistência, o que, “ipso facto”, condenou também a reencarnação, pois não existe reencarnação sem a preexistência do Espírito.
Observamos assim como o interesse materialista e preconceituoso de uma pessoa, e que detém o poder no momento, pode direcionar o pensamento e práticas espirituais. Mas o que nos deixa mais perplexos é que, essa história também conhecida pelos Teólogos e doutores da Lei, não foi corrigida e até hoje deixa a cristandade acreditar e a se comportar como se a preexistência das almas fosse heresia, como desejava a imperatriz Teodora que influenciou o seu marido, imperador Justiniano.
Mas, por mais que a mentira seja “poderosa” e consiga cobrir o mundo, a Verdade sempre emergirá, e as almas livres e conscientes podem percebê-la e, quiçá, tenham coragem para justifica-la em público.