29-12-2017
O espírito Humberto de Campos escreve sobre um episódio acontecido entre o apóstolo Bartolomeu com Jesus que vale trazermos à reflexão...
O apóstolo Bartolomeu foi um dos mais dedicados discípulos do Cristo, desde os primeiros tempos de suas pregações, junto ao Tiberíades. Todas as suas possibilidades eram empregadas em acompanhar o Mestre, na sua tarefa divina. Entretanto, Bartolomeu era triste e, vezes inúmeras, o Senhor o surpreendia em meditações profundas e dolorosas.
Foi talvez, por isso que, uma noite, enquanto Simão Pedro e sua família se entregavam a inadiáveis afazeres domésticos, Jesus aproveitou alguns instantes para lhe falar mais demoradamente ao coração.
Após uma interrogativa afetuosa e fraternal, Bartolomeu deixou falasse o seu espírito sensível.
- Mestre – exclamou timidamente -, não saberia nunca explicar-vos o porquê de minhas tristezas amarguradas. Só sei dizer que o vosso Evangelho me enche de esperanças para o reino de luz que nos espera os corações, além, nas alturas... Quando esclarecestes que o vosso reino não é deste mundo, experimentei uma nova coragem para atravessar as misérias do caminho da Terra, pois, aqui, o selo do mal parece obscurecer as coisas mais puras!... Por toda parte, é a vitória do crime, o jogo das ambições, a colheita dos desenganos!...
A voz do apóstolo se tornara quase abafada pelas lágrimas. Todavia, Jesus fitou-o brandamente e lhe falou, com serenidade:
- A nossa doutrina, entretanto, é a do Evangelho ou da Boa Nova, e já viste, Bartolomeu, uma boa notícia não trazer alegria? Fazes bem, conservando a tua esperança em face dos novos ensinamentos; mas, não quero senão acender o bom ânimo no espírito dos meus discípulos. Se já tive ocasião de ensinar que o meu reino ainda não é deste mundo, isso não quer dizer que eu desdenhe o trabalho de estendê-lo, um dia, aos corações que morejam na Terra. Achas, então, que eu teria vindo a este mundo, sem essa certeza confortadora? O Evangelho terá de florescer, primeiramente, na alma das criaturas, antes de frutificar para o espirito dos povos. Mas, venho de meu Pai, cheio de fortaleza e confiança, e a minha mensagem há de proporcionar grande júbilo a quantos a receberem de coração.
Depois de uma pausa, em que o discípulo o contemplava silencioso, o Mestre continuou:
- A vida terrestre é uma estrada pedregosa, que conduz aos braços amorosos de Deus. O trabalho é a marcha. A luta comum é a caminhada de cada dia. Os instantes deliciosos da manhã e as horas noturnas de serenidade são os pontos de repouso; mas, ouve-me bem: na atividade ou no descanso físico, a oportunidade de uma hora, de uma leve ação, de uma palavra humilde, é o convite do nosso Pai para que semeemos as suas bênçãos sacrossantas. Em geral, os homens abusam desse ensejo precioso para anteporem a sua vontade imperfeita aos desígnios superiores, perturbando a própria marcha. Daí resultam as mais ásperas jornadas obrigatórias para retificação das faltas cometidas e muitas vezes infrutíferos labores. Em vista destas razões, observamos que os viajores da Terra estão sempre desalentados. Na obcecação de sua vontade própria, ferem a fronte nas pedras da estrada, cerram os ouvidos à realidade espiritual, vendam os olhos com as sombras da rebeldia e passam em lágrimas, em desesperadas imprecações e amargurados gemidos, sem enxergarem a fonte cristalina, a estrela caridosa do céu, o perfume da flor, a palavra de um amigo, a claridade das experiências que Deus espalhou, para a sua jornada, em todos os aspectos do caminho.
Houve um pequeno intervalo nas considerações afetuosas, depois do que, sem mesmo perceber inteiramente o alcance de suas palavras, Bartolomeu interrogou:
- Mestre, os vossos esclarecimentos dissipam os meus pesares; mas o Evangelho exige de nós a fortaleza permanente?
- A verdade não exige: transforma. O Evangelho não poderia reclamar estados especiais de seus discípulos; porém, é preciso considerar que a alegria a coragem e a esperança devem ser traços constantes de suas atividades em cada dia. Por que nos firmamos no pesadelo de uma hora, se conhecemos a realidade gloriosa da eternidade com o Nosso Pai?
- E quando os negócios do mundo nos são adversos? E quando tudo parece em luta contra nós? – perguntou o pescador, de olhar inquieto.
Jesus, todavia, como se percebesse, inteiramente, a finalidade de suas perguntas, esclareceu com bondade:
- Qual o melhor negócio do mundo, Bartolomeu? Será a aventura que se efetua a peso de ouro, muita vez amordaçando-se o coração e a consciência, para aumentar as preocupações da vida material, ou a iluminação definitiva da alma para Deus, que se realiza tão-só pela boa vontade do homem, que deseje marchar para o seu amor, por entre as urzes do caminho? Não será a adversidade nos negócios do mundo um convite amigo para a criatura semear com mais amor, um apelo indireto que a arranque às ilusões da Terra para as verdades do Reino de Deus?
Bartolomeu guardou aquela resposta no coração, não, todavia, sem experimentar certa estranheza. E logo, lembrando-se de que sua genitora partira, havia pouco tempo, para a sombra do túmulo, interpelou ainda, ansioso:
- Mestre, não será justificável a tristeza quando perdemos um ente amado?
- Mas, quem estará perdido, se Deus é o Pai de todos nós?... Se os que estão sepultados no lodo dos crimes hão de vislumbrar, um dia, a alvorada da redenção, por que lamentarmos, em desespero, o amigo que partiu ao chamado do Todo-Poderoso? A morte do corpo abre as portas de um mundo novo para a alma. Ninguém fica verdadeiramente órfão sobre a Terra, como nenhum ser está abandonado, porque tudo é de Deus e todos somos seus filhos. Eis porque todo discípulo do Evangelho tem de ser um semeador de paz e de alegria!...
Este diálogo nos traz boas perspectivas de nosso futuro, da resposta sempre frequente do “para onde vamos?” Jesus mostra que o Reino de Deus já está disponível para todos que desejam cumprir o projeto de vida que o Pai articulou para nós. Absorvemos as lições que ensinam a agir sempre com amor, de cultivar as virtudes, de limpar o coração de todo o egoísmo, para assim nos capacitar a ser cidadãos deste Reino. As dificuldades ou problemas que surgem ao nosso redor, significam tarefas a ser cumpridas dentro desse projeto vital. Fazendo assim, iremos nesta jornada acompanhado de amigos e irmãos, com a solidariedade recíproca, sem nenhuma reclamação quanto os problemas que nos acometem... sabemos que é para o nosso crescimento e pureza espiritual!