Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
01/01/2018 01h02
APROVEITAMENTO DE LIÇÕES EVANGÉLICAS

30-12-2017

            Fico sempre curioso com a displicência da maioria dos cristãos quanto as lições evangélicas. As lições do Cristo são lidas e compreendidas, são tidas como lógicas e necessárias ao nosso crescimento espiritual, já que a nossa verdadeira pátria é no mundo espiritual. Então, essas lições nos capacitam a entrar nesse mundo espiritual com uma boa bagagem de virtudes, que nos deixam como mensageiros da paz e fraternidade por onde tivermos de andar. Portanto, deveríamos fazer um esforço maior para cumpri-las.

            No relato do dia anterior que registrei aqui neste diário, observamos a clareza das lições dadas por Jesus a Bartolomeu. Mas será que ele aproveitou essas lições dentro de suas ações cotidianas? Uma vez que ele era um discípulo assíduo de Jesus, mas sempre andava triste e amargurado com tantas dificuldades ao seu redor? Será que as lições de Jesus foram capazes de provocar alterações na sua forma de se comportar? É isso que iremos descobrir agora, fazendo a transcrição da última fase do trabalho de Humberto de Campos:

            ...

            Jesus entrou em silêncio, como se houvera terminado a sua exposição judiciosa e serena.

            E, pois que a hora já ia adiantada, Bartolomeu se despediu. O olhar do Mestre oferecia ao seu, naquela noite, uma luz mais doce e mais brilhante; suas mãos lhe tocaram os ombros, levemente, deixando-lhe uma sensação salutar e desconhecida.

            Embora nascido em Caná da Galileia, Bartolomeu residia, então, em Dalmanuta, para onde se dirigiu, meditando gravemente nas lições que havia recebido. A noite pareceu-lhe formosa como nunca. No alto, as estrelas se lhe afiguravam as luzes gloriosas do palácio de Deus à espera de suas criaturas, com hinos de alegria. As águas do Genezaré, aos seus olhos, estavam mais plácidas e felizes. Os ventos brandos lhe sussurravam ao entendimento cariciosas inspirações, como um correio delicado que chegasse do céu.

            Bartolomeu começou a recordar as razões de suas tristezas intraduzíveis, mas, com surpresa, não mais as encontrou no coração. Lembrava de haver perdido a afetuosa genitora; refletiu, porém, com mais amplitude, quanto aos desígnios da Providência Divina. Deus não lhe era pai e mãe nos céus? Recordou os contratempos da vida e ponderou que seus irmãos o aborreciam e caluniavam. Entretanto, Jesus não lhe era um irmão generoso e sincero? Passou em revista os insucessos materiais. Contudo, que eram suas pescarias ou a avareza dos negociantes de Betsaída e de Cafarnaum, comparados à luz do Reino de Deus, que ele trabalhava por edificar no coração?

            Chegou a casa pela madrugada. Ao longe, os primeiros clarões do Sol lhe pareciam mensageiros ao conforto celestial. O canto das aves ecoava em seu espírito como notas harmoniosas de profunda alegria. O próprio mugido dos bois apresentava nova tonalidade aos seus ouvidos. Sua alma estava agora clara; o coração, aliviado e feliz.

            Ao ranger os gonzos da porta, seus irmãos dirigiram-lhe impropérios, acusando-o de mal filho, de vagabundo e traidor da lei. Bartolomeu, porém, recordou o Evangelho e sentiu que só ele tinha bastante para dar a seus irmãos. Em vez de reagir asperamente, como de outras vezes, sorriu-lhes com a bondade das explicações amigas. Seu velho pai o acusou, igualmente, escorraçando-o. O apóstolo, no entanto, achou natural. Seu pai não conhecia a Jesus e ele O conhecia. Não conseguindo esclarecê-los, guardou o bem do silêncio e achou-se na posse de uma alegria nova. Depois de repousar alguns momentos, tomou as suas redes velhas e demandou sua barca. Teve para todos os companheiros de serviço uma frase consoladora e amiga. O lago como que estava mais acolhedor e mais belo; seus camaradas de trabalho, mais delicados e acessíveis. De tarde, não questionou com os comerciantes, enchendo-lhes, aliás, o espírito de boas palavras e de atitudes cativantes e educativas.

            Bartolomeu havia convertido todos os desalentos num cântico de alegria, ao sopro regenerador dos ensinamentos do Cristo; todos o observaram com admiração, exceto Jesus, que conhecia, com júbilo, a nova atitude mental de seu discípulo.

            No sábado seguinte, o Mestre demandou às margens do lago, cercado de seus numerosos seguidores. Ali, aglomeravam-se homens e mulheres do povo, judeus e funcionários de Ântipas, a par de grande número de soldados romanos.

            Jesus começou a pregar a Boa Nova e, a certa altura, contou, conforme a narrativa de Mateus, que – “o reino dos céus é semelhante a um tesouro que, oculto num campo, foi achado e escondido por um homem que, movido de gozo, vendeu tudo o que possuía e comprou aquele campo”.

            Nesse instante, o olhar do Mestre pousou sobre Bartolomeu que o contemplava embevecido; a luz branda de seus olhos generosos penetrou fundo no íntimo do apóstolo, pela ternura que evidenciava, e o pescador humilde compreendeu a delicada alusão do ensinamento, experimentando a alma leve e satisfeita, depois de haver alijado todas as vaidades de que ainda não se desfizera, para adquirir o tesouro divino, no campo infinito da vida.

            Enviando a Jesus um olhar de amor e reconhecimento, Bartolomeu limpou uma lágrima. Era a primeira vez que chorava de alegria. O pescador de Dalmanuta aderira, para sempre, aos eternos júbilos do Evangelho do Reino.

            Excelente lição de aproveitamento do Evangelho. É um tesouro que temos nas mãos, que podem nos dar o passaporte para o Reino de Deus, a partir do momento que assim quisermos... depende de cada um de nós!

Publicado por Sióstio de Lapa
em 01/01/2018 às 01h02